Xochiquetzal é a deusa asteca da beleza, do prazer e da fertilidade. Ela dá nome a uma casa peculiar no centro histórico da Cidade do México. Próximo ao bairro de Tepito, e da zona de prostituição da capital mexicana, encontra-se o único abrigo do mundo dedicado ao atendimento de profissionais do sexo em idade avançada.
Em 2005, prostitutas da região propuseram a criação de um abrigo para suas colegas e ex-colegas mais velhas, que careciam de contatos familiares e sociais e viviam nas ruas.
Um ano mais tarde, com o apoio de organizações civis e instituições do governo, além de feministas como a escritora Elena Poniatowska, a Casa Xochiquetzal abriu as portas em pleno coração da capital mexicana. Desde então, cerca de 400 mulheres já foram atendidas no local.
No espaço, que abriga atualmente 24 ex-prostitutas entre 56 e 83 anos de idade, as mulheres encontraram não apenas um lar onde recebem comida e abrigo, mas também uma família e um lugar na sociedade.
Oásis no centro da capital
A diretora da casa, Jesica Vargas González, descreve as moradoras do local como “guerreiras e lutadoras, donas de um apreço incrível pela vida”. Apesar de todas as adversidades, elas sempre enfrentam a vida e os problemas de cabeça erguida, afirma.
Quando González fala sobre o albergue, nota-se a paixão que a jovem diretora sente pelo projeto. “Quem passa pela porta da Casa Xochiquetzal, entra, literalmente, num outro mundo. É um oásis. Quando se começa a conhecer as senhoras, a conversar, elas te conquistam. São realmente mulheres excepcionais”, diz. Ela chegou ao local em 2008, com a intenção de trabalhar como voluntária. Mas o contato com as moradoras a deixou tão fascinada que resolveu ficar. Quatro anos mais tarde, ela assumiria o cargo de diretora.
Todos os dias, a jovem luta para levar o projeto adiante. “É um trabalho em tempo integral. As moradoras não são pessoas fáceis, porque quando estavam do lado de fora, se viam como concorrentes. Por isso, aqui dentro podem acontecer muito conflitos de convivência. Com frequência temos que lhes dar aconselhamento, conversar com elas sobre valores como companheirismo, amizade, respeito mútuo, etc”, explica a diretora.
Um dos maiores desafios é conseguir doações para cobrir as despesas da casa. “Houve uma época em que estávamos no vermelho, devíamos salários às pessoas que trabalham aqui, não havia dinheiro para comida ou para o gás. Passamos quase um ano sem cobrar um centavo, eu mesma tive que vender doces, ou o que pudesse, para pagar minhas passagens para poder vir ao trabalho”, conta a diretora. “O fiz porque sei que elas precisam de mim, assim como eu preciso delas. Acabamos formando uma família, uma comunidade.”
Um projeto para a posteridade
González critica o “machismo” e a “dupla moral” da sociedade mexicana. Por um lado, diz, os clientes buscam os serviços das profissionais do sexo, por outro, não as apoiam.
“A maioria das mulheres que aqui estão foram rejeitadas por seus filhos. Elas lhes deram uma formação, muitos deles são profissionais formados, possuem boas condições financeiras, tudo graças a elas. Mas quando souberam que suas mães eram profissionais do sexo eles as renegaram e esqueceram”, afirma.
A diretora se orgulha dos quase dez anos de existência da Casa Xochiquetzal. “Isso surgiu do nada e hoje é algo concreto. Lutamos todos os dias para que não fique como um mais projeto que um dia existiu, mas que permaneça para a posteridade, porque o trabalho sexual não vai terminar.”
Autor: Violeta Campos (rc)
Edição: Francis França