“Eu e o Neymar estamos nos preparando

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Saint Albans. Inglaterra…

Dentro do gramado ele é exatamente o contrário de Ganso.

Jogador participativo, vibrante.

Não se contenta em apenas ficar no meio esperando a bola.

Ele marca, briga, a disputa com raiva.

Veloz, com ótima visão de jogo, talentoso, artilheiro.

"Aprendi a misturar o talento com vibração, marcação.

Muitas vezes roubar a bola é tão importante quanto tê-la no pé.

Quem mais me influenciou?

Kaká e D'Alessandro."

Essa mistura mais do que improvável deu origem ao camisa 10 da seleção.

Em entrevista exclusiva ao blog é fácil perceber por que Oscar suplantou Ganso.

De quem é grande amigo e tem várias conversas na Inglaterra para animá-lo.

Acabar com o desânimo que domina o antigo dono da camisa 10.

O jogador de 20 anos que o Chelsea pagou mais de R$ 65 milhões é ainda um líder.

Discreto, ele ajuda Thiago Silva a apagar os incêndios na seleção.

Acabou sendo muito importante para Neymar enxergar a importância de jogar para o time.

"Neymar tem um talento absurdo.

E está muito mais completo nesta Olimpíada.

Isso é ótimo para o Brasil."

A vida o ensinou a ser assim, lutador.

Perdeu o pai cedo e sabe que sua família depende dele desde a adolescência.

"A responsabilidade me fez aprimorar como jogador, como pessoa."

Com todas essas qualidades, ele não é só grande aposta.

Não só para a medalha de ouro que vai disputar amanhã em Wembley.

Mas para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

Exclusiva com Oscar.

Você percebeu que não há mais espaço para o meia lento?

 

Aquele que espera a bola chegar e vive de lançamentos, o puro armador da seleção?

Sim. Eu era meia-atacante e passei a ser meia.

E no futebol competitivo que vivemos, onde cada centímetro é importante, não dá mais para ficar parado esperando a bola chegar.

Tem que roubar, brigar, marcar. Ser produtivo para o time. E saber o que fazer quando ela cai nos seus pés.

O D'Alessandro me ensinou muito no Inter. Compreendi com ele a necessidade de ficar o tempo todo participando da partida. Não dá para ficar parando no meio de campo enquanto o resto do time se mata.

O Guiñazu também sempre tinha altas conversas comigo. Sobre como eu deveria aproveitar melhor a minha facilidade em jogar.

Ter passado pelo Internacional, pelo brigado futebol do Rio Grande do Sul realmente mudou a minha vida.

Virei outro jogador. Mais pronto, preparado para jogar na seleção brasileira. Para a camisa 10.

Toda a confusão envolvendo a sua saída do São Paulo também, não?

 

Você teve de ser muito forte para suportar a pressão de sair do clube.

 

Nas suas palavras, Oscar, o que aconteceu?

Vou ser bem claro porque não quero mais ficar remoendo o que aconteceu no passado.

Não fui valorizado no São Paulo em todos os aspectos. Me falaram muitas coisas, não cumpriram, resolvi sair.

Minha família depende de mim desde a adolescência (seu pai morreu) e eu fui obrigado a amadurecer mais cedo.

Percebi que o que estava acontecendo não era bom e nem justo para mim. Resolvi sair.

Tive o apoio das pessoas que amo como a minha esposa e a minha mãe. Além do meu empresário que me deu todo o apoio para a escolha que eu fizesse.

A escolha pelo Internacional foi consciente e a melhor possível para a minha vida. Depois, o São Paulo entrou na Justiça.

Fiquei sem poder jogar por um período. Mas me mantive firme. Sabia o que eu queria e o que eu não queria. Me mantive forte.

Não importou a minha pouca idade. Foi duro, sofrido.

Mas senti que amadureci como pessoa e como jogador. Passei por muitas coisas duras na minha vida.

Por isso estou mostrando firmeza neste desafio que é jogar pela seleção.

Você ajudou o Neymar também a enxergar melhor o jogo?

 

Ele está jogando para o time. É melhor para ele e para a seleção.

