Advogado da JBS se encontrou com membros da PGR antes de gravação de Temer

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Agência O Globo

BRASÍLIA – O diretor jurídico da J&F, controladora da JBS, Francisco de Assis e Silva, encontrou-se com integrantes da Procuradoria-Geral da República (PGR) antes de Joesley Batista, um dos donos da empresa, gravar uma conversa que teve com o presidente da República, Michel Temer, no dia 7 de março. Em depoimento na semana passada dentro do procedimento aberto para rever a delação dos executivos da empresa e dele próprio, Francisco revelou ter conversado no dia 2 de março com o coordenador do grupo de trabalho da Lava-Jato, Sérgio Bruno, e o chefe de gabinete da PGR, Eduardo Pelella, sobre a delação que executivos da empresa desejavam fazer.

A PGR afirma que os temas foram tratados de forma “genérica” e que o encontro foi uma tentativa da empresa de sondar os integrantes do grupo de trabalho sobre o tema. Antes, a instituição sustentava que os contatos teriam começado no dia 27 de março.

No depoimento prestado no dia 7 de setembro, Francisco contou que no dia 22 de fevereiro fez o primeiro contato com Sérgio Bruno, por recomendação do procurador Anselmo Lopes, que comanda investigações contra a empresa no Distrito Federal. Disse que no dia 2 de março foi à PGR acompanhado da advogada Fernanda Tórtima. Disse ter neste primeiro contato apresentado uma lista de 13 itens que constariam da colaboração, incluindo questões sobre o sistema de inspeção federal, que seria alvo da Operação Carne Fraca, realizada quinze dias depois.

“Que nessa primeira reunião trouxe treze itens, detalhados por assunto, mas não eram anexos; que o décimo-terceiro item era o SIF, sistema de inspeção federal; que depois disso estourou a “Carne Fraca”; que por isso ligou a Sérgio Bruno pedindo que lembrasse que um dos itens entregues era o SIF”, registra Francisco em seu depoimento.

O diretor jurídico do grupo registrou desde o início o interesse dos irmãos Joesley e Wesley Batista de continuarem no comando da empresa. “Que o depoente disse na reunião de 2 de março com Sérgio Bruno que as premissas eram o sigilo, a rapidez e a continuação dos colaboradores na direção da empresa”, afirmou. Francisco diz que Pelella estava na reunião e mais uma pessoa da qual não se lembra.

Francisco relatou como foram os contatos com Marcello Miller. Afirmou ter entendido desde o início que Miller já tinha deixado o Ministério Público, o que ainda não tinha ocorrido. Negou que o ex-procurador tenha auxiliado na elaboração de anexos. Relatou que no primeiro encontro, em 9 de março, Miller e o executivo Ricardo Saud brigaram, mas que depois os dois mantiveram contato. Francisco disse ter ficado com a suspeita de que Saud estava preparado para delatar Joesley, caso a negociação coletiva não avançasse.

De acordo com o relato, no dia 24 de março foi mostrado aos procuradores a gravação de Temer. O áudio foi mostrado em um computador de Joesley. Na mesma data foi celebrado o termo de confidencialidade do material. Francisco disse que recomendou a Joesley não apresentar o áudio com o ex-ministro José Eduardo Cardozo sem que tivesse ouvido a gravação, tendo se baseado no relato do empresário de que não haveria crime na conversa.

A PGR informou em resposta ao GLOBO que o primeiro contato foi por meio de mensagem de texto por WhatsApp. “O primeiro contato do advogado com membro do GT foi por mensagem de texto por WhastApp, o que não pode ser considerado como encontro. Na ocasião, o advogado se apresenta como representante do grupo empresarial e pede para marcar reunião”, diz a PGR.

A instituição sustenta que o primeiro contato pessoal, no dia 2 de março, foi apenas um sondagem: “Os advogados do grupo empresarial vão à PGR, pela primeira vez, para externar a vontade do cliente de fazer acordo. Mencionaram itens, que não são anexos, de forma genérica sobre alguns temas sem detalhar nenhum deles, nem trazer nomes ou explicitar que tipo de prova trariam à negociação. Foi uma tentativa de sondar os integrantes do grupo de trabalho, que se limitaram a explicar como se dá o procedimento-padrão, com apresentação de anexos e elementos de prova para dar início à negociação”.

Conclui reiterando que somente em 27 de março houve a apresentação formal dos áudios e, com isso, inicia-se o marco temporal do ponto de vista da PGR. “No dia 24 de março, houve nova reunião, com apresentação detalhada do que seriam as provas e evidências que queriam relatar. Marcada nova reunião, em 27 de março, dá-se a apresentação dos áudios e, no dia seguinte, foi assinado termo confidencialidade do material. Para a PGR, o marco temporal para tratativas de negociação de acordo com executivos da JBS é o dia 27 de março, quando houve apresentação formal dos áudios. Antes disso, trata-se apenas de sondagem dos advogados”, afirma a instituição.

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