No comando do Ministério da Fazenda há sete anos, Guido Mantega pode ser tornar o ministro com maior tempo de permanência no cargo, se resistir ao desgaste gerado pelas críticas internacionais depois do baixo crescimento econômico do Brasil em 2012.
Chefe da política econômica desde o segundo mandato de Lula, em 2006, Mantega passou a ser questionado depois que prometeu até 4,5% de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) no ano passado, mas o mercado estima um crescimento de 1%.
Para o cientista político e professor da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Ricardo Ismael, foi essa estimativa errada que abalou a credibilidade do ministro no exterior. Segundo ele, não se pode criar “ilusões” econômicas.
— Perdeu credibilidade porque havia a promessa de um crescimento robusto em 2012 e não se concretizou. O governo não pode criar expectativas falsas. Defender a política econômica tudo bem, mas sem criar ilusões.
O cientista político do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da USP (Universidade de São Paulo), Christian Lohbauer , também atribui o desgaste de Mantega à decepção do mercado externo com o desenvolvimento do Brasil. Segundo ele, os julgamentos das revistas internacionais são, na verdade, uma autocrítica.
— Há seis anos esses veículos despertaram para o Brasil e esperavam um grande salto para o desenvolvimento. Agora, eles fizeram uma análise do que foi feito nesse período. E não foi feito nada. As expectativas que se colocaram foram um fracasso e o capital internacional não tem tempo para ficar esperando o Brasil.
Críticas internacionais
Em dezembro do ano passado, o ministro da Fazenda foi criticado por duas publicações britânicas de peso no mundo globalizado dos negócios.
A revista The Economist afirmou, em seu editorial, que a economia brasileira era uma "criatura morimbunda" que estava paralisada e lutava para se recuperar. A revista sugeriu que a presidente Dilma Rousseff faria melhor se demitisse o ministro Guido Mantega.
Semanas depois, o desempenho da economia brasileira foi satirizado no conto de Natal do blog beyondbrics, do jornalFinancial Times. O texto criticava as previsões sempre otimistas do ministro da Fazenda, que foi caracterizado como o “elfo vidente".
Durante café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, no fim do ano passado, a presidente reafirmou que o ministro sairia do governo somente se quisesse.
— O Mantega não tem a menor hipótese de sair do meu governo. A não ser que ele queira.
Mas, para o cientista político da UnB (Universidade de Brasília), João Paulo Peixoto, as declarações da presidente Dilma não garantem a permanência de Guido Mantega no Ministério da Fazenda.
Para o especialista, o que vai determinar se Mantega fica ou não no cargo são os resultados da política econômica.
— A declaração da presidente pode ter sido formal, dirigentes não gostam de demitir ninguém por pressão de terceiros. São as circunstâncias econômicas internacionais, o desenvolvimento da economia, que vão definir a saída ou a permanência do ministro.
Resposta às críticas
Os especialistas ouvidos pelo R7 concordam que o Brasil precisa dar uma resposta ao mercado internacional, uma vez que o País depende de investimentos estrangeiros. Segundo os cientistas políticos, a equipe econômica do governo tem de ficar atenta à avaliação que está sendo feita do Brasil.
No entanto, o professor da PUC-Rio pondera que o ministro não poder ser julgado somente pelo o que fez no último ano. Para Ricardo Ismael é preciso levar em conta o direcionamento da política econômica do País e seus possíveis resultados em longo prazo.
— É claro que as críticas trazem uma repercussão num mundo dos negócios e o Brasil se sente na obrigação de desmentir. O governo não fica indiferente a essas crises. Mas, a política econômica do governo não pode ser avaliada somente por um ano, ou por um resultado em curto prazo.
O cientista político da USP alega que substituir o ministro não seria uma resposta suficiente para o mercado internacional. Para Christian Lohbauer, o que está incomodando são as diretrizes econômicas.
— A repercussão é péssima para o Brasil. O País não tem nenhuma condição pública de reagir a essa situação.
Tempo recorde como ministro
Somente o ex-ministro Pedro Malan ficou tanto tempo à frente do Ministério da Fazenda como Guido Mantega. Malan assumiu o cargo em 1995, no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso e saiu somente em 2002, no fim da Era FHC.
Mesmo antes do desgaste de sua imagem, o ministro Mantega teria manifestado vontade de deixar o cargo, no início do ano passado. Ele cogitou abandonar o governo para se dedicar ao tratamento de saúde da sua mulher, que enfrenta um câncer.