O delegado Márcio Pieroni, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que comanda as investigações sobre o assassinato da estudante Eiko Uemura, 23, disse nesta terça-feira (26) acreditar que o exame de DNA do material genético da jovem foi manipulado, em função de "interesses ocultos" dos possíveis suspeitos.
Eiko foi espancada, torturada e assassinada e, na sequência, jogada no Portão do Inferno, no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães (40 km ao Norte de Cuiabá), em abril de 2009.
O laudo emitido pelo Laboratório de DNA Forense da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que analisou dentes de Eiko colhidos por ocasião da exumação do corpo e dos cabelos apreendidos no carro do ex-amante da jovem, o advogado Sebastião Carlos Araujo Prado, revelou que as amostras têm perfis masculinos, conforme MidiaNews revelou ontem.
Logo após iniciar as investigações, Pieroni solicitou uma perícia no carro do advogado, que foi realizada pela Polícia Federal do Acre, uma vez que o veículo se encontrava na capital, Rio Branco. Conforme o laudo da PF, foram apreendidos fios de cabelo no banco do passageiro, no traseiro e ainda no porta-malas e que se deduzem seriam de Eiko. No entanto, o fato não pode ser comprovado de forma técnica, em função do erro no laudo.
"Acredito que o cabelo encontrado no porta-malas era da Eiko, pois um chefe da Inteligência da Polícia Civil, aqui de Mato Grosso, que acompanhou a perícia, viu no porta-malas fios de cabelo preto de característica japonesa. Ela teria sido morta e levada no porta-malas. Mas a prova foi pulverizada. Vamos dar continuidade ao trabalho sério, criterioso que estamos realizando, doa a quem doer", disse o delegado.
Segundo Pieroni, foi ele quem detectou o erro, ao ver que no resultado da análise tanto do dente quanto dos cabelos havia dado XY (masculino), ao invés de XX (feminino). Ao notar o erro, Pieroni não aceitou o laudo e fez um ofício solicitando que o exame fosse desconsiderado. Além disso, ele destacou que estranhou o fato de o material não ter sido devolvido, juntamente com o laudo.
Prova contaminada
O titular da DHPP explicou que as expectativas com relação ao exame eram muito grandes, uma vez que ele iria desvendar o crime e apontar os assassinos. Ele destacou que todo o trabalho sério que foi realizado pela Polícia Civil "foi estragado", por entender que a prova foi contaminada.
"Tratava-se de um prova técnica muito importante, e considero como um erro imperdoável, inaceitável. Além disso, um laudo especial de tudo que envolve a morte da Eiko não poderia dar errado. Tivemos um prejuízo grande, porque a prova cairia como uma bomba", afirmou.
Sobre a realização de um novo exame no material genético da estudante, que deverá ser feito em Belo Horizonte (MG), Pieroni afirmou não isso acreditar que trará mudanças no encaminhamento do caso.
"A prova foi contaminada, todo um trabalho sério, minucioso foi estragado. Não acredito que iremos chegar a algum lugar com um novo exame. Inclusive, porque se der positivo as investigações poderão ser questionadas futuramente na Justiça, pela defesa dos autores do crime", disse.
Quebra telemática
O delegado afirmou que, em função de a prova que revelaria a autoria do crime ter sido "manipulada", espera agora uma resposta do Google, por ter solicitado uma quebra telemática para descobrir o IP do computador que, 20 dias antes da exumação do corpo de Eiko, enviou um e-mail a Pieroni contando como teria acontecido o assassinato. Com essa medida, o delegado espera identificar o responsável pelo envio do email.
A denúncia anônima relatou como teria acontecido o crime e que, após a exumação, iria ficar comprovado que Eiko não teria se suicidado, e sim sido assassinada. No início, a principal tese era que a jovem teria cometido suicídio, conforme apontavam as investigações conduzidas pelo delegado de Chapada, João Bosco.
Furto, amores…
O Caso Eiko Uemura foi marcado por muitas revelações, como o furto de jóias e relógios de luxo, amores secretos, negócios ilícitos e envolvimento em um suposto esquema chefiado pelo tio, o empresário Júlio Uemura, que chegou a ser preso pelo Gaeco.
O estudante era dona da empresa Eikon Atacado de Alimentos, que, segundo o Gaeco, seria utilizada pela Organização Uemura para praticar os crimes. O grupo seria especializado em aplicar golpes financeiros no comércio de Cuiabá e de várias cidades de Mato Grosso.
O MidiaNews apurou que Eiko teria sido ameaçada de morte, caso contasse como funcionava o esquema, supostamente chefiado por Júlio Uemura. Ela foi morta poucos dias antes de prestar depoimento sobre o caso na Justiça.