Além da revelação, fez questão de mostrar que é líder na Seleção. Pediu a permanência de Felipão.
Teresópolis…
“Se a pancada fosse dois centímetros para dentro, eu… poderia ter acabado em uma cadeira de rodas agora…” Neymar não consegue terminar de falar. E começa a chorar. As lágrimas inundam seus olhos. Foi o momento mais tocante, verdadeiro na absurda concentração da Seleção, na Granja Comary.
O médico José Luiz Runco e os médicos do Barcelona que o examinaram foram diretos. Ele deveria agradecer a Deus pela pancada que rompeu sua vértebra apenas. Se atingisse a medula, ele ficaria paraplégico.
“Quando ele tomou a pancada e cheguei perto dele. E tomei um susto. Ele não conseguia mexer as pernas. Foi assustador”, a revelação de Marcelo era verdadeira.
Neymar esteve a ponto de ficar inutilizado para o futebol. Poucas pessoas tinham a verdadeira dimensão de sua contusão.
“Foi um lance que não concordo, não aceito. Não vou falar que foi desleal. Não estou na cabeça dele. Todos que entendem de futebol todos que sabe que é uma entrada que não é normal. Quer fazer uma falta por trás, matar um contragolpe, chute o tornozelo, segura, empurra.
“Não é de situação de jogo. Muitos de vocês falam que fui cai cai, nem ligo. Quando estou de frente ou com a minha visão periférica está para acontecer, eu me protejo.
“Mas de costas não consigo me defender. De costas quem defende é a regra. Deus me abençoou, me protegeu. Tudo poderia ter sido muito, mas muito pior. Sofri demais. Foi a pior semana da minha vida.”
Depois da pancada do colombiano Zúñiga, tudo está se encaminhando como o médico da Seleção, José Luiz Runco, havia previsto. Neymar sentiria dores enormes, mesmo sedado. E uma cinta apertada deixaria imobilizada a sua coluna. A vértebra voltará a se consolidar sozinha. Não será necessária intervenção cirúrgica.
Perguntado se ele perdoaria Zúñiga foi direto. Mostrou sua forte formação religiosa.
“Desculparia, sim. Não tenho rancor, ódio. Ele até me ligou, falando que não queria me machucar, que sentia muito. Desejo que Deus o abençoe e que ele tenha sucesso na carreira dele.”
Neymar já consegue andar. Pouco, mas consegue. A previsão é que dentro de 45 dias consiga voltar a jogar futebol. O jogador fez questão de vir à granja Comary para se encontrar com os atletas que foram goleados por 7 a 1 pela Alemanha. Com Felipão. Exercer sua liderança junto ao grupo.
Ele aprendeu muito bem a usar o poder midiático que o cerca. Ele fez questão de aparecer na entrevista com uma camisa do Brasil autografada por todo o time. Era uma resposta. Para Neymar, a idolatria aos seus companheiros não poderia virar desprezo.
Pediu para dar entrevista. Sabia que desviaria o foco dos seus massacrados companheiros. Cumpriu muito bem sua missão. Não quis seguir o que aprendeu com os assessores. Não fingiu que respondeu. Respondeu de verdade as perguntas. Não se arrependeu por ter sido sincero…
“Até a partida contra a Alemanha éramos tratados como os melhores. Agora são ruins, ninguém presta. Não é assim. O que aconteceu foi um apagão, que eu também não tenho como explicar. Foi inacreditável. Inexplicável. Já tive esse esse tipo de apagão em campo (derrota do Santos por 4 a 0 para o Barcelona). Fica difícil reverter. Você tenta reorganizar e não consegue.”
Neymar fez questão de defender não só o time como também Felipão. Fiz duas perguntas a ele. Ele foi sincero, deu a sua verdade.
“O grupo tinha potencial a Copa?
“Felipão deve ser perdoado e seguir na Seleção Brasileira?”
“Qualquer jogador que está aqui poderia jogar em qualquer time do mundo. O grupo tinha sim potencial a Copa. Se não fosse o apagão. Por isso que eu chorei tanto depois do jogo. Até porque uma derrota pode acontecer com qualquer time do mundo. Mas não da forma que foi. Doeu demais.”
“Se o Felipão deve ser perdoado e continuar? Eu acho que o errado no futebol brasileiro é essa mania de trocar tudo quanto algo de errado acontece. Tem de mudar o técnico, os jogadores. Não é assim. Em vez de mudar, tem de corrigir.”
Neymar é favorável à permanência de Felipão no comando da Seleção. Ele deixou isso claro para José Maria Marin que veio à Teresópolis. O presidente da CBF se reuniu com Felipão. Não há a confirmação.
Mas já há quem garanta que Marin quer que o treinador fique na Seleção, até pelo menos o final do ano. Em janeiro de 2014, Marco Polo del Nero assume a CBF. Aí decidiria que rumo tomar. Mas Felipão tem um cabo eleitoral importantíssimo.
Para que mantenha essa possibilidade é fundamental que pelo menos vença a Holanda, sábado em Brasília. E consiga a terceira colocação na Copa. Neymar já garantiu. Irá para o jogo junto com a delegação. E ficará no banco de reservas. Aos 22 anos, está aprendendo a ser líder de verdade.
Confirmou que irá torcer para Messi ser campeão do mundo com a Argentina. “Não sou um brasileiro torcendo para a Argentina. Isso, não. Sou Messi Futebol Clube, meu amigo e companheiro. Torço por ele e por Mascherano. Não pela Argentina.”
Ao final da entrevista, levantou com toda a dificuldade da cadeira onde deu uma das mais verdadeiras entrevistas da carreira. Como recebeu algo inesperado. A imprensa brasileira como um todo o aplaudiu.
Os jornalistas perceberam estar diante de um dos melhores jogadores do mundo. E profundamente comprometido com a Seleção. Mesmo depois da pior derrota de sua história. Mereceu cada palma que recebeu…
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“As lágrimas de Neymar.”Dois centímetros para dentro e eu poderia ter acabado em uma cadeira de rodas.” Além da revelação, fez questão de mostrar que é líder na Seleção. Pediu a permanência de Felipão…”