Um especialista em segurança envolvido na organização dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012 afirmou que os organizadores do amistoso entre Brasil e Inglaterra no Maracanã, no domingo (2), devem tomar as medidas de segurança necessárias para impedir que o público tenha acesso a áreas ainda em construção nos arredores do estádio.
Na avaliação de Alistair Gibb, professor da Royal Academy of Engeneering, cercas de isolamento em volta de áreas ocupadas por maquinário e material de construção, além de placas de sinalização, devem ser instalados para orientar e garantir a segurança dos espectadores.
— A situação mais crítica é na saída, quando muitas pessoas saem ao mesmo tempo. Nesse momento, elas devem saber exatamente por onde passar e identificar facilmente os locais que devem ser evitados.
Gibb completa, acrescentando que funcionários treinados devem estar espalhados pelas vias de saída para guiar o público.
O engenheiro afirma ainda que, em projetos de grandes proporções, como reformas de estádios, engenheiros e arquitetos envolvidos têm capacidade de prever com até seis semanas de antecedência em que estágio estará a construção e, com base nisso, tomar decisões para evitar imprevistos.
— Com o planejamento é possível optar por um desses três cenários: cancelar o evento, transferí-lo para outro lugar ou tomar todas as medidas necessárias para manter o público longe de locais que possam representar algum risco. Se isso não foi feito há pelo menos seis semanas, agora já não dá mais tempo.
Pressão
Na quinta-feira (30), uma liminar suspendeu o amistoso entre Brasil e Inglaterra, alegando que o Maracanã não oferecia condições de segurança e higiene para o público. Horas depois, o governo estadual recorreu e conseguiu suspender a liminar, alegando que, por uma falha burocrática, um laudo da Polícia Militar que comprova o cumprimento de todas as regras de segurança no estádio não havia sido entregue antes.
A Secretaria de Obras da Prefeitura do Rio de Janeiro disse que os trabalhos ainda em andamento no entorno do Maracanã ─ na avenida Radial Oeste e na rua Eurico Rabelo ─ têm prazo de conclusão até o início dos jogos oficiais da Copa das Confederações, que começa no próximo dia 15.
— “As obras do entorno seguem em ritmo acelerado, com aproximadamente 1,5 mil operários trabalhando em três turnos para concluir os últimos ajustes.
Segundo a prefeitura, as obras foram cercadas e sinalizadas, e o chão foi nivelado provisoriamente “para evitar risco aos frequentadores” do amistoso de domingo. O Governador Sérgio Cabral afirmou que ainda existem imperfeições na obra:
— A prefeitura está concluindo obra, mas é evidente que quem for no domingo para assistir ao jogo vai ficar feliz, e quem for para olhar problema vai achar algum tipo de problema, obviamente. Posso assegurar que o estádio está absolutamente seguro, teremos um jogo extraordinário, uma partida com conforto para a população. No entorno, internamente, a polícia (militar) estará presente com todo seu efetivo.
Repercussão
O jogo amistoso deve ser o primeiro grande teste do Maracanã após a reforma realizada no estádio para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014. A possível suspensão da partida foi tratada como um grande fiasco pela imprensa internacional e evidenciou os problemas do cronograma das obras dos estádios da Copa.
A decisão inicial chegou a manter a partida suspensa por seis horas, gerando incertezas. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) espera renda recorde para a partida, e a seleção inglesa já está no Rio.
Apesar da revogação da liminar evitar o prejuízo maior e manter a partida, o imbroglio legal levanta dúvidas quanto ao risco de problemas semelhantes criarem obstáculos para a realização da Copa no Brasil.
Cercada de polêmicas, a reforma do Maracanã custou mais de R$ 1 bilhão, valor bastante superior ao previsto em sua licitação, de R$ 705 milhões. O estádio deve ser palco das partida final da Copa das Confederações – que começa no próximo dia 15 de junho – e da Copa do Mundo de 2014.