A aprovação do projeto de lei conhecido como “cura gay” na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, presidida pelo deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP), considerado racista e homofóbico, também é rechaçada em Mato Grosso pelos representantes do movimento gay que luta pelos direitos da população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais ( LGBT). Aqui no Estado, os ativistas da causa já se articulam para pressionar a bancada federal mato-grossense a votar contra o projeto caso ele chegue a entrar em pauta de votação no plenário. Presidente da Ong Livre Mente, que defende os direitos da população homossexual em Mato Grosso, o professor Clóvis Arantes afirma que a proposta é absurda e ferE frontalmente a Constituição Federal do Brasil e o direito da pessoa humana.
Professor Clóvis Arantes diz que ‘cura gay’ é aburdo que fere a Constituição Federal do Brasil e os direitos da pessoa humana; MT rechaça o projeto |
Apesar da aprovação do projeto de decreto legislativo (PDL 234/11) de autoria do deputado federal João Campos (PSDB-GO) ter sido aprovado na Comissão de Direitos Humanos, Clóvis diz ter a certeza que as demais comissões não farão o mesmo e vão rejeitar. De qualquer forma, para mostrar o “absurdo e as contradições” do projeto ele ironiza e faz chacota questionando se toda a população homossexual braseira terá, por exemplo, direito a afastamento pelo INSS para se tratar, já que está sendo considerada como doente pela proposta de lei.
O polêmico projeto altera resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP), visando permitir tratamentos psicológicos para ‘curar‘ homossexuais, por isso foi batizado popularmente como “projeto da cura gay”. A medida é defendida por integrantes da bancada evangélica e contraria as convenções nacionais e internacionais sobre o tema, como a resolução da Organização Mundial da Saúde, que em 1990 retirou o a homossexualidade da lista internacional de doenças. Encampado pelo deputado federal Marco Feliciano, o projeto tem gerado críticas por todo o país pois se for aprovada a mudança, o Sistema Único de Saúde (SUS) deverá atender “pacientes gays” que queiram se tratar para se “curar” da homossexualidade.
Mas Clóvis Arantes diz não acreditar que o projeto vá pra frente. “Só que temos que ter muita cautela, porque o Congresso em número de fundamentalistas cresceu muito. Mas a loucura dessa Comissão ter aprovado isso não cabe que as outras comissões também vão ser insanas de aprovar essa lei”, ressalta. Segundo ele, a maior preocupação neste momento é para que os ativistas da causa possam ocupar as manifestações que vem ocorrendo pelo país e “colocar nossa bandeira nessas manifestações. Porque se são manifestações populares, os direitos humanos da população LGBT têm que estar presente. Nós vamos estar em todas essas mobilizações e já entramos no Ministério Público Federal contra essa atitude”, acrescenta.
Arantes ressalta, porém, que a votação na Comissão de Direitos Humanos não foi feita na surdina porque o Congresso Nacional inteiro está sabendo. “Então nós estamos mobilizados e continuamos nos mobilizando os nossos congressistas pra que barrem esse absurdo que é essa lei que fere a Constituição, que fere frontalmente o direito da pessoa humana”, afirma Clóvis. Em Mato Grosso, segundo ele, além de ficar atento às mobilizações populares, os representantes da causa também vão acompanhar a Assembleia Legislativa que tem que votar um projeto que garanta os direitos da população LGBT nos ambientes públicos aqui do Estado.
![]() Clóvis Arantes defende que ativistas ocupem as manifestações em MT contra projeto da ‘cura gay’ |
Sobre o fato de aconselhar os gays a acionarem o INSS em busca de afastamento e auxílio saúde, ele destaca que é uma forma de mostrar as contradições do projeto que precisa ser barrado. “É claro que fizemos uma chacota de como isso é um absurdo né, porque se eu sou considerado um doente e tenho que ter um tratamento como está propondo o Marco Feliciano, eu tenho que ter as garantias do Estado de que vou poder fazer o tratamento incluído de todos os benefícios. Isso é um absurdo pra uma população que é sadia, que contribui com a economia do país, com uma população que está à frente de todos os mercados de trabalho. Então, temos que tratar como uma chacota. E aqui em Mato Grosso vamos rechaçar com veemência essa atitude da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal”,afirma o presidente da Ong Livre Mente.
Questionado se apesar da pressão popular e dos Conselhos de Medicina e Psicologia para que o projeto seja barrado, ele acabe aprovado e vire lei, se ele acredita que a rede pública de saúde bem como o INSS terão capacidade para arcarem com “auxílio doença” e tratamento para os gays e lésbicas, Clóvis diz que haveria muitas divergências. Mas ressalta que isso não acontecerá. “Eles mesmo vão cair em contradição porque somos 10% da população brasileira. Então imagine você, toda essa população tendo direitos a entrar no INSS se nós já temos uma previdência falida! Imagine com essa situação. Então é uma proposta que nem eles mesmo sabem a dimensão da loucura e do absurdo que estão propondo”, enfatiza.
Educação despreparada
Outra problemática envolvendo a população segundo, Clóvis Arantes que é professor e funcionário público da rede estadual, é que as escolas ainda não conseguem trabalhar a educação com foco nos direitos humanos. “Ou seja, uma educação que valoriza o ser humano independente da sua orientação sexual. E nós vemos com muita preocupação porque se nas escolas nós não vamos divulgar isso. Quando vem a Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional e diz que uma pessoa homossexual é doente nós vamos ter na escola a reprodução disso. Vamos ter os professores tratando crianças como se fossem doentes, vamos ter os psicólogos tratando os pacientes como doentes, nós vamos ter uma sociedade do caos, onde tendência é ampliar a homofobia, essa violência contra o público LGBT no ambiente escolar”, diz ele preocupado.
Conta ainda que nas discussões da Conferência Nacional da Educação (Conae) ele participou de um Grupo de Trabalho (GT) da Diversidade e ficou mais preocupado ainda. “Pra mim foi muito decepcionante quando as propostas da Conae passada traziam o debate da questão da diversidade incluindo gays, lésbicas, travestis e vinham propostas de escolas pedindo pra retirar justamente a população de gays, lésbicas, travestis daquele pleito. Isso é um retrocesso no avanço das discussões de direitos humanos, não é de privilégios, é a discussão que precisa abarcar todas as populações”, ressalta.