O presidente da Odebrecht SA, Marcelo Odebrecht, e outras sete pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira pelos crimes de fraude em licitação, corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e formação de cartel. O indiciamento foi encaminhado ao Ministério Público Federal nesta segunda-feira. No domingo, a PF já havia indiciado Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez e outras oito pessoas.
A PF pediu à Justiça que mantenha a prisão preventiva dos acusados, devido ao risco de que, se forem soltos, poderão influenciar as investigações. De acordo com o delegado Eduardo Mauat, que assina o relatório, o empresário Marcelo Odebrecht não só tinha conhecimento e participação nos ilícitos como teria tentado “obstaculizar as investigações”
No total, foram encontrados indícios de irregularidades em seis obras que a empreiteira fez para a Petrobras. Além de Marcelo, que está preso na carceragem da PF em Curitiba, também foram indiciados os diretores Márcio Faria da Silva, Rogério Santos de Araújo e César Ramos Rocha. Também estão na lista da PF o ex-funcionário João Antônio Bernardi e o ex-diretor Alexandrino Alencar. Completam o grupo Celso Araripe de Oliveira e Eduardo de Oliveira Freitas Filho.
A Polícia Federal concluiu que o empresário Marcelo Odebrecht teve postura ativa na condução dos ilícitos praticados. O relatório encaminhado ao MPF afirma que anotações feitas pelo empresário em seu celular mostram a influência que exercia com autoridades em “meio a interesses comerciais” do grupo. As anotações incluíam nomes de autoridades públicas, doações e “pagamentos diretos”:
“MF/RA: não movimentar nada e reimbolsaremos (sic) tudo e asseguraremos a família. Vamos segurar até o fim
Higienizar apetrechos MF e RA
Vazar doação campanha.
Nova nota minha mídia?
GA, FP,AM, MT, Lula? ECunha?”
Assinalam que o empresário afirmou num dos documentos apreendidos que as comissões internas de apuração da Petrobras estavam sendo conduzidas por “xiitas” com o único intuito de apontar culpados e afastar o risco de serem chamados de “coniventes ou incompetentes”.
Segundo a PF, Marcelo Odebrecht pretendeu adotar postura de confronto com as investigações, orientando ações. Num dos documentos, dá orientações claras. Para a PF, MF é Marcio Faria e RA é Rogério Araújo, dois dos executivos da empresa acusados de participar diretamente do cartel e fazer pagamentos de propina por meio de operadores, como Mário Góes e Bernardo Breiburghaus:
O relatório diz ainda que Odebrecht tinha como espécie de “plano B” usar “dissidentes” da própria PF. “trabalhar para parar/anular”, dizia um dos itens avaliados pelos agentes: ” Chama atenção esta última alternativa, cuja intenção explícita de Marcelo Odebrecht, conforme suas próprias palavras, é parar/anular a Operação Lava-Jato, não cabendo aqui outra interpretação, uma vez que a operação está indicada pela sigla LJ como assunto das anotações”, afirma o relatório.
A referência à PF foi feita num email, também apreendido pela PF:
“Acoes B – Parar apuracao interna (nota midia dizendo que existem para preparar e direcionar).
– expor grandes – para apuracao interna
– desbloqueio OOG
– blindar Tau – trabalhar para parar/anular (dissidentes PF…)
Ações MRF
Toron vs cartel
OAB
Rio vs multis“
Mauat disse que todos os executivos e envolvidos em investigações sobre a Odebrecht permaneceram em silêncio em seus depoimentos, exceto Marcelo Odebrecht. De acordo com o relatório, o empresário disse em depoimento continuar “confiando nos seus companheiros” – ou seja, nos executivos detidos – e que não via necessidade de ser preso, uma vez que sempre esteve à disposição da Justiça e já havia prestado depoimento em Brasília.
“Entendemos, que a partir dessa fala, no cotejo com os demais elementos carreados, Marcelo Odebrecht aderiu de forma inconteste as condutas imputadas aos demais investigados, considerando que delas detinha pleno conhecimento”, afirma Mauat no relatório.
Segundo a PF, foram também colhidas provas de transações financeiras em espécie feitas por Rogério Araújo, além de provas de que era ele quem comandava os depósitos ao operador Bernardo Freiburghaus, que em seguida depositava em contas de dois então diretores da Petrobras, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró.
A partir do indiciamento, o Ministério Publico Federal (MPF) tem cinco dias para analisar o relatório e oferecer denúncia contra os suspeitos. Se o juiz Sérgio Moro aceitar a denúncia, eles passam a ser considerados réus.