Após sete anos no governo, Mantega sofre desgaste com críticas internacionais e tem cargo ameaçado

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Carolina Martins, do R7, em Brasília

Valter Campanato/ABrDesgaste causado por críticas internacinais colocam ministro da Fazenda na berlinda. Guido Mantega está no cargo há sete anos

No comando do Ministério da Fazenda há sete anos, Guido Mantega pode ser tornar o ministro com maior tempo de permanência no cargo, se resistir ao desgaste gerado pelas críticas internacionais depois do baixo crescimento econômico do Brasil em 2012.

Chefe da política econômica desde o segundo mandato de Lula, em 2006, Mantega passou a ser questionado depois que prometeu até 4,5% de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado, mas o mercado estima um crescimento de 1%.

Para o cientista político e professor da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Ricardo Ismael, foi essa estimativa errada que abalou a credibilidade do ministro no exterior. Segundo ele, não se pode criar “ilusões” econômicas.

— Perdeu credibilidade porque havia a promessa de um crescimento robusto em 2012 e não se concretizou. O governo não pode criar expectativas falsas. Defender a política econômica tudo bem, mas sem criar ilusões.

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O cientista político do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da USP (Universidade de São Paulo), Christian Lohbauer , também atribui o desgaste de Mantega  à decepção do mercado externo com o desenvolvimento do Brasil. Segundo ele, os julgamentos das revistas internacionais são, na verdade, uma autocrítica.

— Há seis anos esses veículos despertaram para o Brasil e esperavam um grande salto para o desenvolvimento. Agora, eles fizeram uma análise do que foi feito nesse período. E não foi feito nada. As expectativas que se colocaram foram um fracasso e o capital internacional não tem tempo para ficar esperando o Brasil.

Críticas internacionais

Em dezembro do ano passado, o ministro da Fazenda foi criticado por duas publicações britânicas de peso no mundo globalizado dos negócios.

A revista The Economist afirmou, em seu editorial, que a economia brasileira era uma "criatura morimbunda" que estava paralisada e lutava para se recuperar. A revista sugeriu que a presidente Dilma Rousseff faria melhor se demitisse o ministro Guido Mantega.

Na ocasião, a presidente saiu em defesa da política econômica brasileira e deixou claro que não se deixaria influenciar por uma revista estrangeira.

Semanas depois, o desempenho da economia brasileira foi satirizado no conto de Natal do blog beyondbrics, do jornalFinancial Times. O texto criticava as previsões sempre otimistas do ministro da Fazenda, que foi caracterizado como  o “elfo vidente".

Durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, no fim do ano passado, a presidente reafirmou que o ministro sairia do governo somente se quisesse.

— O Mantega não tem a menor hipótese de sair do meu governo. A não ser que ele queira.

Mas, para o cientista político da UnB (Universidade de Brasília), João Paulo Peixoto, as declarações da presidente Dilma não garantem a permanência de Guido Mantega no Ministério da Fazenda.

Para o especialista, o que vai determinar se Mantega fica ou não no cargo são os resultados da política econômica.

— A declaração da presidente pode ter sido formal, dirigentes não gostam de demitir ninguém por pressão de terceiros.  São as circunstâncias econômicas internacionais, o desenvolvimento da economia, que vão definir a saída ou a permanência do ministro.

Resposta às críticas

Os especialistas ouvidos pelo R7 concordam que o Brasil precisa dar uma resposta ao mercado internacional, uma vez que o País depende de investimentos estrangeiros. Segundo os cientistas políticos, a equipe econômica do governo tem de ficar atenta à avaliação que está sendo feita do Brasil.

No entanto, o professor da PUC-Rio pondera que o ministro não poder ser julgado somente pelo o que fez no último ano. Para Ricardo Ismael é preciso levar em conta o direcionamento da política econômica do País e seus possíveis resultados em longo prazo.

— É claro que as críticas trazem uma repercussão num mundo dos negócios e o Brasil se sente na obrigação de desmentir. O governo não fica indiferente a essas crises. Mas, a política econômica do governo não pode ser avaliada somente por um ano, ou por um resultado em curto prazo.

O cientista político da USP alega que substituir o ministro não seria uma resposta suficiente para o mercado internacional. Para Christian Lohbauer, o que está incomodando são as diretrizes econômicas.

— A repercussão é péssima para o Brasil. O País não tem nenhuma condição pública de reagir a essa situação.

Tempo recorde como ministro

Somente o ex-ministro Pedro Malan ficou tanto tempo à frente do Ministério da Fazenda como Guido Mantega. Malan assumiu o cargo em 1995, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso e saiu somente em 2002, no fim da Era FHC.

Mesmo antes do desgaste de sua imagem, o ministro Mantega teria manifestado vontade de deixar o cargo, no início do ano passado. Ele cogitou abandonar o governo para se dedicar ao tratamento de saúde da sua mulher, que enfrenta um câncer.

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