BRASÍLIA (Reuters) – O procurador-geral da República, Augusto Aras, reafirmou nesta quarta-feira críticas à força-tarefa da operação Lava Jato e destacou que uma República não combina com heróis, segundo relato de dois parlamentares que participaram de uma videoconferência entre o PGR e senadores.
Conforme os relatos, Aras repetiu o que disse na véspera sobre o amplo acervo de informações que a força-tarefa da operação em Curitiba têm, que seria maior do que o próprio banco de dados do Ministério Público.
“A justificativa dele é que não podem haver dados sigilosos só com determinadas pessoas dentro da Constituição”, disse o senador Major Olimpio (PSL-SP), um dos participantes do encontro, ao mencionar que, segundo o procurador-geral, nem a Corregedoria teria acesso aos dados.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que Aras criticou muito o acervo e comparou isso a uma “web paralela”.
Na véspera à noite, em uma videoconferência por rede social, o procurador-geral tinha dito: “Em todo o MPF no seu sistema único tem 40 terabytes (de dados). Para o funcionamento do seu sistema, a força-tarefa de Curitiba tem 350 terabytes e 38 mil pessoas com seus dados depositados, que ninguém sabe como foram escolhidos.”
Em nota nesta quarta-feira, a força-tarefa rebateu as declarações de Aras. Disse que “não há na força-tarefa documentos secretos ou insindicáveis das corregedorias”.
“Os documentos estão registrados nos sistemas eletrônicos da Justiça Federal ou do Ministério Público Federal e podem ser acessados em correições ordinárias e extraordinárias. As investigações e processos são ainda avaliados pelas corregedorias e pelo Poder Judiciário, pelos advogados de investigados e réus e pela sociedade”, destacou.
Na conversa com senadores, Aras disse que a República não combina com heróis, segundo os dois parlamentares ouvidos pela Reuters. Embora ele não tenha nominado a quem se referia, Major Olímpio considera que o comentário seria endereçado ao coordenador da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol, e ao ex-ministro da Justiça e ex-juiz da operação Sergio Moro.
Em nota pública divulgada na noite desta quarta, a Procuradoria-Geral da República disse que as informações genéricas prestadas por Aras na videoconferência da véspera são objeto de investigação que corre em sigilo na Corregedoria do MPF.
“O compartilhamento de informações da Lava Jato com as instâncias superiores da instituição foi solicitado oficialmente e correu nos trâmites normais. As dificuldades encontradas pela administração superior para acessar informações que poderiam subsidiar investigações relevantes em andamento em outras unidades causou estranheza”, disse a PGR na nota.
“A apuração dos fatos jogará luz e dará transparência aos procedimentos internos do Ministério Público Federal”, concluiu.
RENOVAÇÃO
O procurador-geral não disse aos senadores se vai prorrogar os trabalhos da força-tarefa, conforme os relatos. O grupo, que está com seis anos de atuação, encerra seu trabalho em setembro e precisa do aval de Aras para continuar por mais um ano.
“Não disse (sobre a prorrogação), mas também não falou da continuação”, disse o Randolfe Rodrigues, ao frisar que ele foi perguntado pontualmente sobre o assunto. “(Aras) não negou que seria o fim da Lava Jato”, destacou Major Olimpio.