Ex-mulher de alvo da PF diz: “Não tenho medo de morrer”

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A colunista social Kharina Nogueira é a responsável por gerar Operação Ararath


ISA SOUSA
DA REDAÇÃO

Desde que a Operação Ararath foi deflagrada pela Polícia Federal, em novembro de 2013, a colunista social Kharina Nogueira, de 37 anos, ganhou um título que não esperava: “arquivo vivo”. Ela é ex-mulher de Júnior Mendonça, considerado o epicentro de um esquema de lavagem de dinheiro em Mato Grosso.

A operação teve como base depoimentos de Kharina ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e à própria Polícia Federal. 

Até o momento dividida em cinco fases, a Ararath movimentou o cenário político no dia 20 de maio, quando o deputado estadual José Riva (PSD) e o ex-secretário de Estado de Fazenda Eder Moraes (PMDB) foram presos, e nomes como o do governador Silval Barbosa (PMDB) e do prefeito da Capital Mauro Mendes (PSB) foram citados como supostos beneficiados pelo esquema. 

A fase cinco da ação da Polícia Federal foi possível graças a delação premiada de Júnior, rebatida por Kharina ao MidiaNews.

Para ela, a delação foi restrita e “protegeu” a quem interessava a Júnior.

À reportagem, ela contou detalhes de sua relação afetiva com Júnior Mendonça, falou sobre os rumos da investigação e como sobrevive atualmente.

Confira os principais trechos:

MidiaNews – Quando e como você e o Júnior Mendonça se conheceram? 

Kharina Nogueira –
 Nós nos conhecemos em uma quinta-feira, dia 8 de janeiro de 2001. Eu era colunista social do jornal Folha do Estado e tinha um bar na Avenida Miguel Sutil que eu prestava um serviço de cobertura. Nesse dia, um colunista nos apresentou falando que aquele era o Júnior, do Rodão Pneus. Na ocasião, o próprio colunista me falou em um canto ‘afasta desse cara’. Só que no dia, dali saímos com um grupo de amigos e fomos para uma outra boate, ficamos todos juntos em um camarote do Josino Guimarães e ali começou a história. 

MidiaNews – E ele já tinha dinheiro naquela época?

Kharina Nogueira –
 Ele estava com um carro importado. Ponto. 

MidiaNews – E como culminou no casamento e, depois, em uma separação envolvendo a Derf? 

“Em 2003, o Júnior deu uma forçada e me pediu para que eu apresentasse a ele os melhores empresários de Cuiabá. Eu perguntei o motivo e ele falou que era para fomentar os negócios dele”


Kharina Nogueira –
 Nós passamos 2001 namorando. Eu terminei com ele e namorei depois o Fernando Mendonça [amigo pessoal de Júnior e também supostamente envolvido no esquema desbaratado pela Operação Ararath] durante alguns meses. Só que eu era bem apaixonada pelo Júnior e nós acabamos voltando e fomos morar juntos na cobertura do Maison Paris. Na sequência, dia 6 de novembro de 2004, formalizamos a nossa união. 

MidiaNews – Mas como você descobriu os esquemas do Júnior? Os negócios eram feitos no apartamento de vocês ou ele não escondia nada de você? 

Kharina Nogueira –
 Quando eu comecei com o Júnior ele era uma espécie de pedra que precisava polir. Ele tinha atrativos que combinavam muito comigo, gostava de músicas que eu gostava, programas que eu gostava e ele não me tolhia na questão de ser como eu gosto de ser. Quando foi no início de 2003, ele deu uma forçada e me pediu para que eu apresentasse a ele os melhores empresários de Cuiabá. Eu perguntei o motivo e ele falou que era para fomentar os negócios dele. Até 2002, veja bem, eu sabia que ele tinha a Rodão Pneus, antes Pneu Center. Aí eu descobri que ele agioatava e essa palavra “agiotagem” me lembrou na hora do meu pai falecido e não cabia no meu ouvido. Foi quando a gente terminou. Porque pra mim agiota, bandido e matador era tudo a mesma coisa. Depois ele explicou que trocava o faturamento das empresas, como bancos faziam, mas era um sistema menos burocrático e com a taxa um pouquinho maior, por volta de 15%. E eu apresentei empresários pra ele. 

MidiaNews – Quais empresários, por exemplo?

