O Brasil completa neste sábado (26.fev.2022) 2 anos desde que o 1º caso de covid-19 foi confirmado pelo Ministério da Saúde. Depois de 2 anos de pandemia, o país se encontra em 13º no ranking mundial de mortes por milhão e em 32º no que diz respeito à parcela da população completamente imunizada.
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Na última 6ª feira (25.fev.2022), o Ministério da Saúde registrou 770 mortes pela covid-19 em 24 horas, totalizando 648.160 vítimas da doença desde o início da pandemia.
No entanto, segundo o médico sanitarista e fundador da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Gonzalo Vecina, a estimativa é de que, em cima da mortalidade atual, há quase 180 mil mortes não notificadas.
Vacina aponta o problema de registros de casos não como uma questão apenas do Brasil, mas da América Latina em sua maioria e de países como a Índia.
Em entrevista ao Poder360, ele afirma que, quando se compara os anos de 2020, 2021 e 2022, há um crescimento “inexplicável” de mortes por Srag (Síndrome respiratória aguda grave), tratando-se de uma subnotificação da covid-19.Apesar dos óbitos não notificados, o Brasil ainda tem um número de mortes por milhão alto em comparação com o resto do mundo, mas que está sendo ultrapassado por países do leste europeu. Em 7 de fevereiro, a Lituânia ultrapassou o Brasil, que está agora no 13º lugar no ranking mundial, com 3.038.
VACINAÇÃO
Para a epidemiologista e ex-coordenadora do PNI (Programa Nacional de Imunização), Carla Domingues, o cenário de mortes poderia “ter mudado completamente” se o país tivesse realizado uma vacinação precoce.
Domingues afirma ao Poder360 que, pela estrutura do PNI, o Brasil poderia ter atingido os índices atuais de vacinação em julho de 2021.O país tem 72,4% da população imunizada com as duas doses ou dose única. No ranking mundial, se encontra na 32ª posição, ficando atrás de Cuba e da China -ambos países alvos de críticas do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Vecina também aponta a compra atrasada de vacinas como um fator para o Brasil não estar melhor colocado no ranking.
De 14 de agosto a 12 de setembro de 2020, o governo federal ignorou 10 e-mails enviados pela farmacêutica Pfizer para discutir a venda de vacinas contra a covid-19 ao Brasil.
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello relatou à CPI (Comissão parlamentar de inquérito) que negou propostas da Pfizer em 2020 porque o preço era elevado, as questões de logística eram de responsabilidade do Brasil e a quantidade inferior a outros laboratórios com os quais negociava à época.
Além disso, segundo o depoimento do diretor do Instituto Butantan à CPI, Dimas Covas, Bolsonaro teria atrapalhado as negociações do acordo de fornecimento de vacinas contra a covid-19 para o Ministério da Saúde e também o desenvolvimento da Coronavac.
Em 21 de outubro de 2020, Bolsonaro disse que não compraria a “vacina chinesa” mesmo que ela fosse aprovada pela Anvisa.
ERROS
O fundador e ex-presidente da Anvisa mencionou ainda os erros cometidos pelo Brasil na gestão da pandemia. Segundo ele, a crise foi mal administrada e “todas as medidas não-farmacológicas foram ignoradas pelo governo”.
“O uso do kit covid foi um desastre. Não tem explicação para permitir o uso do kit covid e isso reverbera até hoje”, disse Vecina em referência ao conjunto de medicamentos sem comprovação científica amplamente defendidos pelo presidente.
Ele também critica a demora do governo em reconhecer medicamentos importantes no tratamento de pacientes com a covid-19. “Até agora não temos sinal de que vamos ter o Paxlovid para reduzir a mortalidade”.
Vecina acrescenta que países europeus e os EUA já fazem uso do remédio viral, mas que, no Brasil, falta uma sinalização por parte do Ministério da Saúde para a Anvisa.
A falta de coordenação nacional e de alinhamento entre o governo federal e os governos estaduais e municipais também foram apontadas por ambos os médicos como um erro durante a pandemia.
Domingues defende um Ministério da Saúde com liderança no SUS (Sistema de Saúde Único), que estabeleça decisões nacionais de maneira “integrada” aos municípios.
FUTURO
Tanto Domingues quanto Vecina afirmam que dificilmente haverá uma próxima onda da doença, a não ser que ocorra o surgimento de uma nova cepa.
No entanto, Vecina afirma acreditar que também acha “difícil” que o aparecimento de mais uma variante ocorra. Para ele, a doença deve entrar em estado endêmico.
Quanto ao futuro, o sanitarista declara que, para a próxima crise, o Brasil precisará de um sistema de acompanhamento do mundo das doenças.
Já Domingues menciona a necessidade do país ter indicadores epidemiológicos que definam “quando, como e onde” definir as novas ações para nortear o combate à pandemia.