Médicos testam vacina e magnetismo para “arrumar” cérebro de viciados em cocaína

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Lúcio Távora/Agência A Tarde/AE/11.12.2008Foto por Lúcio Távora/Agência A Tarde/AE/11.12.2008
Usuários de crack fumam a droga em rua de Salvador; governo está fazendo uma pesquisa para descobrir o número exato de usuários no Brasil

 
Pesquisadores de várias partes do mundo estão investindo em estratégias diferentes para "consertar" o cérebro das pessoas dependentes de cocaína e tentar conter o vício da droga. O consumo cresce a cada ano e já atinge quase 1 milhão de pessoas só no Brasil. Hoje, as tentativas de tratamento incluem remédios, estimulações magnéticas na cabeça e até uma vacina.

 

O vício em cocaína, assim como por outras drogas, danifica o cérebro. Por causa dessas alterações, a OMS (Organização Mundial da Saúde) considera essa dependência como uma doença de caráter crônico, com várias complicações. Trata-se de uma enfermidade determinada por vários fatores, segundo o psiquiatra Philip Ribeiro, do IPq da USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo).

Por isso, a terapia exige uma equipe com profissionais de várias especialidades e não se restringe aos limites do hospital.

– O tratamento é mais complexo. Usamos medicamentos, internações, apoio à família, reinserção social.

No entanto, segundo Ribeiro, os métodos atuais não estão surtindo efeito, o que justifica o aumento do número de usuários e das pesquisas que testam novos tratamentos. Para ele, a cura fica ainda mais difícil com a falta de uma medicação específica e o preconceito.

– O vício não consegue ser visto como uma doença. Muitas famílias são preconceituosas e acham que é um problema de caráter.  

Estimulação magnética transcraniana

Para impedir que os usuários continuem danificando seus cérebros, cientistas de todo o mundo estão desenvolvendo pesquisas que vão desde vacinas até a estimulação magnética cerebral. No Brasil, o IPQ testa um novo tratamento por estimulação magnética. Esse método consiste na criação de um campo magnético em uma única região do cérebro, o córtex dorsolateral, que é relacionado ao controle e à expressão.

De acordo com Ribeiro, coordenador do estudo, ao estimular essa região, os pesquisadores esperam modificar outras áreas do cérebro que são afetadas pela cocaína.

– A cocaína faz o cérebro funcionar em outra vibração. Com a estimulação, o objetivo é fazer o cérebro funcionar mais próximo do normal.

Para avaliar se o método é eficaz ou não, a pesquisa utiliza como parâmetro a fissura, que é a vontade incontrolável que o usuário tem de sentir os efeitos da droga.

– A fissura tem a ver com esse cérebro modificado. Com a estimulação, o que se quer é reverter essas alterações.

Em outras palavras, os pesquisadores querem consertar o cérebro para reparar os danos causados pela cocaína e, com isso, expulsar a fissura e fazer o usuário não sentir vontade de consumir a cocaína. Por enquanto o projeto está avaliando apenas os viciados na cocaína em pó, que é usada por aspiração (nariz) ou injetada. As outras maneiras de processar a cocaína, na forma do crack e da merla, causam muito mais danos ao cérebro e, por isso, serão estudados em uma etapa seguinte.

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