Kharina Nogueira –
 Vou citar um: o José Haroldo Ribeiro, do Grupo Santa Rita, onde ele mais colocou dinheiro. Ele girou em torno de R$ 8 milhões. 

Tony Ribeiro/MidiaNews

Traída: ao saber de vasectomia de Júnior, Kharina saiu de casa e voltou para investigar esquemas

MidiaNews – Mas voltando ao relacionamento de vocês, como foi a descoberta dos supostos esquemas operados pelo Júnior? 

Kharina Nogueira – 
Em março de 2006 eu descobri, depois de dois anos tentando engravidar e todo mundo sabendo, vendo, comemorando quando eu tinha sintomas de gravidez, que o Júnior tinha feito vasectomia. Eu fazia todos os exames possíveis, dava sempre tudo certo e não tinha nada que me impedisse de ser uma gestante, mesmo porque o Júnior tem três filhos, um de cada mulher. Um belo dia, almoçando em um local público com mais casais a mesa, eu tive um insight, e falei bem alto ‘Júnior, você tem vasectomia’. Ele respondeu que tinha. Eu fiquei uma semana dentro do nosso quarto de hóspede só fumando, tomando café, antidepressivo, não comia e dormia mal. 

MidiaNews – Naquele momento, é como se você tivesse sido traída?

Kharina Nogueira – 
Enganada, traída, passada pra trás, feito papel de otária. A gente chegava na Daslu, em São Paulo, esse homem comprava R$ 100 mil de roupa de grávida pra mim. Brindava no Getúlio, no Azeitona, com todos nossos amigos. Era público. Então, quando eu descobri eu saí de casa e queria me separar. Ele pediu que não e eu realmente sempre gostei muito dele, era Deus no céu e Júnior na Terra, enfrentei família e pessoas dizendo que ele era ‘isso e aquilo’. Só que eu não acreditava, queria que provassem exatamente o que diziam, me dessem provas. Foi quando eu voltei pra casa e comecei a me questionar o que mais o Júnior tinha escondido de mim. O que mais? E investiguei durante cinco meses, tempo também que juntei as peças, comecei a colar os pedacinhos, tirei o véu que tapava meus olhos, raciocinei e corri atrás daquilo que eu não conseguia respostas. No dia 7 de novembro de 2006 eu fui em um cartório de Várzea Grande para pedir o arresto de bens de toda família do Júnior. O cara que me atendeu foi dentro de uma sala, fez uma ligação, e quando voltou falou que o sistema estava fora do ar e que eu voltasse no outro dia. Eu cheguei em casa o Júnior já estava me esperando e aí começou a briga. Ele dizia que eu queria ferrar a vida dele, acabar com ela, entrega-lo para o Ministério Público. Ele dizia que iria acabar com minha vida, me matar, que eu não sabia quem ele era, que tinha “costas quentes” e me xingava, dizendo que ia me largar e me deixar sem nada. Eu entrei no banheiro, liguei pra duas delegadas conhecidas, pra amigos, meus familiares e os dele e, em questão de minutos, estavam todos lá. Eu lembro que joguei a aliança lá de cima e saí com minha bolsa. Só que, naquela época, eu já tinha tirado cópia de documentos, tinha tirado fotos. Então, toda parte documental e que provava algumas coisas, já estava comigo. 


MidiaNews – E quando tudo isso relacionado ao Júnior Mendonça chegou na Polícia Federal? 

Kharina Nogueira –
 Esse processo começou na Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos) e de lá, ‘andou’. Eu passei inúmeras vezes pelo Ministério Público, pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado), e as perguntas sempre eram as mesmas: quem é o Júnior, da onde vem o dinheiro do Júnior, como ele ficou rico tão rápido, quem são os “costas quentes” dele. Eu sempre respondi de forma bem pautada, mesmo porque eu acho a justiça falha, principalmente a estadual e ainda mais naquela época. E não deu outra, depois eu fiquei sabendo que ele foi lá e tapou a boca de todo mundo. Dizem que ele gastou mais de R$ 1,5 milhão para a história ficar abafada. Quando saiu a sentença final da nossa separação eu namorava o, então juiz federal, Julier Sebastião Silva, que aguentou muito choro e lamentações da minha parte. Dei para ele ler a sentença e na ocasião ele me disse que só faltava o magistrado dizer quanto ele tinha ganhado por aquela decisão. 

