Advogado diz que decisão de Julier beneficia Pivetta

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O advogado Pedro Pereira de Souza, condenado pela Justiça Federal por fraudes e má administração na Cooperativa Agrícola de Lucas do Rio Verde, afirmou que a decisão do juiz Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara Federal em Mato Grosso, tem cunho político. 

Pereira questionou o momento em que se deu essa decisão, lembrando o período eleitoral. Ele negou que tenha, ao contrário do que afirmou o magistrado, sociedade com o empresário Paulo Roberto Gomes Bezerra (também condenado),  irmão do deputado federal Carlos Bezerra (PMDB). "Eu desafio o Julier a provar a sociedade minha com Paulo Bezerra ou qualquer outra pessoa", disse.

O advogado contou que, há 20 anos, defende o PMDB, deixando a entender que Julier tentou ligar seu à questão política, supostamente visando a prejudicar o partido político.

"Eu vejo que essa decisão é política, pois surgiu num momento político. Quando se vê um magistrado se desviar de um caminho por ter pretensões políticas – nos bastidores, se fala que ele será candidato à Prefeitura de Cuiabá pelo PDT -, aí você não pode aceitar que a decisão dele seja uma decisão sensata, de juízo, mas sim uma decisão de pretensão", criticou.

Pedro Pereira ainda questionou a atuação de Julier Sebastião frente à Magistratura, afirmando que o juiz "faz de tudo para aparecer na mídia". "Eu vejo que o Julier tem que definir o que ele quer da vida: se quer ser magistrado, se quer ser advogado ou se ele quer ser político (…) O melhor juiz é que nem um juiz de futebol, aquele que o jogo começa e termina e você não o percebe dentro de campo", comparou.

Pivetta beneficiado

O advogado, que foi condenado a quatro anos e três meses de reclusão em regime semi-aberto, apontou um suposto favorecimento a outro denunciado no Caso Cooperlucas, o deputado estadual Otaviano Pivetta (PDT), candidato a vice-governador pela chapa de Mauro Mendes (PSB) e cujo patrimônio pessoal, declarado à Justiça Eleitoral, na semana passada, é de R$ 132 milhões.

"É inevitável, pelas provas que tem dos autos, por tudo que existe nesse caso Cooperlucas, que, indiscutivelmente, o Pivetta foi beneficiado, quer por estratégias jurídicas, quer por favorecimento do Ministério Público Federal", afirmou Pereira.

Ele lembrou que, no processo do Caso Cooperlucas, Pivetta chegou a ser denunciado, mas o MPF teria "segurado" o inquérito até a prescrição punitiva, sem a oferta da denúncia.

"As provas que há no processo dizem mais respeito ao Pivetta e ao seu grupo do que o grupo liderado por Joci Piccini [também condenado por Julier]. Então, o grupo protegido pelo Pivetta nunca foi condenado (…) Quem muito falhou foi o MPF", afirmou.

Pereira disse que há laudos que apontariam o envolvimento do Pivetta no esquema Cooperlucas, mas que o ex-procurador Roberto Cavalcanti – que teria atuado a pedido de Pedro Taques – travou o processo no MPF. "Pivetta é contumaz: cometeu vários delitos e tem a certeza da impunidade para ele e o grupo, pois, até hoje, não houve nenhuma condenação a respeito dele. Hoje, você vê a raposa se juntar com a onça: a união de Pedro Taques com Pivetta", destacou.

O advogado ainda questionou o enriquecimento de Pivetta, relacionando essa evolução financeira ao Caso Cooperlucas. "Se pegarmos o patrimônio de Pivetta, de quando ele chegou em Lucas do Rio Verde, ele não tinha absolutamente nada", relatou.

Pedro Taques

Após fazer um relato das supostas ligações entre Pedro Taques, Julier Sebastião e Otaviano Pivetta, o advogado considerou que a suposta proteção teve a finalidade de beneficiar o projeto eleitoral do ex-procurador ao Senado. "Se eu fosse o Pedro Taques, eu jamais iria ao PDT para sair candidato, para ter os recursos do Pivetta na minha campanha, como meu companheiro de palanque, sabendo da vida pregressa dele", disse.

Recursos

Pedro Pereira informou que vai recorrer da decisão da Justiça Federal, apostando que sua condenação será revertida. Ele disse que vai tomar todas as providências possíveis. E ainda revelou que estuda a possibilidade de acionar o juiz Julier nos conselhos superiores.

