Aliado do PT na eleição, PMDB já faz papel de oposição antes da posse de Dilma

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O PT e o PMDB deram um duro golpe na oposição ao se unirem em uma aliança inédita para disputar a Presidência da República este ano: os peemedebistas entregaram aos petistas o maior tempo na propaganda eleitoral gratuita e receberam em troca a vaga de vice na chapa de Dilma Rousseff, que ficou com o deputado federal Michel Temer (SP), presidente da Câmara. 

Mas antes que as comemorações pela vitória nas urnas terminassem, o PMDB interrompeu a festa entregando o resto da conta: montou um bloco com cinco partidos para garantir força contra o PT na hora de negociar a presidência da Câmara e mais cargos em estatais e ministérios. Para especialistas ouvidos pelo R7, o PMDB tomou o lugar da oposição antes mesmo que Dilma tomasse posse.

O anúncio do “blocão” foi feito na última terça-feira (16). O recado por trás do anúncio era de que, se não houver justiça com PMDB ,PP, PR, PTB e PSC na partilha dos cargos, o PT ficaria isolado. Para petistas, a tática foi a primeira traição do PMDB.

O cientista político Rui Tavares Maluf, da Fesp (Fundação Escola de Sociologia e Política), afirmou que só o PT ficou surpreso com a reação do aliado.

– O PMDB perdeu a coesão interna desde a morte de Ulysses Guimarães [em 1992]. Para o partido é quase impossível pensar em política pública sem cargos.

Enquanto a oposição ainda tenta encontrar uma direção depois do estrago provocado pela derrota de seu candidato, José Serra, o PMDB vai fazendo o seu trabalho, dando dor de cabeça à futura presidente. Tavares Maluf diz que o episódio é só uma amostra do que a petista terá de enfrentar em seus quatro anos de mandato.

– Parte da oposição vem da própria situação, que pode aumentar o tom de voz agora, silenciar mais tarde e, eventualmente, até votar contra os projetos do governo. Sem conversa clara, Dilma terá problemas para governar.

A cientista política Maria do Socorro, da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), disse que Dilma está “dormindo com o inimigo”.

– É como se a Dilma estivesse morando com o inimigo, porque o PMDB nunca foi ideologicamente parecido com o PT. 

Para evitar o caos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi rápido e tirou PP e PR do blocão. O estrago, no entanto, será divido por petistas e peemedebitas. A cientista diz que, “com essa atitude, o PMDB só reforça o que a população tem percepção: que o partido não se interessa por programas, mas pela vontade de continuar no poder”. 

– Se fosse diferente, eles estariam preocupados em fazer um governo em sintonia com o que acreditam. 

Ela diz que a investida do PMDB é exagerada porque “está querendo mais espaço do que de fato merece”. 

– Como são negociações que se dão ao longo da campanha, provavelmente já havia sido costurado um acordo de cavalheiros, e agora o PMDB está cobrando a fatura. Mas o fato é que, nas urnas, o partido não se saiu tão bem como se esperava, já que ficou menor na Câmara.

Efeito temporário

Mas Tavares Maluf dá as razões para a sanha do PMDB, que teria se ressentido por não ter sido convidado a participar da primeira reunião feita por Dilma após sua vitória.

– Os primeiros sinais do PT foram "primeiro a gente se resolve e depois vêm os aliados". O Temer tentou contemporizar um pouco, mas os congressistas não gostaram muito. O que está acontecendo é essa sequência de desencontros. O PMDB alega que o natural seria que a formulação do novo governo contasse com todos os partidos desde o início.

Apesar de tanta polêmica, os dois especialistas não acreditam que o caso vá se estender por muito tempo. Por duas razões: a ação rápida de Lula e a fragmentação dos partidos que restara.  A professora da Ufscar diz que os partidos menores se aliaram ao PMDB por “interesse momentâneo”, por acreditar em que juntos conseguiriam mais cargos no governo.

– As lideranças dos partidos estão jogando para saber de que lado vão estar, mas eles estão tomando cuidado porque o lado mais fraco está com o PMDB.

Para Tavares Maluf, Dilma vai ter de deixar bem claro que quem vai governar é a coligação e não o PT. A contradição de uma campanha sem atritos entre os aliados e a disputa entre eles logo depois da apuração dos votos, diz ele, guarda dentro de si um problema bem maior do que um simples bate-boca de comadres.

– Esse é o grande problema da nossa democracia. A população não percebe que esses conflitos só aconteceram depois da eleição. Mas há tempo suficiente para a presidente eleita aparar as arestas e fazer tudo com tranquilidade.

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