Grêmio ironiza racismo no Inter: ‘Os 500 anos de escravidão já recaíram sobre nós’

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Um suposto caso de racismo no Beira-Rio na última quarta-feira contra o lateral Fabrício, do Internacional, pode virar caso de investigação no STJD. A entidade já avisou que irá analisar as imagens de um vídeo compartilhado nas redes sociais que mostra injúria racial vinda das arquibancadas contra o atleta colorado. Mas o arquirrival Grêmio vê omissão na cobertura do tema e ironiza: “Os 500 anos de escravidão já recaíram sobre nós”.

Em entrevista ao ESPN.com.br na tarde desta sexta-feira, o diretor jurídico do Grêmio, Nestor Hein, não crê em punição para o Inter, detonou o acompanhamento da mídia gaúcha no caso colorado e comparou ao que ocorreu com o time tricolor em 2014, quando uma injúria racial ao então santista Aranha vinda de um torcedor gremista virou julgamento no STJD que até excluiu o clube da Copa do Brasil.

“A minha opinião é a seguinte: não tem que ser punido, pois só existe racismo no Grêmio. O Grêmio tem todo o racismo do Brasil e a punição exemplar já foi em cima do Grêmio. Um atestado de vergonha. O único clube no mundo punido por racismo. E o racismo acabou por força daquela decisão, tudo isso que estamos vendo é ilusão de ótica! Nunca mais aconteceu e nem acontecerá. Não existe racismo em outros times. Não vai acontecer nada com o Inter. O Grêmio já foi punido no que foi a maior vergonha da história do futebol. A mancha do racismo já pertence ao Grêmio”, ironizou o dirigente, que vê omissão da imprensa local.

“Em relação a esse tema do Inter, os jornalistas gaúchos com alguma ligação com o Grêmio que tocaram no assunto foram espancados, pois os demais se negam a admitir que aconteceu alguma coisa. Então está tudo recaindo em cima do Grêmio. A culpa dos 500 anos de escravidão é do Grêmio, pois o Grêmio é um clube popular que ficou estigmatizado como racista. Quando são outros clubes não existe o mesmo rigor”, continuou.

Na última quarta-feira, o lateral Fabrício surtou em duelo contra o Ypiranga. Vaiado pela torcida, se revoltou, fez gestos obscenos às arquibancadas, foi expulso e jogou a camisa colorada no chão, prometendo ir embora do clube. E, agora, surgiram denúncias de que um torcedor do Inter xingou o jogador de “macaco”, a exemplo do que ocorreu com Aranha e um gremista no ano passado. O STJD promete analisar as imagens. O Grêmio, no entanto, não crê que o tratamento esteja sendo igual desta vez.

Torcedora do Grêmio pede desculpas a Aranha: 'Perdão, perdão, perdão mesmo'© Reprodução ESPN Torcedora do Grêmio pede desculpas a Aranha: ‘Perdão, perdão, perdão mesmo’

“Pelo tratamento que a mídia gaúcha dá aqui, racismo só acontece no Grêmio. Para a imprensa gaúcha isso não existiu. O racismo só existe no Grêmio, não há a menor possibilidade de isso acontecer em outros clubes. Só sobrou para o Grêmio, e a imprensa se nega a comentar o caso. Não aconteceu nada agora! Quando o Grêmio foi prejudicado falavam 24 horas por dia, por 30 dias seguidos nos programas de rádio, e agora não vejo nem uma linha nos jornais gaúchos”, definiu Nestor Hein.

“Quando o Grêmio foi punido, o Aranha foi intitulado como Martin Luther King. Provavelmente o Fabrício, que é um menino que tem problemas pessoais e passou por um momento de destempero na quarta-feira, será quem, nem o Negrinho do Pastoreiro? Quem será o Fabrício depois desse episódio? Pois o brasileiro, para consertar o país, colocou a punição do racismo no Grêmio, e isso não tem volta, acompanhará o Grêmio para sempre”, acrescentou o dirigente.

A gremista Patrícia Moreira, flagrada pelas câmeras de TV em ato de injúria racial contra Aranha no ano passado, sofreu até processo criminal, foi demitida do trabalho e teve sua casa incendiada em Porto Alegre. Hoje, vive escondida com medo de represálias. E Nestor Hein lembrou da torcedora. “A moça que teve esse fato lamentável com o Aranha é mais escurraçada aqui no Sul do que estuprador. Tentaram queimar a casa dela. Não tem pena perpétua, por mais grave que seja o crime que ela cometeu, mas ela tem. Um estuprador tem mais moral que ela por aqui”.

Após aparecer em vídeo nas redes sociais xingando o lateral Fabrício no duelo da última quarta, o colorado Vinicius Paixão, no entanto, em entrevista ao Zero Hora, nega ter chamado o atleta de “macaco”. “Eu falei “vai tomar no c…, cara…”. Sou tão negro como Fabrício. Não faria sentido”, disse o torcedor.

O Grêmio, por sua vez, acredita em um “silêncio sepulcral” da mídia na cobertura do caso Fabrício.

“Essa desgraça aconteceu com o Grêmio e a imprensa gaúcha teve um papel lamentável por condenar o Grêmio, mas com o Internacional se nega a discutir o assunto. O fato simplesmente não existiu. Ocorreu um processo de revisão histórica com o que houve com o Grêmio e agora uma amnésia coletiva, como se nada tivesse acontecido com o Inter. No Sul há dois assuntos proibidos: racismo se não for no Grêmio e questões ligadas à arbitragem. Para 90% da mídia gaúcha a arbitragem não faz parte do espetáculo e o erro não deve ser discutido. Claro, ressalvando exceções, sempre tem pessoas com consciência que procuram fazer um bom trabalho, mas com a maioria eu vejo um silêncio sepulcral”, afirmou o diretor gremista, fazendo ressalvas.

“São poucas exceções. A defesa mais emocionante veio de um jornalista colorado chamado Flávio Tavares, que defendeu a instituição Grêmio, não o fato em si que ocorreu de injúria racial, que de fato ocorreu. Mas todos os torcedores do Grêmio, negros, brancos, amarelos, todos ficaram na vala comum do racismo. Poucas pessoas nos defenderam e agora acontece o contrário, as pessoas se negam a aceitar que o racismo é questão de educação e acontece em vários setores, não é culpa de alguém. No caso do Grêmio foi diferente”, concluiu Nestor Hein.

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