A batalha da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para banir do mercado brasileiro todos os remédios para emagrecer que atuam no sistema nervoso central (sibutramina e os derivados de anfetamina) teve mais um "round" nesta semana.
Em audiência pública – acompanhada por policiais federais fortemente armados em função de ameaças recebidas pelo presidente interino da agência, Dirceu Barbano – médicos e farmacêuticos apresentaram os seus argumentos contra a proibição. A Anvisa também teve o seu espaço para apresentar o relatório técnico que fundamenta a sua proposta de proibir a venda desses medicamentos.
A decisão deve sair no fim de março, ou "até que todos os argumentos tenham sido expostos e analisados", de acordo com Barbano. Para entender melhor a polêmica, o R7 elaborou um guia com perguntas e as diferentes respostas a elas.
Porque tirar os medicamentos do mercado brasileiro? Anvisa: É a favor da retirada porque relatório da Câmara Técnica de Medicamentos aponta que os riscos cardiovasculares e psiquiátricos que os medicamentos trazem são maiores do que os benefícios. De acordo com os estudos, a perda de peso é pequena e só acontece no início do tratamento. O uso prolongado desses medicamentos traz poucos benefícios e grandes riscos. Médicos: São contra a retirada porque defendem que os médicos devem ter autonomia para indicar o tratamento certo para cada paciente. Todos os medicamentos têm contraindicações, mas o problema, nesse caso, é que não há alternativas de tratamento. O médico, portanto, administraria os riscos do tratamento. Além disso, de acordo com os médicos, em muitos casos, o risco de não tratar um paciente obeso é maior do que os riscos dos remédios (risco cardíaco, aterosclerose, evolução à diabetes). |
Quais são as opções de tratamento caso os remédios sejam banidos? Câmara Técnica de Medicamentos: Há alternativas. A obesidade tem vários fatores e o tratamento não pode ser baseado apenas no medicamento. Tirar o apetite do paciente (efeito do medicamento) não irá resolver o problema. Mas acrescentar mais um fator de risco (o do uso do medicamento) a essa pessoa que já está com maiores chances de problemas vasculares não é indicado. Há recomendação internacional de que os riscos são muito maiores do que os benefícios. Médicos: Se os medicamentos forem banidos do mercado, 15 milhões de pacientes que têm IMC (índice de massa corporal) acima de 30 e não têm indicação de cirurgia ficarão sem opção de tratamento. |
Quais são os riscos do tratamento com esses remédios? Anvisa: Os principais são o aumento de riscos cardiológicos e de distúrbios psicóticos. Médicos: Há riscos importantes, que podem ser administrados, com análise do histórico do paciente e com o uso de várias terapias associadas. Nenhuma doença crônica é tratada com apenas uma terapia (medicamentosa ou não). É possível reduzir a dose dos medicamentos, juntá-los e ter uma eficácia muito maior e efeitos colaterais menores. Além disso, para alguns pacientes, o risco de não tratar a obesidade é maior do que a dos medicamentos. Um exemplo dado pelos médicos é que pacientes com risco cardíaco jamais serão submetidos a tratamento com sibutramina. |
É possível uma decisão que não seja a retirada dos produtos do mercado? Anvisa: Não, pois o uso desses medicamentos já vem sendo restrito (hoje é preciso a receita B2, que tem dados do comprador, do prescritor e da farmácia e vale por 30 dias). Mas o aumento da restrição não foi suficiente para reduzir o uso abusivo desses medicamentos e os riscos que trazem. Médicos: Sim. A Anvisa tem que se restringir ao controle indiscriminado da droga. E isso ela tem condições de fazer. Já foram detectados os maiores prescritores dessas drogas no país e os conselhos regionais de medicina tomaram providências. A Anvisa deve controlar o uso indiscriminado do produto, mas tirar a oportunidade de o paciente se tratar e tirar a autonomia do médico é uma violência. |