O aumento nos preços dos aluguéis e a expansão do crédito imobiliário ajudaram o brasileiro em 2010 a concretizar o sonho da casa própria. Os financiamentos com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e a poupança pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) bateram recordes sucessivos, com mais de 1,4 milhão de unidades financiadas, sendo 950 mil pelo programa Minha Casa, Minha Vida e 450 mil pela poupança, segundo João Crestana, presidente do Secovi-SP (sindicato da habitação de São Paulo).
– Isso é um aumento recorde, tendo em vista que nos anos 80 o financiamento atingia 650 mil unidades e nos anos 90 caiu para pouco mais de 20 mil, com o fim do BNH [Banco Nacional de Habitação]. Estamos agora próximos aos padrões internacionais, mas ainda longe dos países mais ricos, como os Estados Unidos.
O fim do BNH, que funcionava como um banco de fomento à habitação, em 1986, trouxe um atraso ao setor, que contribuiu para o déficit (saldo negativo de casas) de 7 milhões no país. Esse número, que representa o volume de pessoas que não possuem casa própria, passou a diminuir com a criação de programas assistencialistas, como o Minha Casa, Minha Vida e também a Lei do Inquilinato – que trouxe mais segurança ao proprietário do imóvel.
Com isso, em vez de pagar R$ 800 de aluguel para morar no centro de São Paulo, segundo levantamento do Creci-Sp (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis da capital), a população da baixa renda começou a migrar para os financiamentos imobiliários ou trocar o aluguel dos imóveis nas regiões centrais das capitais para a periferia, como explica José Augusto Viana Neto, presidente da instituição.
– A influência do IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado, usado no reajuste dos contratos de imóveis) é pequena, apesar dele ter aumentado muito. O grande problema é quando vence os 30 meses [prazo para locação do imóvel]. Esses imóveis estavam alugados por 0,5% do valor e agora o proprietário pede 1% do imóvel. Está muito caro morar de aluguel e a classe C prefere se endividar na compra da casa ou ir morar na periferia onde ela paga metade do preço.
Viana afirma ainda que os aluguéis devem continuar a subir não só em 2011, mas também nos próximos dez anos. O motivo? O resultado da Lei do Inquilinato, criada em janeiro de 2010, irá trazer aos poucos mais confiança no mercado de investidores para voltarem a comprar imóveis e, com isso, expandir o setor de locação.
Enquanto isso, a população da baixa renda tem preferido contratar um financiamento a perder de vista do que ficar refém dos aluguéis que só neste ano aumentaram mais que 10%, o dobro da inflação medida no ano, de 5,6%.