Mais um pouco e a Globo vira Record

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Em entrevista a Mauricio Stycer, crítico de TV do UOL, o diretor-geral da Globo, Octavio Floribal, assume, com aquele jeitão autossuficiente, que a emissora vai ter que correr atrás do prejuízo. E da Record, quem diria!

Até que enfim o governo Lula começou para a Rede Globo. Como sempre, com décadas de atraso, a Velha Senhora percebe que o Brasil mudou. Mais um pouco e vai ter que aceitar que vivemos em uma democracia.

Observem o que diz o texto, logo no início:

“No embalo do crescimento econômico recente do país e das projeções otimistas para os próximos anos, a Rede Globo aprofundou um processo de modificações em sua programação para atender a uma nova clientela: a emergente classe C. As mudanças afetam as áreas de novelas, os programas de humor e o jornalismo. E objetivam deixar a programação mais popular. A nova classe C, na visão da emissora, quer se ver retratada nas telas.”

Eureka!

Então, quer dizer, finalmente, que a “popularização” que a Record pratica há anos, sempre sob o olhar arrogante e presunçoso dos oráculos globais, estava certa? Mais um pouco e a Globo renegará as elites deste país, a quem tão bem serviu.

Jornalismo popular a Record sempre fez, com a clara intenção de se comunicar com as classes C, D e E, que, para o executivo (vejam só), “têm uma vida própria, com características próprias. Nós precisamos atendê-los”. Incrível. Visionário, não é mesmo?

Telejornais conversados, reportagens com plano sequência, inteligíveis para todos, e com temas pertinentes à vida de qualquer cidadão comum fazem parte do noticiário da Record há anos. Por algum milagre, deixarão de ser apelidados de “sensacionalistas” e “apelativos”.

Percebam o quanto um homem pode se regenerar, nas sábias palavras de Florisbal: “Eles têm que ver a sua realidade retratada nos telejornais. Eles querem ter uma linguagem mais simples, para entender melhor.” Eles quem? A classe média “emergente”.

Mais um pouco e a Globo admitirá que existem pobres neste país! E é capaz até de colocá-los em sua programação, sempre tão elitista, repleta de milionários em seus jatinhos, nas novelas em que os ricos e canalhas sempre se dão bem.

Na Record, favela é cenário desde Vidas Opostas, novela de 2006. Repito: 2006. Pela entrevista, somos advertidos que a próxima novela de Aguinaldo Silva vai se passar na “periferia”. Uau. Que revolução.

Capaz de vermos gente humilde vestida com roupas humildes na tela da Globo. Como farão com os merchandisings? Fiquei curiosíssimo.

Florisbal, mediúnico como ele só, percebeu que houve em nosso país uma forte “mobilidade social ocorrida em função do crescimento da renda e do emprego”.

Talvez isso explique a crise por que passam o PSDB e o DEM (não, não mudei de assunto). Mais um pouco, uma década talvez, e a Globo vai perceber que o governo Lula acabou. Entrou uma mulher no lugar. É o que dizem por aí.

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