Com o objetivo de marcar o Dia Internacional das Populações Indígenas (instituído pela ONU), que se comemora nesta segunda-feira, dia 9, a Survival International, organização de apoio fundada em 1969 com objetivo de ajudar-lhes a defender as suas vidas, proteger as suas terras e decidir o seu próprio futuro, publicou um relatório que denuncia o impacto devastador que a construção de hidrelétricas tem em povos indígenas. E cita como maior exemplo a situação que acontece no Norte do Estado. A construção de um complexo de 29 usinas na região deverá afetar os Enawene Nawe, no Noroeste de Mato Grosso, e vários grupos de índios isolados, sem contato com o chamado “homem branco”. Recentemente, os índios ocuparam um canteiro de obras da Hidrelétrica de Dardanelos, quando fizeram dezenas de funcionários como reféns, em busca de uma solução negociada. Os Enawene Nawe vivem em uma área de savana e floresta tropical. Embora a maior parte das terras foi reconhecida oficialmente em 1996, uma área crucial chamado "Rio Preto", no qual os índios se reúnem todo ano para pescar, ficou de fora. Os índios temem que as barragens poluam a água e destruirá a pesca, da qual dependem totalmenteuma vez que eles não comem carne vermelha. De acordo com a Survival, além da ameaça das hidrelétricas, a a área está sendo invadida por fazendeiros. A construção de usinas hidrelétricas tem crescido rapidamente no mundo atual. Somente o Banco Mundial está investindo 11 bilhões de dólares em 211 obras de hidroenergia. Utilizando exemplos da Ásia, da África e das Américas, o relatório da Survival, intitulado 'Serious Damage', expõe os custos não revelados sobre a obtenção de eletricidade ‘verde’ por meio de grandes usinas hidrelétricas. O impacto dessas obras em povos indígenas é profundo. Centenas de indígenas no Brasil irão participar de um encontro esta semana para protestar contra a controversa usina de Belo Monte, que ameaça o território e o fornecimento de alimentos de várias tribos. Além dos índios de Mato Grosso, a Survival relava a situação do povo Penan, em Sarawak, que será expulso para a construção de uma usina, e tribos na Etiópia poderiam ser forçadas a depender de auxílio alimentício caso uma usina em construção no famoso Rio Omo não seja interrompida. Um membro do povo Kwegu, do Vale do Rio Omo, contou: “Nossa terra se tornou ruim. Fecharam nosso acesso à água e passamos a conhecer a fome. Abram a barragem e deixem a água fluir.” O primeiro relatório da ONU sobre o Estado dos Povos Indígenas do Mundo, de janeiro de 2010, apresentou estatísticas alarmantes. Em alguns países, povos indígenas estão 600 vezes mais vulneráveis a contraírem tuberculose em relação ao resto da população. Em outros, uma criança indígena tem a expectativa de vida 20 anos menor do que seus compatriotas não-indígenas”, disse Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU.
Segundo a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, existem motivos para celebrar o progresso alcançado ao tornar os direitos humanos uma realidade para os povos indígenas. Ela destacou que o Dia Internacional dos Povos Indígenas também é uma ocasião para lembrar que “não há espaço” para a complacência. “As constantes violações dos direitos dos povos indígenas, em todas as regiões do mundo, merecem nossa atenção e acção máximas” – frisou. |