Fazenda com área igual a SP vai a leilão

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A Gazeta


Localizada no município de Comodoro, em Mato Grosso, uma propriedade de 135 mil hectares – equivalente à área urbana da cidade de São Paulo – e entrecortada por 420 km de estradas será leiloada em agosto.

É a “maior e mais valiosa propriedade” da Massa Falida de Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A. e Coligadas, na definição do administrador judicial, Gustavo Sauer. Avaliada em R$ 511 milhões, a área foi dividida em 31 lotes de 1,5 mil a 8 mil hectares cada, e será ofertada em um leilão híbrido, que segundo o promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Eronides Aparecido Rodrigues dos Santos, é o maior leilão do gênero já realizado no país.

A área a ser leiloada é apta ao cultivo de soja e milho e também à pecuária, com áreas de conservação previstas na legislação ambiental.

Esta não é a 1ª vez que a propriedade é colocada à venda, admite Sauer. Mas agora, para ampliar a base de potenciais arrematantes foi feito um estudo minucioso e a divisão racional da área com apoio técnico especializado, completa o administrador.

“Dessa forma, vamos ampliar o número de interessados, embora a preferência seja vendê-la como um todo. Inclusive haverá condições especiais para quem tiver interesse em arrematar na totalidade”. O síndico da Massa Falida afirma que a propriedade tem despertado o interesse prévio no leilão.

Quanto ao valor da avaliação, ele diz que foi atualizado e incorporou o deságio do mercado. Além da propriedade de 135 mil hectares, serão leiloados outros 17 lotes remanescentes de um condomínio, com 200 hectares cada um.

Desde que foi decretada a falência do grupo Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A, em 2004 – a concordata remete a 2001, quando ainda vigorava a Lei de Falência e Concordata (Lei 7661/1945) e que foi atualizada pela Lei de Falências e Recuperações Judiciais (Lei 11.101) em junho de 2005 – foram vendidas 9 propriedades, com ágio, relata o administrador judicial.

“Nós arrecadamos (com essas negociações) na Massa Falida acima de R$ 150 milhões”. Além de duas fazendas em São Paulo – uma delas considerada “vitrine”, com heliponto, fiação subterrânea e vias internas asfaltadas – havia as outras espalhadas por Mato Grosso, situadas nos municípios de Chapada dos Guimarães, Cáceres, Lambari D’Oeste, Porto Esperidião, Salto do Céu e Barra do Bugres, bem como fazendas arrendadas.

“Teremos também em Nova Bandeirantes uma área, em torno de 50 mil hectares, preservada, que servirá de compensação ambiental. Faremos os estudos do ICMBio para incentivar a compensação”, revela Sauer.

Os credores da Massa Falida totalizam 30 mil, sendo que 99,5% deles são investidores, ludibriados pela promessa de retorno financeiro acima da média do mercado e num curto espaço de tempo (cerca de 42% em 18 meses, referente ao lucro da venda do boi engordado).

“São pessoas que caíram no golpe da pirâmide financeira. Compraram contratos de investimento que ofereciam rendimentos muito superiores ao do mercado”, complementa o síndico. Como não havia opções compatíveis às condições “asseguradas” pela Boi Gordo, muitos investidores reaplicavam.

De acordo com o administrador judicial, mais de 70% dos investidores aportaram acima de R$ 40 mil. “Era um pessoal que foi realmente iludido, porque a Boi Gordo tinha um marketing muito forte”. Tanto que o fundador da empresa, Paulo Roberto de Andrade, ganhou projeção nacional e inspirou novela na década de 90, ambientada em suas propriedades.

Em 2003, ele deixou o comando das empresas ao negociar o controle com o grupo Golin, que passou a responder pelos prejuízos aos credores.

Dos quase R$ 4 bilhões devidos foram liquidados os débitos com credores trabalhistas (R$ 80 milhões). Ainda este ano será quitada a dívida com os credores fiscais, estimada em R$ 50 milhões, afirma o síndico.

O saldo remanescente resultante da venda da área em Comodoro será revertido em favor dos investidores da Boi Gordo S.A. Segundo o administrador judicial, o passivo não representa o aporte realizado pelos credores, já que muitos reinvestiram.

Há 2 anos, a fazenda “modelo” (Fazenda Realeza) em São Paulo foi negociada por R$ 25 milhões. A outra, também no estado paulista, foi desapropriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Por meio de um acordo, a propriedade foi negociada para fins de reforma agrária. “Foi oferecido o valor correspondente à avaliação da Massa Falida, de R$ 5 milhões. Quando se faz um acordo com o Incra – ou seja, não sendo litigioso -, se recebe com prazo menor e com juros superiores aos do mercado”, expõe Sauer. Sem acordo, o prazo para pagamento chega a 10 anos.

O processo da venda das propriedades em Mato Grosso é acompanhado de perto pelo promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Eronides Aparecido Rodrigues dos Santos. “Como a falência cria um concurso universal de credores, todos (os credores da massa falida) concorrem em igualdade de condições”.

Critérios do leilão

O leilão da área localizada em Comodoro está programado para o mês de agosto e será realizado em São Paulo, na forma online e presencial, como explica a representante da LUT, empresa responsável pela venda, Fernanda Alonso.

“Estamos inovando com um leilão híbrido, presencial e online, com duração de 23 dias”, detalha. “Desta vez haverá o leilão online desde o início, sendo a 1ª praça 100% eletrônica, com duração 3 dias, e a 2ª praça – leilão híbrido, presencial e online – com duração de 20 dias”.

Fernanda esclarece ainda que na 1ª praça o lote total será ofertado pelo valor absoluto da avaliação (R$ 511 milhões). Já o 2º leilão englobará o valor das 31 fazendas com deságio de 40%, estimado em cerca de R$ 300 milhões.

“Como deve ser mais disputado, talvez chegue ao valor inicial da avaliação (R$ 500 milhões)”, pondera. Se ainda assim a venda não se concretizar será aberto um 3º leilão em lotes individualizados, com cada uma das 31 fazendas ofertadas separadamente.

Os arrematantes poderão efetuar o pagamento em até 6 parcelas semestrais, sendo uma no ato da compra. O edital com as regras será divulgado no início de julho. Os interessados podem acompanhar pelo endereço eletrônico lut.com.br/boigordo.

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