O gás ozônio (O3), já usado na indústria química e no tratamento de água, ganha espaço em diferentes ramos da medicina. Chamado de ozonioterapia, a técnica usa o gás para tratar inflamações, alergias de pele, infecções agudas, problemas circulatórios e até de imunidade. O problema é que o Ministério da Saúde não reconhece a eficácia do procedimento.
O gás misturado à água, em óleo, ou injetado como vapor em um saco plástico, é aplicado em queimaduras, feridas e na corrente sanguínea com a função de amenizar sintomas.
Uma pesquisa recente da USP (Universidade de São Paulo) mostrou inclusive que o ozônio também é capaz de matar as temidas superbactérias (bactérias resistentes a antibióticos), incluindo a KPC, cuja infecção já atinge 13 Estados brasileiros e matou 20 pessoas.
Especialistas tentam incorporar terapia com ozônio na saúde pública
No Brasil, a técnica é utilizada e defendida por pelo menos 200 médicos que fazem parte da Abroz (Associação Brasileira de Ozonioterapia), mesmo sem apoio do governo. A entidade já fez pedidos recorrentes de inclusão da técnica no SUS (Sistema Único de Saúde).
Segundo a diretora da Abroz, Emília Gadelha, a associação negocia há seis anos para incluir a técnica no sistema público. Para isso, já encaminhou uma série de documentos ao governo que comprovam sua eficácia. O Ministério disse que ainda está estudando a proposta.
A dificuldade de inclusão no país, segundo a diretora da Abroz, se dá pela burocracia e por conflito de interesses.
– É tanta burocracia! Mandamos papéis para o Conselho Federal de Medicina, Conselho Regional de Medicina de São Paulo; fizemos reunião com o Ministério da Saúde. Mas hoje em dia a medicina usa um critério dado pela indústria farmacêutica.
Em dezembro de 2010, o ministério realizou uma audiência pública para reunir essas informações. Ao ser questionado sobre a possibilidade de inserção do tratamento, o ministério respondeu por e-mail.
– Atendendo ao pedido de entidades médicas, o Ministério da Saúde continuará recebendo informações sobre as tecnologias em estudo e apresentadas na audiência pública até o próximo mês de março. Depois do prazo, as considerações serão enviadas à Citec (Comissão de Incorporação de Tecnologia) para análise e decisão.
O governo não disse até quando vai dar uma resposta. A incorporação de tecnologias no SUS é feita a partir da análise da eficácia, efetividade e custo-benefício dos medicamentos e produtos e deve ser acompanhada de regras precisas quanto à indicação e forma de uso.
De acordo com a diretora da Abroz, o uso do ozônio nesses tratamentos diminuiria custos para o sistema público, pois os resultados são mais rápidos e os equipamentos necessários, segundo ela, não são caros. Um gerador de ozônio (máquina que converte oxigênio em ozônio) pode ser adquirido por R$ 1.000, em média.
– Em termos de saúde pública, acho um desperdício não usar o ozonioterapia. Uma ferida crônica de pé diabético demora de oito meses a dois anos para fechar. Quando médicos cubanos usam o ozônio, demora no máximo dois, três meses. Fora que diminui muito a chance de amputação do membro.
Para Hermelinda Pedrosa, coordenadora do Departamento de Pé Diabético da Sociedade Brasileira de Diabetes, faltam evidências científicas que comprovem a eficácia do ozônio do tratamento das feridas causadas pela doença.
– No meu conhecimento, a ozonioterapia não dispõe de dados científicos robustos que dizem que a medida traga um efeito positivo. Não é uma ferramenta consensual no campo científico.