Sentença

De acordo com sentença, Ilvo Vendrúsculo, Antonio Fagundes de Oliveira, José Nakiri, Joci Piccini, Carlinho José Ceratti (ex-gerente do BB em Lucas do Rio Verde), Milton Luciano dos Santos, Pedro Pereira de Souza (advogado) e Paulo Roberto Gomes Bezerra (irmão do deputado federal Carlos Bezerra), do PMDB, foram condenados por fraudes e má administração da cooperativa.

Além disso, segundo a Justiça Federal, eles realizavam operações irregulares com a agência do Banco do Brasil, envolvendo produtos vinculados a contratos de Aquisições do Governo Federal (AGF) e de Empréstimos do Governo Federal (EGF), que causaram prejuízo ao erário federal e desvio dos grãos que deveriam estar depositados nos armazéns da Cooperlucas.

Ainda em sua decisão, Julier decretou a perda de bens dos acusados, que tenham sido adquiridos entre os anos de 1994 a 2000, no valor de R$ 230 milhões. Os envolvidos foram condenados a pagar as custas processuais.

Condenação

Ilvo Vendrúsculo, Antônio Fagundes de Oliveira, José Nakiri e Joci Piccini – Condenados 19 anos e oito meses de reclusão em regime fechado, mais multa;

Carlinho José Ceratti – Condenado a 17 anos e 332 dias de reclusão em regime fechado, mais multa;

Pedro Pereira de Souza e Paulo Roberto Gomes – condenados a quatro anos, três meses e 90 dias de reclusão em regime semi-aberto, mais multa;

Milton Luciano dos Santos – condenado a cinco anos e 90 dias de reclusão em regime semi-aberto, mais multa.

Outro lado

Pivetta
– O deputado estadual licenciado e candidato a vice-governador pela coligação "Mato Grosso Melhor Para Você", Otaviano Pivetta, declarou que nunca foi acusado formalmente no Caso Cooperlucas e nunca foi condenado pela Justiça.

O parlamentar disse que Pedro Pereira tem uma intriga com ele, pois o mesmo ajudou a expulsá-lo da Cooperlucas. "Eu ajudei um grupo de produtores a expulsar ele da cooperativa, já que existia suspeita que ele estava fazendo coisas ilícitas, tanto é que ele foi condenado agora (…) ele sim é contumaz em ações ilícitas e deve ser condenados em outros processos", previu Pivetta.

A respeito de sua citação no processo do Caso Cooperlucas, Pivetta disse que só aconteceu devido a uma denúncia do próprio Pedro Pereira, mas que provou-se que tudo era inverídico. "Há 12 anos ele fez essas mesmas denuncias e a Justiça está mostrando e calando ele", declarou.

Com relação a seu patrimônio, que Pereira tenta associar a Caso Cooperlucas, Pivetta negou qualquer relação, ao ressaltar que construiu seu patrimônio com muito trabalho. "Sou um brasileiro que acreditei no potencial e trabalhei sol a sol durante 30 anos para adquirir meus bens", disse.

Ele ainda afirmou que todos seus bens não diz respeito a Pedro Pereira, informando que tudo encontra-se devidamente declarado na Receita Federal. "Eu sempre propaguei o bem e tudo que tenho veio de forma honesta", afirmou.

Pivetta disse que conheceu Pedro Pereira em 1983, quando ele chegou em Lucas do Rio Verde, onde ele iniciou na área de produção rural e Pedro era representante de uma marca de insumos agrícolas. "Naquele tempo fiz até negócio com ele", lembrou.

Taques – O candidato ao Senado, Pedro Taques (PDT), afirmou que não irá "bater-boca" com o advogado Pedro Pereira. "Não vou perder meu tempo com discussões com um condenado pela Justiça Federal", declarou.

Com relação ao Caso Cooperlucas, Taques disse que, quando era procurador federal, nunca esteve à frente desse caso; o responsável era o procurador Roberto Cavalcanti, que hoje atua como advogado.

Sobre seu projeto político-eleitoral, Taques reafirmou que acredita no projeto do PDT, liderado pelo deputado Otaviano Pivetta, e que essa decisão não diz respeito a Pedro Pereira. "A opinião dele pouco me interessa", completou.

Julier – O juiz julier Sebastião da Silva, segundo a assessoria de imprensa da Justiça Federal, está de licença. Por telefone, o magistrado não quis atender à reportagem e pediu para "ligar depois".

 
 

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