MidiaNews – E quando você fez essa primeira denúncia, ainda como uma briga de casal, uma separação, você sabia ou acreditava que pudesse chegar nesse ponto? 

Kharina Nogueira –
 Eu acreditava que ia ser tomada alguma providência e não foi. 

MidiaNews – E hoje, vendo Ararath e a numerosa lista de supostos envolvidos, como o senador Blairo Maggi (PR) ou os promotores do Ministério Público Estadual, o governador Silval Barbosa (PMDB), você imaginava que poderia alcançar essa proporção?

Kharina Nogueira 
– Nunca. Nunca. Nunca porque essas pessoas nunca participaram do nosso casamento. Essas pessoas nunca tiveram contato com a gente, nem amigavelmente e nem para negócios. Até porque nós éramos da época do ex-governador [falecido] Dante de Oliveira (PSDB), que frequentava nossa casa. Aquela cupulazinha do Dante que ia. Quando eu me separei do Júnior era o Dante saindo e o Blairo entrando. 


MidiaNews – Mas nunca houve movimentações dentro da casa de vocês? Algo que já era suspeito pra você?

Kharina Nogueira –
 Não, mas o que existia era, por exemplo, ele chegar muitas vezes com envelopes timbrados da fazenda do [senador] Jayme Campos (DEM), com dinheiro ou vários cheques e guardar no cofre. O Júnior também andava sempre com uma pasta preta e tinha uma ligação com o Campos Neto e seu pai, Ary [Leite de Campos], já falecido, tanto na parte financeira quanto na parte pessoal, de serem amigos.

MidiaNews – E o dinheiro do Júnior Mendonça? Você mesmo falou diversas vezes que sempre foi motivo de questionamentos. Você nunca soube a origem exata?

Kharina Nogueira –
 João Arcanjo Ribeiro [ex-bicheiro e considerado chefe do crime organizado em Mato Grosso, preso desde 2003, devido Operação Arca de Noé], Jayme Campos e seu Ary injetavam dinheiro ali. Este último, também pegava emprestado para o filho. Era uma coisa meio enganativa aos olhos de quem olhava. Tudo era muito bem tablado, muito bem pensado, maquinado. O Júnior, o Jayme, seu Ary, o Campos Neto, o João Arcanjo, o Valdir Piran, o Fernando Mendonça foram belos artistas, que são realmente quem têm dinheiro.

MidiaNews – E quando o João Arcanjo foi preso, mudou a tática ou o suposto esquema deles?

Kharina Nogueira 
– Mudou. Começou a entrar mais grana. Foi exatamente em 2003 que o Júnior pediu que eu apresentasse todos os empresários para ele. 

MidiaNews – Quando você apresentava esses empresários e, após ter descoberto do que se tratava, nunca houve arrependimento de sua parte ou uma sensação de que você, de alguma maneira, participou disso?

Kharina Nogueira –
 Não, nunca. Mesmo porque não ia fazer negócio com ninguém. Eu só os apresentava e depois quem quisesse fazer negócio, fazia. 

MidiaNews – Você citou o Fernando Mendonça, maior doador da campanha de 2010 do então candidato ao Senado Pedro Taques (PDT), como um dos homens que tem “realmente dinheiro”. Quando vocês namoravam, ele já tinha dinheiro? 

Kharina Nogueira –
 Ele tinha muito mais dinheiro que o Júnior. Hoje, é imensurável o dinheiro que o Fernando tem, mesmo porque ele tem um primo que é da Friboi, que tinha negócios com o Fernando na época. Eu lembro deles falarem ‘ô primo, tudo bem? Deposita R$ 500 mil na conta daquele caboco lá’. Depósitos que o primo também fazia na conta do Fernando. Tanto quanto o Valdir Piran falando com o Fernando. Detalhe que os capangas do João Arcanjo eram os mesmos do Valdir Piran. Depois, quando o João Arcanjo foi preso, um a um foi morrendo.

Tony Ribeiro/MidiaNews

Delação premiada de Júnior protegeu senador Pedro Taques, segundo Kharina


MidiaNews – Até agora o foco da Operação Ararath tem sido o grupo do Blairo e do Silval. Você acredita que outros políticos serão investigados?

