Um remédio tomado oralmente, que já está no mercado, reduz em 44% o risco de infecção pelo HIV entre os homossexuais, segundo os resultados de um teste clínico divulgado nesta terça-feira (23). O fato é considerado muito importante para os esforços da prevenção da Aids. Os cientistas dizem que ainda não é possível indicar a efetividade do remédio para relações entre homem e mulher, o uso de drogas ou outros meios de contágio da Aids. Ainda estão sendo feito estudos com esses grupos.
O estudo clínico foi realizado com 2.499 homens com idades entre 18 e 67 anos, que tiveram relações homossexuais regulares. A pesquisa aconteceu de julho de 2007 a dezembro de 2009 em seis países: África do Sul, Tailândia, Peru, Equador, Brasil e Estados Unidos.
Cada participante foi selecionado aleatoriamente para que tomasse de forma cotidiana um antirretroviral chamado Truvada ou um placebo (dose "de mentira", sem a substância). Todos eles também tiveram acesso a serviços de prevenção como sessões de aconselhamento, preservativos e cuidados médicos para tratar outras doenças venéreas.
Os pesquisadores temiam que o remédio desse uma falsa sensação de segurança e fizesse com que os homens usassem menos a camisinha, mas aconteceu o contrário: durante o período do estudo, as relações sexuais de risco diminuíram.
A análise dos resultados mostra que houve um total de cem casos de infecção pelo HIV entre os participantes durante os testes. Das cem infecções, 36 foram constatadas entre os 1.251 pacientes tratados com o Truvada e 64 entre os 1.248 participantes do grupo submetidos a um placebo. Isso demonstra que a dose desse antirretroviral reduz o risco de infecção em 43,8%.
Os efeitos colaterais, leves e pouco frequentes, principalmente náuseas, foram observados no início, mas foram se dissipando semanas depois, segundo o estudo, que não revelou qualquer caso de resistência ao remédio entre os participantes.
O Niaid (Instituto Nacional americano de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos) financiou a maior parte do teste clínico, que recebeu, além disso, fundos da Fundação Bill e Melinda Gates. O laboratório americano Gilead Sciences, que comercializa o Truvada, forneceu o medicamento de forma gratuita.
Como o remédio já está no mercado, as autoridades dos Estados Unidos estão organizando as orientações para que os médicos prescrevam o remédio para prevenir o HIV. A recomendação é que as pessoas esperem até que essas diretrizes estejam prontas. Kevin Fenton, chefe de prevenção à Aids no CDC (Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos) diz que “não é a hora de gays e bissexuais jogarem as camisinhas fora”.
– Um remédio nunca deve ser visto como a primeira estratégia de defesa contra o HIV.
A recomendação para evitar a Aids continua sendo usar preservativo sempre e de modo correto, fazer exames para saber a sua situação em relação à doença, tratar outras doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis e gonorreia, que aumentam o risco do HIV, e reduzir o número de parceiros sexuais.
Os resultados animadores desse medicamento marcam o terceiro avanço nos últimos 18 meses nos esforços de prevenção da infecção com HIV. Em julho passado, um estudo demonstrou que as mulheres na África que utilizam um gel vaginal microbicida reduziram em 39% sua taxa de infecção. Em 2009, um teste clínico de uma vacina experimental na Tailândia mostrou um efeito positivo modesto contra a infecção.
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