Nesta quinta-feira, após a convocação para os amistosos contra França e Chile, o técnico do Brasil, Dunga, conversou exclusivamente com os canais ESPN.
O treinador falou sobre o retorno de Robinho, elogiando a “irreverência” e o “prazer” que o atacante do Santos têm em jogar na seleção e admitiu que o trio que deixou o futebol nacional rumo à Ásia – Diego Tardelli, Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro – terá de fazer “algo a mais” para seguir na lista.
Além disso, o capitão do tetra mundial revelou qual o seu ranking de prioridades para convocar um jogador e disse que uma conversa com José Mourinho durante tour na Europa o fez ter uma nova visão sobre a relação amistoso/jogador.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista
Diego Tardelli, Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro, hoje na Ásia
Seguramente no futebol chinês eles vão ter que fazer algo a mais para chegar à seleção, ou então estar muito perto do que faziam aqui. Eles vão perder alguma coisa nesse caminho. Pela distância, pelos jogos que têm, com o Brasil ou a Europa sabemos mais, nem sempre a informação vem de lá 100%. Vamos confiar nos nossos profissionais que estão na China, é saber se estão competitivos, se tem rendimento constante. É uma responsabilidade a mais. Vamos ter uma cobrança maior dentro da seleção, e o jogador vai ter que provar isso.
Robinho convocado
Kaká, Robinho, mas esses dois continuam atuando bem. Felipe Melo também. Estão tendo rendimento alto, tem que ter essa mescla, de jogadores experientes com novidades. Não é pela idade que eles são escolhidos. Robinho e Neymar querem jogar, têm prazer naquilo que fazem, ainda trazem a irreverência. Tem que juntar essa referência, mas também com a competitividade e o rendimento.
O ranking para escolha de jogadores
Nós fizemos uma grade de todos os jogadores, sempre com o item técnico primeiro, depois rendimento, personalidade, idade, mescla, melhor momento (caso agora dos que deixaram o Brasil: traz um – Diego Tardelli -, não três ou quatro juntos para não ter falta de competitividade), tudo isso você tem que analisar e decidir. O leque de observação tem sempre que ser ampliado.
Conversa com José Mourinho e Alex Ferguson
Foi interessante com Mourinho, a mentadalidade é diferente. Ele falou uma coisa bem interessante: ‘Eu tenho que te entregar um jogador em boas condições, e você tem que devolvê-lo em boas condições. Eu sei da tua exigência, mas se for possível dá para poupar um jogador’. Começamos um novo pensamento: não adianta pensar muito nos amistosos e deixar de lado Copa América e eliminatórias. A gente vai ter que mudar a equipe em quase 50% entre os amistosos para manter o bom rendimento.
A conversa com Ferguson foi ótima. Quando você fala com pessoas do futebol, você pode divergir, mas o pensamento é parecido. É bom conversar com esse personagem porque você vê que não está errado o que você pensa.
Revolução no futebol brasileiro?
Eu acho que nós precisamos voltar às nossas origens. É um pouco constrangedor de falar: todos os treinadores têm hoje os livros de Mourinho e Guardiola, os melhores técnicos do mundo, mas são para caras prontos. Na base, o cara não é treinador, é formador. Não adianta querer o jogador pronto com 17 anos. Você vai ter que insistir, ter paciência com esses meninos, buscar mais a parte técnica. O problema é que os jovens só jogam (em campo) curto. Ah, mas não sabe cruzar, mas se joga em campo curto, não tem a dimensão do campo. Tem que diversificar mais. Tem que ter competição, jogos importantes, e não adianta pegar menino de 15, 16 anos para só jogar dois toques. Tem que driblar. Quem desmonta um jogo tático é o drible. O futebol se difere dos outros esportes: nos outros têm que ser forte, alto, mas no futebol pode ter Garrincha de pernas tortas, um baixinho que dribla, mas no futebol moderno ele tem que ter velocidade e técnica. ‘Ou se enquadra aqui ou não joga’. Não, o futebol te dá essa opção. O treinamento, o drible, a criatividade, é nosso.