Kharina Nogueira – 
Eu acredito que o próprio senador Pedro Taques, assim como acho que ele está manipulando, até onde ele pode. Não podemos deixar de lembrar que ele é um ex-procurador da República e, querendo ou não, tem influência no Ministério Público Federal. Foi ele, por exemplo, que indicou para o Fernando Mendonça o advogado José Santoro, que é de Brasília e também faz a assessoria do Júnior Mendonça. Além disso, tem alguém assessorando o Júnior, e não apenas juridicamente. Essa delação premiada é exemplo. Por que ele não citou todas as empresas que ele realmente empresta dinheiro até hoje? Por que ele não citou a origem do dinheiro dele? Quando eu cheguei em Mato Grosso em 1987, a família Campos tinha crimes imputados nas costas de morte e até hoje ninguém fez nada. O Serginho Campos, que tinha negócio com o Júnior e teve uma busca e apreensão em sua casa, matou um cara a luz do dia. A gente estava saindo de uma feijoada do Aldeia e todo mundo viu. Esse crime foi prescrito. O Júlio Campos até hoje ou até pouco tempo atrás respondia a um crime de morte em Santos. Então, essas pessoas são frias, capazes de fazer o incalculável. Agora, sobre outras pessoas, acredito que o grande filão está aí: família Campos, Piran, seu Ary e Campos Neto, Fernando Mendonça e João Arcanjo, que deixou dinheiro pra trás com muita gente. 


MidiaNews – De alguma forma, o Júnior Mendonça, com essa delação premiada, está protegendo um grupo ao expor outro? 

Kharina Nogueira – 
Claro. O Taques está sendo protegido. Só pode ser, e está muito claro e evidente isso. O senador pode não ter dinheiro com ele, mas está no meio de Valdir Piran, Fernando Mendonça e Jayme Campos. Agora, primeiro ponto, a delação premiada do Júnior só vale alguma coisa se ele provar tudo que falou. Provar e não só falar. Pelo pouco que eu vi e li, tem muito ali que são apenas simulações e não são provas concretas. Então muito do que se foi falado, foi apenas falado, não foi mostrado, comprovado. Segundo ponto, foi visto nas contas do Júnior que ele movimentou mais R$ 500 milhões em um certo período de tempo, mas ele não passava tudo nas contas dele. Muito dinheiro não rodou na conta do Júnior. Eu lembro dele falar para gerentes de bancos a respeito de cheques ‘calcionados’ que deviam ser depositados em certas contas. Ele também falava sobre isso com o irmão dele. 

MidiaNews – E como o senador Jayme Campos participaria desse suposto esquema? 

Kharina Nogueira –
 Injetando dinheiro. A filha dele tem uma factoring que empresta dinheiro a 1,5% de juros, para valores altos. Ela, por exemplo, pode emprestar pro Júnior, que por sua vez empresta por meio de sua factoring a 4%, a 5%, a 6%, em montantes grandes isso é muito dinheiro. 

MidiaNews – Então essa delação, que até então poderia ser favorável ao Júnior, pode, na verdade, atrapalhá-lo?

Kharina Nogueira –
 Ele tem que falar da onde vem o dinheiro dele. Falar e provar, só pra começar a conversa. Eu não estou entendendo porque focaram tanto na fase cinco da Operação Ararath, como se não tivessem existido outras fases. Na mídia, o que parece, é que só teve essa última e que todas as anteriores foram desqualificadas. Foi falado nessa semana que procuradora não ofertou denúncia contra o Júnior, ele foi inocentado da denúncia. Então, só teve quinta fase? Pera aí, eles estão querendo saber o que então? Da onde vem o dinheiro do Júnior, o início da Operação, ou eles estão querendo pegar os políticos? 

MidiaNews – Mas a delação, de alguma forma, foi efetiva? O Júnior falou tudo que sabe?

Kharina Nogueira –
 Não. Eu acho que ele foi totalmente tendencioso. Tem muitas empresas, digo muita gente forte, gente que faz parte, por exemplo, da cúpula do prefeito Mauro Mendes (PSB), da cúpula do governo atual, que continua fazendo negócio com ele e isso vem desde a minha época. E o Júnior não delatou essas empresas. 

Tony Ribeiro/MidiaNews

Kharina acredita que ex-marido é uma espécie de “fantoche” no esquema


MidiaNews – Você acredita então que a Operação Ararath está com o foco apenas no lado político e fatos estão ficando para trás?

