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Chico Ferreira
A um dia do nascimento do filho,
Mariana* está ansiosa. Não sabe como
será o parto, mas de uma coisa tem
certeza: estará sozinha, sem o apoio da
família. Seria uma situação incomum se
ela não fosse uma das reeducandas da
Penitenciária Ana Maria do Couto May,
em Cuiabá. Para elas, o parto é um
momento solitário e cheio de incertezas.
Na quinta-feira (31) ela viveu um momento
diferente da rotina na penitenciária. Um grupo de mulheres de uma igreja evangélica realizou um chá de
bebê, com direito à sessão de fotos para as 6 grávidas da unidade. Em meio às maquiagens e às fotos,
por alguns minutos elas puderam esquecer a realidade vivida atrás das grades.
Em Mato Grosso, são 7 unidades penais femininas, duas delas – Cuiabá e Nortelândia – possuem uma
ala separada para gestantes e lactantes. Nesse raio, elas ficam em espaços mais arejados e próximos
ao posto de enfermagem. Em caso de emergência, elas são as primeiras a serem socorridas.
Para as mães, a dúvida é sempre sobre o tempo que passarão com os filhos recém-nascidos na unidade.
Apesar de uma resolução do Supremo Tribunal Federal (STF) permitir a prisão domiciliar das gestantes,
poucas conseguem esse benefício por causa da burocracia e lentidão com que os processos andam.
A esperança é de que na próxima semana – ou mês – recebam a sonhada liberdade e possam ir para casa
e ter o bebê com calma e apoio da família.
“A gente tenta não pensar nisso, viver um dia de cada vez. Fica esperando que saia o andamento do
processo. Para não ter o bebê estando aqui. Porque é muito sofrido, ninguém quer passar por isso”,
contou Meire, que está grávida de 6 meses.
O dia de festa alivia por alguns minutos a tensão
das mães. Mas quando chega a hora do parto, a
tristeza é grande. Há 9 dias Carolina* teve o filho
Mariano*. O bebê sofre com o calor, não consegue
dormir bem e troca o dia pela noite. No quarto
junto com outras 6 mulheres, ela conta com a
ajuda das colegas para poder passar pelo período
de resguardo.
“É muito difícil. Todas me ajudam, lavam as roupas
do neném. Sem elas eu não conseguiria ficar de
resguardo. Sou do interior, elas me ajudam,
as famílias entram em contato com a minha para mandar as coisas que estão faltando”, conta Carolina.
Apesar das dificuldades enfrentadas na penitenciária em Cuiabá, ela afirma que ainda é muito
melhor do que a rotina na Cadeia Feminina de Nortelândia, onde os bebês não tinham nem mesmo
um berço.
“Lá não é apropriado para um bebê. Quando me trouxeram para cá, falei que não iria sair até ter
o meu bebê. O ruim é ficar longe da família, mas eles não vêm por falta de condições, porque é caro
vir para Cuiabá. Minha mãe prefere enviar as coisas para me ajudar e acaba não vindo me ver.
É difícil, mas não tem outro jeito”, lamenta a mãe.
*Nomes das detentas foram trocadas para preservar a identidade delas.