Na noite do último domingo (1º), terroristas islâmicos colocaram as barbas de molho. Não é para menos: os serviços de inteligência dos Estados Unidos conseguiram penetrar no círculo mais íntimo do líder da Al Qaeda.
Foi com a ajuda de uma prima de um mensageiro de Osama bin Laden que os comandos especiais da Marinha americana, os SEALs, puderam cumprir a missão de matar o inimigo público número um de seu país, segundo fontes do governo americano.
Nos relatos vazados à imprensa por várias fontes do governo, a crônica dessa morte anunciada começou para valer em agosto do ano passado. Agentes de campo da CIA fizeram contato com uma mulher interessada na recompensa equivalente a R$ 79 milhões (US$ 50 milhões) para quem desse informações que levassem à captura ou morte do líder da Al Qaeda.
Ela dizia que seu primo era mensageiro de confiança de Bin Laden e teria tanto prestígio na organização terrorista que era o único com aquela função que estava autorizado a ver pessoalmente o líder radical.
De agosto a fevereiro deste ano, foi estabelecido um sistema de acompanhamento desse mensageiro. Notou-se que ele costumava ir a uma mansão a 50 km da capital Islamabad. O general americano da reserva Barry McCaffrey informou que os agentes da CIA não tinham dúvidas de que ali morava alguém do alto escalão da organização terrorista.
– Os muros tinham de seis a dez metros de altura, com arames farpados tipo concertina no topo. Várias medidas profissionais de segurança estavam incorporadas à rotina. Queimava-se o lixo, em vez de deixá-lo para a coleta pública. Não haviam fios de telefone ou Internet ligando a rua ao imóvel. Pouca gente entrava ou saía do endereço.
Confira também
Ação foi puramente americana
McCaffrey lembrou ainda que o tipo de armamento nas mãos dos guarda-costas era muito mais sofisticado do que o arsenal disponível à qualquer um nos mercados de armas do país.
– Com essas informações, colhidas em trabalhos de vigilância humana e aérea com equipamentos de alta tecnologia, foi possível estabelecer a rotina dos habitantes e onde eles passavam a maior parte de seus dias.
Em fevereiro, o presidente americano, reunido com o Conselho de Segurança Nacional, se convenceu de que ali era o esconderijo de Bin Laden e autorizou as ações de um plano revisado pessoalmente por ele. Ficou decidido que três grupos de SEALs- nata das tropas de elite americanas – colocariam em prática o plano.
A operação era tão sigilosa que nem mesmo os aliados tradicionais dos Estados Unidos, como membros da Otan (aliança militar do Ocidente), foram avisados de sua existência. Aquela seria uma ação puramente americana.
O ex-presidente George W. Bush costumava dizer que Osama bin Laden estava “vivendo enfurnado numa caverna”. Várias autoridades americanas repetiam isso e ainda colocavam o endereço do buraco na região tribal do Paquistão, perto da fronteira inóspita do Afeganistão. No último domingo, ficou comprovado o tamanho da ignorância desses personagens.
Osama bin Laden, o homem mais procurado do mundo, estava escondido debaixo dos narizes das autoridades do Paquistão. Morava numa mansão de valor acima de R$ 1 milhão – o que, diga-se, naquele país é fortuna ainda maior.
Numa rua de classe alta, a meros 50 km do centro da capital Islamabad.
Pior: o local chama-se Abbottabad, ao lado de uma academia militar. Não é de se estranhar que o Serviço de Inteligência do país não foi avisado da operação americana.
No começo da madrugada do dia 1º, os comandos americanos caíram sobre a fortaleza de Bin Laden. O presidente Obama garantiu que não houve uma única baixa entre seus patrícios.
A única perda foi um helicóptero que teria se avariado – segundo fontes do Departamento de Defesa – não por fogo inimigo, mas por problemas mecânicos. O aparelho foi explodido para não deixá-lo para trás.
Analistas elogiam a operação
Essa foi, na opinião de analistas militares consultados , a operação de comandos mais bem-sucedida dos últimos 10 anos. O general McCaffrey é um deles.
– As prisões de outros líderes da Al Qaeda contaram com ajuda de membros de comandos de outros países. A maioria dos alvos terroristas de maior importância foram mortos por "drones" – as aeronaves controladas por controle remoto. Mas nessa ação, foi tudo feito por soldados extremamente competentes. Isso também dará grande moral e orgulho às Forças Armadas.
McCaffrey faz coro com os americanos das ruas, tão acostumados a ações perfeitas dos heróis do cinema e games, mas que não viam roteiro tão perfeito na vida real.