Kharina Nogueira – 
Sim, está muito política. O começo é: quem é Júnior Mendonça? Quem são os costas quentes do Júnior? O Júnior é testa de ferro de quem? Jamais chegaríamos a Ararath cinco se o Júnior não tivesse condições de, financeiramente, estar sendo patrocinado e chegar as altas rodas. Claro que ele também me usou como pessoa, no sentido de chegar as altas rodas. Eu ensinei ele a comer, a vestir e a falar. Eu apresentei ele a sociedade. 

MidiaNews – Você tem essas respostas? Você sabe a origem do dinheiro do Júnior?

Kharina Nogueira – 
Olha, em Várzea Grande o Júnior era conhecido por mexer com tráfico de drogas. O Júnior tinha sociedade com Adão e Elias, que tinham uma mecânica de receptação de carros roubados e vendas de peças. Mas, quando eu ia até essas pessoas perguntar sobre isso, nunca ninguém contava nada. Mas direto, quando eu comecei a namorar com Júnior, ele ia com o Rogério Silvestrin, vulgo Big Roger, Sandro Louco, que não era nada na época, Geraldo Abrão, vulgo Lalado, Paulo Almeida, Gilson Ricci, Rodrigo Vidal, Rodrigo Coelho, em uma lancha vazia viajar e voltava com ela cheia de pó, cocaína. É o que me contavam. É possível? Pode ser. Aquela época não tinha tanto rigor com a fiscalização. Aliás, não tinha nenhum rigor. 

MidiaNews – Ainda sobre a Ararath, você acredita que está faltando citação de outros nomes, possíveis envolvidos?

Kharina Nogueira –
 Se está faltando, são de facções criminosas, que fogem do meu conhecimento. 

MidiaNews – O nome do ex-juiz federal Julier Sebastião Silva, pré-candidato ao Governo, chegou a ser citado na Ararath. Você, como ex-namorada, sabe de algum envolvimento dele?

Kharina Nogueira –
 O Julier nunca, durante todo o nosso relacionamento, teve nenhum contato com o Júnior. Eu não entendi o nome dele envolvido e achei uma jogada meio descompensada. Não entendi o fato que foi dito e supostamente colocado. Talvez pelas más companhias de Julier em alguma foto, mas Julier com Júnior não tem nada a ver. 

MidiaNews – Ao citar a família Campos e chegar até políticos mais “novos”, como Taques, falar da Ararath significa dizer que os esquemas descobertos pela Polícia Federal estão engendrados na política de Mato Grosso há décadas?


Kharina Nogueira –
 Há muitos e muitos anos. Quanto tempo a família Campos está no poder? E que dia que fizeram alguma coisa contra eles? Eu nunca vi. Nunca vi punição contra eles. 

MidiaNews – Perante tudo que já foi revelado, você acredita que isso tudo vai resultar em punições severas? Penas, cadeias, multa, restituição ao cofre público?

Kharina Nogueira –
 Eu acredito que vai pegar um, dois ou três para dizer que houve pena. O resto vai continuar solto. O futuro do Júnior, por exemplo, é incerto. Ele tem uma coisa péssima para o lado dele: ele não tem passado nem contábil e nem contável. Ele não foi um cara que a matemática bate. Então é duvidoso eu falar qualquer tipo de expressão que venha afirmar algo. Eu acho que ele pode ser preso, como pode não ser. Tudo depende de quem está por trás dele e o quanto vão gastar por isso. O que eu gostaria é que a Justiça fosse feita de forma que o cidadãos realmente pudessem acreditar que não é só o Júnior, que outras pessoas por trás dele existem e que essas pessoas não são Deus, que ninguém é Deus. Então eu gostaria que desmistificasse no Brasil que a Polícia prende e a Justiça solta. 

MidiaNews – E como você está hoje, depois de todas essas denúncias e fases da Operação Ararath? 

