A Tropa de Elite de Mato Grosso abriu os portões do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e mostrou por que está entre as melhores tropas policiais especializadas em combates urbanos e rurais do Brasil. O batalhão é, hoje, uma referência no Brasil.
O Bope atua em Mato Grosso desde 1988, com a criação da Companhia de Operações Especiais (COE), constituída com a finalidade de preencher a lacuna no combate ao crime organizado.
Com o desmembramento do batalhão da 2ª Companhia (Rotam), em 2009, o Bope passou a ser constituído somente pelo efetivo remanescente da Companhia de Operações Especiais e, hoje, é formado por aproximadamente cem policiais militares, que atuam nas mais diversas funções.
O Bope não foi criado para ser a solução para os problema da Segurança Pública. Mas, sim, para garantir que o Estado se faça presente onde, e quando, for necessário.
O batalhão atua no combate ao crime organizado, na captura ou neutralização de seus agentes; captura de bandidos, fortemente armados e entrincheirados; resgate de pessoas mantidas reféns; controle em rebeliões de presos.
O Bope também presta apoio ao Departamento do Sistema Penitenciário (Desipe), nas escoltas de presos de alta periculosidade. A Tropa de Elite de Mato Grosso é especializada em operações especiais de longo período, em áreas rurais e terrenos pantanosos.
Missão cumprida
Em situações extrema de insegurança, o batalhão deve prover o negociador e planejar a melhor forma de devolver a segurança ao cidadão. Em alguns casos, quando não há mais como negociar, o militar do Bope terá que usar o tiro de comprometimento. Isso ocorre quando uma pessoa é tomada como refém e já se esgotaram todas as possibilidades de negociação. Nesse caso, é matar o bandido e impedir que o refém morra.
Em situações como essa, entra em ação o "sniper", o atirador de precisão. Cabe a esse policial a missão de abater o bandido, com um único tiro e salvar o refém. Não há possibilidade de haver o mínimo erro, por isso os militares do Bope usam o lema: “Missão dada é missão cumprida”.
Caveiras
Os militares do Bope usam a caveira como símbolo e assim são conhecidos. A caveira simboliza o raciocínio, inteligência e a missão para as "Operações Especiais". A faca na caveira simboliza a vitória da vida sobre a morte.
Esses policiais estão prontos para o enfrentamento 24 horas por dia. Eles são colocados em ação nos momentos mais críticos de insegurança pública. Os Caveiras são os policiais mais bem treinados e preparados de todo o Estado. Um seleto grupo de militares que fizeram do Bope a sua filosofia de vida.
Um Caveira tem que seguir onze mandamentos essenciais ao desempenho de sua função: agressividade controlada, controle emocional, disciplina consciente, espírito de corpo, honestidade, iniciativa, lealdade, liderança, perseverança e versatilidade.
Ingresso no Bope
Para ingressar no Bope, o policial militar deve se inscrever no Curso de Operações Especiais (Coesp) ou no Curso de Ações Táticas (CAT). Os dois cursos são oferecido pelo Estado para soldados, cabos e sargentos. Os que não conseguem concluir todas as etapas de cada curso são desligados.
O CAT tem duração de aproximadamente 50 dias e um custo estimado em R$ 400 mil cada turma. Os operadores são preparados com técnicas de tiro especial, negociações, operações em selva e patrulha.
Já no Coesp, que tem custo médio de R$ 900 mil, os militares ficam até cinco meses estudando e treinando táticas de enfrentamento. O curso prepara os militares para operar, planejar e treinar outros policiais. Eles fazem curso de mergulho em queda livre, salto de paraquedas e trabalho em montanha.
Os aprovados no curso do Coesp também passam por aprendizagem de artes marciais, como jiu jitsu, muay thai e kombate. Além do treino específico para a atividade policial.
O comandante do Bope, major Jonildo José de Assis, disse ao MidiaNews que não é fácil e nem barato treinar um profissional para ingressar na Tropa de Elite.