O mérito é todo dele. Vamos ser claros.

O Brasil tem de comemorar ter um jogador tão especial como o Neymar. Ele tem um talento sensacional para os dribles, para as arrancadas.

E é inteligente, instintivo. Nós conversamos muito. Sabemos que há muita esperança neste time todo que está aqui na Olimpíada.

Mas a cobrança em nós dois é maior. Porque as pessoas nos enxergam como os jogadores que podem desequilibrar a partida. E isso não é fácil.

Somos jovens. Aos poucos estamos percebendo que não é possível jogar bem sempre. Assim como não dá para driblar a toda hora.

O Neymar percebeu isso. As pessoas queriam dele uma jogada sensacional cada vez que a bola chegava nos seus pés.

E isso além de impossível, é improdutivo. Muitas vezes, é melhor uma tabela, roubar a bola, dar um passe.

O primeiro gol do Brasil contra a Coreia do Sul demonstra isso.

Pouca gente percebeu que foi ele quem roubou a bola como um volante e me passou e eu passei ao Rômulo.

Sinto que o Neymar está melhorando a cada dia como jogador.

Ele entendeu que só tem a ganhar sendo mais participativo. E se torna muito mais difícil marcá-lo.

Não é fácil o peso que ele tem nas costas. O Brasil não ganha nada importante há muito tempo.

As pessoas não pensam que ele tem uma responsabilidade enorme nesta nova geração.

Eu já entendi qual é o meu papel e é preciso ser firme, estar preparado para tanta cobrança de disputar uma Copa do Mundo no seu país com a obrigação de ganhar.

Isso jogadores novos, com 20 anos. Mas sinto que o Neymar já percebeu a sua responsabilidade e está evoluindo demais não só com a bola, mas como pessoa.

Ele é inteligente demais. Eu e ele estamos nos preparando.

Temos a responsabilidade de fazer o Brasil campeão da Copa de 2014. É uma pressão terrível.

Nossa seleção é talentosa mas jovem. A Olimpíada mostra que estamos no caminho certo.

É o peso de uma nova geração chegando na seleção brasileira.

 

Ainda mais depois de o País não vencer a Copa há dez anos.

 

Por isso o peso de conseguir a medalha de ouro no sábado…

Sim, é verdade. Vamos fazer tudo para ganhar essa medalha porque ela representa uma conquista inédita para o futebol brasileiro.

Muitos disputaram a Olimpíada e não conseguiram, porque é uma competição difícil.

São muitos jogos seguidos, viagens, falta de tempo para treinar. A nossa campanha até aqui é ótima.

Ganhamos todos os jogos porque realmente nos unimos. O time sabe que depende de todos os jogadores.

Há alguns mais cobrados, só que o importante é que sabemos de verdade que todos têm a mesma importância. Mesmo aqueles que não estão jogando.

Nós sabemos da pressão que sofremos, mas temos a certeza da nossa força para suportá-la. Por isso estamos perto da medalha de ouro.

Nada aconteceu por acaso até aqui. Trabalhamos muito e em pouco tempo.

Por isso vamos dar tudo para essa medalha não escapar. Ela significa a vitória de uma nova geração.

O Brasil não decidia a Olimpíada há 24 anos. Nosso time já é especial.

Você disse que D'Alessandro teve muita influência sobre a sua maneira de jogar. Mas foi só ele?

Ele me deu a combatividade, a necessidade de entender taticamente a partida. Mas eu também me inspirei no Kaká. Nas suas arrancadas, nos seus dribles produtivos, buscando o gol a cada momento.

A enfiada de bola inesperada, que desarma a defesas. Ele é um excepcional jogador. Passei muito tempo me inspirando nele.

Procurava ver todos os jogos do São Paulo, do Milan, do Real Madrid. Até hoje vejo. Ele é um jogador diferenciado. Talentoso e muito inteligente.

Mas ele fracassou na seleção Brasileira até agora. Por sinal foi o camisa 10 da Copa da África…

Esse que é o problema. Nós estamos acostumados a cobrar apenas de um ou dois jogadores quando a seleção, o time não ganha. Isso não é certo.