Kharina Nogueira –
 Eu me sinto em paz, porque eu acho que estou fazendo o que qualquer cidadão deveria fazer no meu lugar, falar a verdade. Se todas as mulheres de pessoas que vivem ilicitamente fizessem dessa forma, o Brasil não estaria essa fanfarra que está hoje. Me sinto protegida, porque eu tenho certeza que, de alguma forma, eu estou sendo usada por Deus e, ao mesmo tempo, protegida por Ele. Estive na Polícia Federal na sexta-feira (30) e realmente nada mais está sendo movimentado por aqui mais, e sim pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e Superior Tribunal de Justiça (STJ), é tudo por lá, mas eles estão me acompanhando, estão sabendo dos meus passos. Eu me sinto descansada, no aspecto de segurança, porque não adianta contratar uma segurança privada porque alguém pode pagá-lo e me matar. Pronto. É fácil. A segurança maior que eu tenho é em mim, na minha paz, no meu espírito, em Deus, que é maior, onipresente, onisciente e onipotente. No fundo, eu acredito que se a gente tivesse continuado, o Júnior não teria chegado nessa proporção, porque eu não deixaria. Se ele tivesse jogado limpo comigo, no sentido de ‘olha, eu errei, mas eu quero parar, vamos viver uma vida nova’. Ele não precisava ter feito tudo isso com a minha vida, que hoje está toda envolvida com esses acontecimentos, que chegaram a nível nacional, e também não precisava chegar onde ele chegou, que hoje está desqualificado e desclassificado social em Mato Grosso. 

MidiaNews – Você então não teme por sua integridade física? De andar sozinha? 

Kharina Nogueira – 
Não. Não temo morrer. Se for assim, eu não posso ser delegada, então? Nem uma policial, procuradora ou juíza? Alguns andam armados, mas até pegar uma arma, já levei um tiro. Ninguém morre de véspera, só Deus quem sabe. A não ser que eu pegue uma arma e me mate. E isso não vai acontecer jamais. Se alguma dia você escutar a notícia “Kharina suicidou”, pode averiguar, investigar, que foi mentira, foi armação. 

Tony Ribeiro/MidiaNews

MidiaNews – Se tivessem que te calar, já o teriam feito? Afinal você já disse muito. 

Kharina Nogueira –
 Eu acho que o próprio Junior já teria feito isso. Acredito que ele, inclusive, tem medo de mim, porque não é homem de conversar cara a cara comigo. Aliás, ele não é homem para conversar cara a cara com a mídia. Ele manda os advogados falarem. Ele é muito pau mandado. 

“Tínhamos uma vida com um ticket médio de R$ 100 mil por mês. Eram quatro carros importados, uma lancha importada, uma moto importada, dois carros nacionais, eram viagens todo mês, eram jantares, eram compras, quatro funcionários dentro de casa. Uma saída baratinha, dava R$ 500”


MidiaNews – Quando se fala, então, que Júnior Mendonça é o epicentro da Operação Ararath não é verdadeiro?

Kharina Nogueira –
 Ele é muito inteligente, mas existem os caras que criaram o Júnior e esses caras são os verdadeiros criminosos, os que o alimentam. O Júnior é um fantoche, um robô, dessas pessoas. 

MidiaNews – Mas era fácil parar? O Júnior vem de uma família humilde?

Kharina Nogueira –
 Era. Era só ter conversado, explicado, mesmo porque dinheiro não é condicionamento para ser feliz. A prova maior disso taí. De fato, ele veio de uma família muito, muito, muito humilde e tinha um problema muito grande com a questão do ego dele. Tanto que a nossa separação feriu o ego dele, porque eu quis separar e ele chegou a dizer que queimaria tudo para não me dar um centavo. 

MidiaNews – E do ponto de vista psicológico, emocional, como você está, como está sua saúde, por exemplo?

Kharina Nogueira –
 Minha saúde não está legal. Desde a primeira fase da Ararath meu nível de estresse está elevadíssimo, tanto que eu tive uma crise em local público. Eu ainda sou acompanhada por médicos e tomo medicações, aos quais deixam eu ter uma vida paliativamente tranquila. Mas eu gostaria muito que ele jamais tivesse se envolvido com tudo isso. É muito desgastante, mas ele tem dinheiro para poder se tratar. 

MidiaNews – Comparando sua vida antes e hoje, como é?

Kharina Nogueira –
 Tínhamos uma vida com um ticket médio de R$ 100 mil por mês. Eram quatro carros importados, uma lancha importada, uma moto importada, dois carros nacionais, eram viagens todo mês, eram jantares, eram compras, quatro funcionários dentro de casa. Numa saída baratinha a gente gastava R$ 500. Hoje, eu trabalho na minha modéstia, eu ganho de acordo com aquilo que eu faço, produzo. Eu tenho buscado alternativas para sobreviver. Eu estou sobrevivendo.

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