Poluição afeta o desenvolvimento do feto durante gestação

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Bebês que nascem abaixo do peso normal. Internações por doenças cardiorrespiratórias. Infecções das vias aéreas. Infertilidade masculina. Redução significativa de recém-nascidos do sexo masculino. Estudos divulgados por pesquisadores brasileiros recentemente mostram como os danos à saúde causados pela poluição (tanto das queimadas, como dos carros e das fábricas) são mais extensos e graves do que se imaginava.

 

O preocupante nesse cenário é que, diferentemente de outras doenças, não há nada que a população possa fazer para se prevenir da poluição – a única estratégia que pode reduzir os impactos é controlar a emissão de poluentes.

Uma pesquisa realizada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) revelou que as queimadas da Amazônia influenciam no desenvolvimento do feto durante a gestação.

Os resultados mostram que a alta exposição ao monóxido de carbono e a material particulado tem uma influência direta no nascimento de bebês com baixo peso (aqueles que nascem com menos de 2,5 kg). Material particulado são as partículas liberadas durante uma queimada. Além dos fragmentos maiores, alguns são tão finos que atingem o aparelho respiratório e a corrente sanguínea.

Ao comparar as mães que sofreram mais exposição a material particulado com aquelas que sofreram menos, o índice de recém-nascidos com baixo peso foi 26% maior no primeiro grupo.

Com relação ao monóxido de carbono, as mães que se expuseram mais a fumaça tiveram um índice 45% de recém-nascidos com baixo peso do que aquelas que sofreram menos exposição.

De acordo com Ageo Mário Candido Silva, pesquisador da UFMT e um dos autores do estudo, o monóxido de carbono inativa a hemoglobina, impedindo que o oxigênio da mãe chegue à placenta. Isso faz com que diminua a quantidade de oxigênio nas células do feto, comprometendo seu desenvolvimento.

Já o material particulado produz um processo inflamatório, gerando substancias tóxicas que também afetam o desenvolvimento do bebê. Para Ageo, a única forma de prevenir esses efeitos é reduzir as queimadas na região.

– O primeiro trimestre da gestação é o da formação. O segundo é o da definição e o terceiro é o da engorda. As maiores ocorrências de baixo peso foram no segundo trimestre, para material particulado, e no terceiro trimestre, para monóxido de carbono.

Os pesquisadores avaliaram todos os nascimentos de 2004 e 2005 em 18 municípios das duas regiões com os maiores índices de queimada no Mato Grosso: Alta Floresta e Tangará da Serra.

Para garantir que os dados pudessem apresentar uma estimativa real da influência das queimadas na gestação, foram excluídos da análise os bebês prematuros, os gêmeos e aqueles cujas mães não dispunham de informações suficientes. Outras variáveis que poderiam influenciar no resultado também foram consideradas, como o sexo do recém-nascido, a escolaridade e faixa etária materna, além do número de consultas pré-natal.

Doenças respiratórias

O problema que as mães do Mato Grosso enfrentam é o mesmo por que passam aquelas das regiões metropolitanas. E a exposição à poluição pode até ser mais grave, de acordo com Eduardo Borges da Fonseca, presidente da Comissão de Medicina Fetal da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia).

– Quando falamos da poluição de uma cidade como São Paulo, não é apenas monóxido de carbono. O efeito estufa concentra uma série de substâncias tóxicas, que são liberadas pelas fábricas, e aerossóis, dentre outros.

Uma pesquisa divulgada na última semana de outubro pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) comprovou que o acúmulo de partículas e gases nocivos na atmosfera estão provocando doenças respiratórias pré-existentes e podem aumentar o índice de infecções das vias aéreas superiores e pneumonia dos moradores da cidade de São Paulo, em diferentes faixas etárias.

Segundo o presidente do departamento de neonatologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Renato Procianoy, há estudos indicando que, além de nascer com baixo peso, podem nascer mais bebês prematuros.

 


Outras hipóteses mostram, de acordo com Procianoy, que essa poluição ambiental também poderia afetar o neurodesenvolvimento das crianças – elas teriam um QI um pouco mais baixo.

 

– As mães não têm o que fazer. O que tem de ser feito é controle ambiental. Essa deve ser a preocupação das pessoas, para que controlem o ar das grandes cidades.

Infertilidade e sexo

De acordo com Fonseca, da Febrasgo, além de provocar restrição do crescimento fetal, essa poluição aumenta a taxa de aborto e a taxa de infertilidade dos dois sexos.

– Isso porque ficam lesados tanto o espermatozoide quanto a fixação do ovo fecundado no útero [processo chamado nidação]. A melhor prevenção é evitar as queimadas e a poluição. Não tem o que fazer.

O urologista Jorge Hallak, coordenador da unidade de toxicologia reprodutiva da USP, vem estudando há alguns anos os efeitos da poluição atmosférica e ambiental sobre a saúde dos homens.

Ao avaliar alguns trabalhadores de rua da capital paulista, como os fiscais de trânsito (“marronzinhos” da CET), e compará-los com homens inférteis e férteis, foram observadas alterações no sêmen dos três grupos de moradores paulistanos. Em alguns aspectos, diz Hallak, o sêmen dos trabalhadores de rua chega a ser de pior função que o dos inférteis.

– Isso não quer dizer que eles sejam inférteis, mas já mostram sinais de deterioração do sêmen. A poluição é, assim, um dos fatores de infertilidade. Há ainda uma tendência de conversão de testosterona [hormônio responsável por características masculinas] em hormônios femininos.

Outra pesquisa em andamento pelo grupo de Hallak revela que a poluição reduz o número de recém-nascidos do sexo masculino. O que justifica esses resultados, segundo o médico, é que os oócitos são mais propensos a serem fecundados por um espermatozoide carregando cromossomo X (presente em homens e mulheres) e que as substâncias tóxicas afetam mais os espermatozoides com o cromossomo Y (que determina o sexo masculino).

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