A seleção estava fazendo uma boa campanha na África, quando veio a derrota para a Holanda.

Não é justo cobrar apenas o Kaká. Ele foi importante, mas apenas mais um. O time todo perdeu.

Mas a cobrança sempre virá forte na estrela da equipe. Ganhar ou perder não depende de um.

Eu considero o Kaká um excelente jogador. E com toda chance de voltar à seleção.

O que acontece com Paulo Henrique Ganso?

Ele é um grande jogador que está voltando de uma cirurgia. É normal que esteja abaixo fisicamente do que pode render.

Ele também é um grandes talentos da nova safra de jogadores do Brasil.

É muito jovem para as pessoas já terem um julgamento sobre o que pode ou não fazer na seleção.

Nós que estamos com ele todos os dias no treinos é que temos a noção do excelente jogador que é.

Está apenas passando por um momento difícil na carreira. Mas aos poucos tenho certeza que ele vai se recuperar e mostra o futebol que encantou a todos.

Ninguém pode se esquecer que ele tem apenas 23 anos. A seleção brasileira precisa muito dele.

O Lucas acaba de acertar com o Paris Saint-Germain.

 

Você vai jogar no Chelsea.

 

Não tem medo do futebol inglês, que as estrelas brasileiras fogem?

De jeito nenhum. Quem não gostaria de jogar no Chelsea. Tem um dos melhores elencos do mundo. Foi campeão da Champions. Eu estou é

muito orgulhoso por ter sido contratado. Vou fazer o que o meu treinador pedir. Mas me sinto pronto para jogar. Não sou jogador que

precisa de tempo para adaptação. Além disso me falam muito sobre o futebol de choque, de contato da Inglaterra. Pode estar certo que a

minha passagem pelo futebol do Rio Grande do Sul me deixou preparado para isso. Para os choques, a briga pela bola. O jogo brigado. Quem

passa pelo interior do Rio Grande com a camisa do Inter sabe o que é dificuldade. Estou preparado e quero muito ajudar o Chelsea a

continuar ganhando títulos. Não estou preocupado em jogar na Inglaterra. Estou orgulhoso.

Como você espera a final do Mundial de Clubes?

 

Jogando pelo Chelsea contra o Corinthians…

Muita gente está me falando sobre esse Mundial. E decidir com o Corinthians seria ótimo.

O clube ganhou com todos os méritos a Libertadores. Acredito que se acontecer essa final será maravilhosa, já que o Chelsea tem excelentes jogadores.

Eu quero jogar, lógico.

Cresci vendo o Corinthians como rival. Vou fazer de tudo para o meu clube ganhar. Só que ainda há muito tempo até a partida.

Prefiro me focar no meu começou no Chelsea. E só depois pensar no que virá pela frente.

Tenho conversado muito com o David Luiz e sinto que farei parte de uma grande equipe.

Não poderia estar mais animado. Quero me tornar muito importante para o Chelsea.

Oscar fiz uma entrevista com você, quanto tinha 17 anos.

 

Era tímido, contido.

 

E agora fala como líder da seleção brasileira.

Vai completar apenas 21 anos.

 

 

Como foi essa mudança tão radical?

Foi a vida. Tudo o que passei nesses quase quatro anos.

Tive de reagir a tudo que acontecia na minha vida.

Precisei amadurecer de maneira forçada, apressada.

Tomar decisões que mudaram profundamente a minha vida. Por isso me fortaleci.

Estou pronto para os desafios que estão aparecendo.

Jogar na seleção brasileira não é fácil. Sei que todos esperam demais do camisa 10.

E eu não tenho de corresponder ao que as outras pessoas de fora querem ou pensam.

Mas sim ao que eu entendo ser melhor para o time, para o meu treinador.

O caminho foi difícil e acabou me preparando para tanta cobrança. Tanta pressão. Sei que sou jovem.

Mas nunca esqueço que as pessoas que amo dependem de mim. E me apoiam demais.

Por isso me sinto tão forte, preparado, para buscar o que for bom para mim. E para o Brasil.

Tomara que o ouro olímpico venha e seja o primeiro passo definitivo para a Copa de 2014.

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