“Não é fácil formar um policial para o Bope, e também não é toda pessoa que pode se candidatar. O militar que quer ser um caveira tem que ter uma carreira com postura irrefutável, não admitimos nenhum tipo de desvio de conduta. Esse policial vai passar por exames de saúde, psicológico, testes físicos. Somente depois que passar nesses filtros, ele será chamado para fazer o curso. Se passar, ele tem o compromisso de ficar pelo menos dois anos na tropa. É um curso de alto valor, é muito caro formar um policial do Bope”, explicou o major.
Cursos de especialização
O Bope de Mato Grosso é a única Polícia que forma atiradores de precisão. O capitão Marcos Eduardo Paccola é considerado um dos melhores snipers do Brasil, e é instrutor no curso de atirador policial de precisão.
Paccola já capacitou policiais que atuam em Unidades de Operações Especiais de Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pará, Ceará, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Alagoas e Maranhão.
Atualmente, o Bope está capacitando policiais para atuarem como explosivista. O capitão Fabiano Pessoa recebeu esse mesmo treinamento na Colômbia. Agora, ele é o responsável por disseminar o conhecimento para outros policiais.
"Novo Cangaço"
O Bope é essencial nos casos de envolvem assaltos com reféns. Em 2011, a Tropa de Elite saiu à caça de quadrilhas que atuam na modalidade Novo Cangaço.
Os Caveiras usam táticas de buscas na selva, uma especialidade o Bope de Mato Grosso. O capitão Fernando Santiago revelou que é preciso muito preparo para enfrentar situações desse tipo.
“Em 2011, passei praticamente cinco meses fora de casa, somente resolvendo situações desse tipo. Somos chamados para caçar os bandidos, já chegamos com mais de seis horas de diferença, no local do assalto e conseguimos rastrear. As constantes ações do Bope diminuíram o poderio de quadrilhas Novo Cangaço. A missão nunca é fácil, mas somos preparados para suprir as dificuldades. Não sabemos o que vamos encontrar, mas estamos preparados para o que vier”, disse Santiago.
Estrutura
Atualmente, o Bope possui uma Companhia de Intervenção Tática, constituída pelos Caveiras. Eles são responsáveis por realizar as operações policiais de alta complexidade.
O Batalhão possui ainda uma Companhia de Gerenciamento de Crises e Contra Terror, constituída de policiais militares especialista da área de negociação, explosivos, e tiro policial de precisão. Os Caveiras também são responsáveis pela Companhia de Intervenção Tática, que é usada para resolução de situações consideradas de altíssima complexidade.
O Bope possui também a companhia de comando e serviço, que é constituída de policiais militares responsáveis por atuar na segurança das instalações, controle e manutenção dos armamentos e equipamentos.
Existe também um Núcleo de Inteligência formado por policiais militares que fazem o levantamento de informações para planejar as operações. A seção administrativa é constituída de policiais militares responsáveis pelas atividades de controle dos recursos humanos, planejamento e estatística.
Judô Bope
O batalhão mantém o projeto Judô Bope, que atende 300 crianças de quatro a 16 anos. Não há custo nenhum para os aprendizes, que ganham até o quimono.
Para participar, os menores devem estar estudando, precisam de uma autorização dos pais. Quem faltar três aulas é desligado do programa. Também não é permitido que alunos usem o que aprenderam em brigas de rua ou competições.
O capitão Adalberto Correa Júnior é o idealizador e explicou que a finalidade não é apenas dar aulas de artes marciais, mas sim formar cidadãos.
“Damos o curso de judô, mas o foco principal é a disciplina. Temos esse diferencial das outras academias. Queremos que nossos discípulos aprendam a ter disciplina e a ser cidadãos de bem. Nossas regras são rígidas e levamos todas a sério. Os alunos tem que saber que fazem parte do Bope e isso é uma grande responsabilidade”, disse.
O projeto foi executado com doações de médicos, empresários, e voluntários que reformaram o tatame e adquiriram os quimonos.