Cem acadêmicos indígenas, de 32 etnias diferentes, concluíram mais uma etapa do seu processo de graduação na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). Durante todo o mês de janeiro, os alunos se reuniram em Barra do Bugres para as aulas presenciais dos cursos de licenciatura em Pedagogia Intercultural; Línguas, Artes e Literatura, Ciências Sociais e Ciências da Matemática e da Natureza na Escola Agrícola de Barra do Bugres. Nos próximos meses estarão em suas aldeias, onde já atuam como professores e serão acompanhados pela equipe da Unemat.
O projeto é pioneiro na América Latina. Para entrar na Universidade, os índios têm de passar por um processo de seleção e também são aprovados pela comunidade em que vivem, porque passarão a desempenhar um papel de liderança na aldeia. É o caso do acadêmico Marcelo Munduruku, que pretende se especializar na área das artes indígenas. “Este momento representa uma grande vitória, porque ficamos mais próximo dos nossos sonhos. Na aldeia nós representamos um papel ímpar, a gente se torna um ícone, uma liderança, inclusive para os futuros professores. Até mesmo pela formação intercultural que nós temos aqui”.
O diretor de Gestão de Educação Indígena da Unemat, Wellington Quintino, destaca justamente esse intercâmbio de culturas. “O fato de nós termos 32 etnias diferentes aqui representa um grande orgulho para nós. São etnias que nunca se encontram e aqui eles podem interagir, é uma forma de encurtar as distâncias”.
“Aqui nós encontramos algo diferente nas salas de aula. Todos os alunos prestam atenção e participam. Nós não precisamos chamar a atenção de ninguém, porque eles reconhecem a importância desta etapa para a vida deles”, contou a professora, doutora em linguística, Marília Facco, ao completar ainda que "os acadêmicos que se formarão em 2015, são um exemplo pela sua dedicação aos estudos".
O reitor da Unemat, Adriano Silva, diz que o desejo é que esse projeto avance cada vez mais. Ele lembra que até hoje, a Universidade já formou 300 acadêmicos e também tem oferecido cursos de pós-graduação para os indígenas. O secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Rafael Bastos, destacou que o Governo do Estado tem o compromisso de oferecer educação de qualidade para os povos indígenas.
O secretário de Estado de Educação, Ságuas Moraes, disse que Mato Grosso é o Estado que, proporcionalmente, mais forma professores de 3º grau indígena. Ele também falou que atualmente o estado tem 69 escolas indígenas e que todas devem estar reformadas até o final do ano, por determinação do governador Silval Barbosa.
A cerimônia ainda contou com apresentações culturais dos alunos e a premiação para o torneio de futebol organizado pelos acadêmicos, vencido pelos xinguanos. A execução dos cursos é feita a partir de uma parceria entre o Governo do Estado, através da Seduc e Secitec, pela prefeitura de Barra do Bugres e pela Fundação Nacional do Índio. Em Julho, os índios voltam para a Escola, para outra etapa presencial.