A inflação oficial de 6,49% divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na última quarta-feira (8) causou polêmica entre economistas e analistas, uma vez que o índice beirou os 6,5% — teto máximo estipulado pelo governo.
Analistas de mercado afirmam que os dados, mesmo ainda altos, foram maquiados. O teto da inflação já deveria ter sido ultrapassado, mas contou com ajuda da região metropolitana de São Paulo, que teve a menor inflação entre as 11 pesquisadas para o cálculo.
O motivo? Segurou o aumento do preço dos transportes e, ao que tudo indica, a pedido do governo federal. Na ocasião de divulgação do índice, a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, explicou:
— São Paulo contribuiu muito para conter a taxa do IPCA no ano. São Paulo não teve aumento nas tarifas dos ônibus urbanos, e a energia elétrica teve queda, variação negativa.
Medidas desesperadas
Para frear o aumento da perda do poder de compra dos brasileiros, o governo, além de segurar os cortes do juros, baixou os impostos das tarifas de energia elétrica. Outra ajuda para aliviar o IPCA foi a desoneração dos tributos da cesta básica.
A desoneração de impostos federais de todos os produtos da cesta básica, anunciada pela presidente Dilma Rousseff, deve aliviar as pressões sobre a taxa oficial de inflação, dizem consultores.
O IPCA ameaçava romper o teto da meta do governo de novo agora em março, analisa o economista Rafael Cortês, da consultora Tendências:
— Com o IPCA de fevereiro em 0,60%, algumas projeções diziam que a meta (de inflação) iria estourar já em março. Era uma tendência de rompimento no curto prazo. Acho que (a desoneração) é o suficiente para não estourar em março.
O economista explica que a redução de 9,25% do PIS/Cofins sobre os alimentos representa entre 0,3 e 0,4 ponto porcentual no IPCA.
Já o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, disse na ocasião, que a estratégia vai tirar um peso de 0,40 ponto porcentual no índice de inflação. O consumidor brasileiro tem participação neste processo, se recusando a pagar muito mais por um mesmo produto.
Aumento da Inflação
Medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial subiu em ritmo maior em abril ao marcar 0,55% e chegar alta de 6,49% nos últimos 12 meses. Dessa forma, o índice se afastou do “centro” de 4,5% estipulado pelo Governo. o “centro” recebe esse nome porque uma “margem de segurança”, que permite ao índice ficar dois pontos percentuais acima ou dois abaixo. Com isso, o índice ainda estará “sob controle” se ficar entre 2,5% e 6,5%.
Com a melhoria da renda e maior oferta de crédito, o brasileiro passou a ir mais às compras e contratar mais tipos de serviços. Se por um lado, o consumo potencializou a contribuição ao PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas por um País), do outro, aumentou a inflação.
Com maior procura por produtos e taxas de juros mais baixas, o aumento das vendas também incentivou o reajuste dos preços.
Como o desempenho do PIB decepcionou, o governo patina para manter o equilíbrio entre produção (importante para manutenção dos empregos e melhoria da renda) e o consumo (feito de forma consciente, privilegiando pagamento à vista e parcelamento reduzido incentivado por juros mais caros).
Depois de sucessivos cortes, o governo manteve a Selic, taxa de juros básicos da economia, em 7,25%. Se reduzisse os juros, incentivaria ainda mais o consumo e a inflação, o maior fantasma brasileiro, teria vencido.