Após três anos e meio do acidente do voo 1907 da Gol, que vitimou 154 pessoas, no norte de Mato Grosso, os índios que vivem na reserva Kapot/Jarina voltam a pedir a retirada dos destroços do Boeing da floresta Amazônica. A Fundação Nacional do Índio (Funai) de Colíder (MT) informou que vai fazer um estudo ambiental na região para avaliar os danos provocados pela queda da aeronave e pela presença das peças do avião no local.
A Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Mato Grosso enviaram à Funai, na segunda quinzena de março, um relatório com informações sobre os problemas ambientais registrados pelos índios na região do acidente, ocorrido em setembro de 2006. A assessoria do governo estadual informou que só após análise do documento é que a ténicos ambientais poderão dizer o que deverá ser feito na reserva indígena.
O cacique Raoni Metuktire, da tribo kaiapó, disse ao G1 que a água na região ficou contaminada após o acidente. "Bebemos água com gosto ruim. A pesca e a caça na região estão ruins também. Já pedi para tirar tudo de lá e até agora ninguém foi fazer alguma coisa. O lugar é reserva indígena que precisa ser preservada."
Raoni afirmou ainda que vai pedir um posicionamento da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Gol sobre o que ele julga ser um descaso com a floresta amazônica. "Eu vou cobrar a retirada do avião de lá. Estragaram a terra do índio. Vou viajar para Brasília e para São Paulo falar com quem tem que tirar tudo de lá."
Além da remoção dos destroços, Raoni quer levar ambientalistas para o local e fazer um relatório detalhado sobre os impactos provocados pelo acidente na reserva indígena. "Vamos pedir indenização por causa dos danos". Segundo a Funai de Colíder, o estudo ambiental será feito por engenheiros ambientais e técnicos do Instituto Raoni, presidido pelo cacique homônimo.
Reserva indígena isolada
A área onde ocorreu o acidente com o Boeing da Gol tem 6.350km² e fica na reserva indígena Kapot/Jarina, que abriga cerca de mil índios das aldeias Kapot, Metuktire e Piaraçú.
Raoni afirmou que a reportagem do G1 foi a última equipe a entrar no local do acidente. "Nenhum índio pisou no local desde a expedição feita em 2007 com o Coronel Marcos Marinho, marido de uma das vítimas da queda do avião". O local ficou fechado desde então, afirmou o cacique.
Outro lado
Em nota, a Gol informou que contratou uma empresa para estudar o impacto ambiental causado dos restos da aeronave e que o laudo não só apontou a inexistência de dano permanente, como concluiu que qualquer tentativa de retirar os destroços causaria novos danos, já que seria necessária a abertura de outras clareiras, com derrubada de árvores.
A FAB informou ao G1 que os destroços pertencem ao proprietário da aeronave e não tem atribuição legal de fazer retirada das peças do local do acidente.