Mulheres de jogadores fazem do Cruzeiro o ‘time de Deus’

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No meio da incrível conquista do Cruzeiro na noite deste domingo, uma das coisas que mais chamaram a atenção na festa do tetracampeonato foi a presença de Deus em todos os agradecimentos dos jogadores ao término do duelo contra o Goiás, no Mineirão. A postura também foi percebida na comemoração dos gols, quando todo o time se reuniu em um círculo e levantou as mãos para o céu, o que vem acontecendo há alguns meses.

Desta vez, aliás, teve mais do que isso: um gigante bandeirão que atravessou toda a arquibancada de trás de um dos gols com a mensagem “A Deus toda glória”.

Na saída para o vestiário, logo após a conquista do bicampeonato, as referências aumentaram. Dezenas de pessoas, incluindo quase todo o elenco, usavam camisetas com o mesmo texto pintado no imenso pedaço de pano mostrado algumas vezes durante o confronto. Nenhum atleta deixou de mencionar a fé para falar do resultado.

“Os familiares se reúnem para orar. Sabemos que o futebol é um jogo, de derrotas e vitórias, mas sabendo que a ele toda a honra e toda a glória. E hoje nós dedicamos o título a ele. É um time inteiro envolvido nisso, uma torcida inteira. Sabendo que há um Deus no céu que nos abençoa. Sem Deus, a gente não seria nada”, falou Léo.

Quem viu e ouviu tudo isso, de perto ou de longe, não poderia imaginar que por trás dessa crença explicitada a todo momento, a cada entrevista, há uma grande corrente de orações, comandada por absolutamente todas as esposas e namoradas dos jogadores.

Grupo de Whtasapp das esposas dos jogadores do Cruzeiro© Reprodução Grupo de Whtasapp das esposas dos jogadores do CruzeiroForam elas, aliás, quem fizeram o bandeirão para estender neste domingo. Todo o material foi pago por eles, os tetracampeões, em um rateio que não excluiu jogador algum.

A história, que conta com fracassos e conquistas, começou no ano passado, logo após a derrota do Cruzeiro para o Flamengo, na Copa do Brasil, nos minutos finais do segundo tempo, com gol marcado pelo volante Elias, hoje no Corinthians, como explica Sandra Maciel, mulher do goleiro Fábio, um dos mais fanáticos pela ideia.

“Começou depois da Copa do Brasil, quando fomos eliminados lá no Rio, para o Flamengo, no finalzinho, e as esposas viram os maridos muito tristes e resolveram se unir. A gente se encontrou e se perguntou o que podíamos fazer por ele? ‘Vamos orar’. A gente começou a se reunir toda semana, temos um grupo com todas as esposas. Oramos pela vida deles, fortalecendo o físico, o emocional, livrando de lesões”, disse, em contato com a reportagem.

Sandra Maciel, esposa do goleiro Fábio, no Mineirão© ESPN Sandra Maciel, esposa do goleiro Fábio, no Mineirão“Não paramos nunca com isso, nem no fim do ano passado. Oramos por contratações também. As esposas se reúnem e eles também têm o grupo deles de oração. A gente tem o ‘Relógio da Oração’, quando cada esposa tem sua hora para rezar. A gente vira 24 horas orando, na véspera do jogo. E não é para a vitória, é para acrescentar o que Deus tiver que acrescentar”, completou a esposa do atleta.

O “Relógio de Oração” funciona da seguinte forma: elas têm de passar um dia inteirinho rezando por todo o elenco, sem deixar nem um minuto das 24 horas do dia vazio, ideia da companheira do lateral Ceará, que é pastor e um dos principais pilares da disseminação da fé na equipe celeste.

Da derrota para o Flamengo até o final deste domingo foram 95 jogos realizados, ou seja, mais de 2280 horas de oração dentro da crença por elas inventada.

“Na véspera de jogo a gente começa 24 horas antes a orar. A gente se divide para não passar nenhum momento do dia sem orar. Cada uma fica meia hora, por exemplo. Tem de acordar de madrugada e rezar”, contou Sandra, lembrando que há um grupo no Whatsapp com 32 mulheres, para coordenar toda essa estratégia.

Léo falou sobre a corrente de orações depois da partida© ESPN Léo falou sobre a corrente de orações depois da partidaFazer o bandeirão invadir as arquibancadas do Mineirão, no entanto, não foi tarefa fácil. A confecção, que demorou cerca de 15 dias, e as negociações contaram até mesmo com a torcida organizada Máfia Azul, atualmente com relações rompidas com a diretoria cruzeirense.

“Nós tivemos uma reunião neste ano e eu tive a visão de um bandeirão. Levei isso a sério e colocamos para os atletas e eles gostaram. Todos eles. Não ficou nem um fora. Isso é muito lindo. É muito unido. Não tem quem fique fora. E não é religião, é essência de vida. A gente agradece por tudo que Deus faz. A gente fez a camisa igual a do bandeirão e outra também, se ganhasse ou perdesse, não importaria. É uma fé muito grande, uma conexão enorme. O que Deus tem feito no Cruzeiro não se explica. Para a gente trazer o bandeirão aqui hoje foi muito difícil. Todo mundo junto. A diretoria do Cruzeiro, a Minas Arena, todo mundo. Foi difícil”, disse Sandra.

“A gente precisava da torcida para abrir o bandeirão. E eu falei com o menino da Máfia Azul, o Quick [presidente da torcida], que os meninos queriam muito essa bandeira. E ele topou na mesma hora. E durante o processo, as rezas também eram assim. E aí combinaram o seguinte com os jogadores: para levantar na hora de entrar, na hora que sair gol e no final, se campeão. Choveu muito, escorreu muita tinta. Mas deu certo. As esposas se uniram muito hoje”, completou.

Como havia uma mensagem religiosa, o processo de liberação do bandeirão foi burocrático, mas acabou dando certo, premiado com a vitória do tetra.

“Foi muito difícil. Chegou uma hora que falaram que não ia dar certo porque tinha mensagem religiosa. E a gente começou a orar para dar certo. Foi a hora que o Cruzeiro tomou a frente para fazer acontecer. A gente precisa agradecer. O Cruzeiro teve de mandar um ofício para a Minas Arena. Valeu muito a pena. A gente faria isso de qualquer jeito hoje, não importaria se a gente perdesse”, finalizou.

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