TIRIRICA É O NOVO GERALDO VANDRÉ

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Pode acreditar: nenhum artista foi tão perseguido no Brasil nos últimos anos quanto Tiririca.

Se a ditadura atacou gente como Geraldo Vandré e Chico Buarque, nossa democracia anda caçando Tiririca com uma ferocidade impressionante.

Esses dias, a gravadora EMI Songs exigiu que o Youtube retirasse do ar um comercial engraçadíssimo, em que Tiririca comete o pecado de ironizar Roberto Carlos, esse ser angelical e santificado, defensor da censura e de Pinochet:

 

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Em 2010, a Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo quis impugnar a candidatura de Tiririca por suposto “crime eleitoral”. O promotor eleitoral Mauricio Antonio Ribeiro Lopes, do Ministério Público Eleitoral de São Paulo, disse, à época, que via no bordão “Pior que está não fica” infração capaz de levar a uma impugnação da candidatura. “É propaganda irregular. Vislumbro infração ao artigo 5º da resolução 23.191 do TSE”, declarou. Felizmente, a baboseira do promotor não colou.

Em 1996, quando Tiririca estava estourado em todo o país com a música “Florentina”, o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), entidade com sede no Rio de Janeiro, implicou com a faixa “Veja os Cabelos Dela”, que foi considerada racista. O Ceap alegou que a letra (“Essa nega fede/ fede de lascar/ bicha fedorenta, fede mais que um gambá”) denegria as mulheres negras e entrou com uma ação criminal contra o artista e a gravadora Sony.

Tiririca me disse, em entrevista, que a música era uma brincadeira com a esposa, Rogéria Márcia, cujo apelido era “Nega”: “Eu escrevi a letra depois de um show. A Rogéria não tinha tomado banho e estava com uma catinga braba. Eu nunca quis falar mal de raça alguma.” À época, Tiririca declarou aos jornais: “Como é que eu vou ser racista? Minha mãe é preta, meu cachorro é preto, meu  é preto e eu sou rubro-negro. Preto é minha cor da sorte.”

A explicação não convenceu a juíza Flávia Viveiros de Castro, que ordenou o recolhimento de todos os CDs e fitas de Tiririca. A Sony foi obrigada a destruir mais de 125 mil CDs que continham a faixa “Veja os Cabelos Dela” e a reimprimir o disco sem a música. A senadora Benedita da Silva, do PT, depôs contra Tiririca. A seu favor depuseram os cantores Agnaldo Timóteo e Ângela Maria. Em fevereiro de 1998, 18 meses depois da abertura do processo, o juiz Carlos Alfredo Flores, da 23ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, absolveu Tiririca e a Sony e revogou o veto à música. Em sua sentença, o juiz concluiu que o Ministério Público havia se precipitado ao deflagrar a ação penal sem analisar com maior profundidade a letra da música.

Mesmo com a absolvição, Tiririca perdeu muito dinheiro. As vendas do disco caíram, os shows minguaram, e ele sofreu vários processos por racismo. Foram movidas quatro ações cíveis contra o artista em São Paulo, Rio, Bahia e Barbacena (MG), todas pedindo compensação financeira. Cada um dos processos exigia, em média, R$ 1 milhão. Na Bahia, quatro mulheres entraram com um processo pedindo uma indenização por danos morais no valor de 4.000 salários mínimos e mais 35% do dinheiro arrecadado com a venda de 300 mil CDs de Tiririca, o que totalizaria, na época, cerca de R$ 2 milhões.

Mas não foi só. Em 1997. Tiririca escreveu uma letra engraçada, “Eu Vou Comer Você”, ironizando os personagens Chapeuzinho Vermelho e Lobo Mau. Na letra, incluiu o verso “pela estrada afora/ eu vou bem sozinha/ levar esses doces para a vovozinha”, que fazia parte da cantiga “Chapeuzinho Vermelho”, escrita em 1946 por Carlos Alberto Ferreira Braga, o Braguinha, autor de clássicos como “As Pastorinhas” e “Touradas em Madri”.

Braguinha não gostou de ter sua obra associada a Tiririca e pediu o recolhimento dos discos. A Sony afirmou que tinha a autorização da editora de Braguinha para utilizar a música, mas, para evitar nova batalha judicial, decidiu pagar uma indenização.

“Como é que eu ia saber que a música era do Braguinha?”, defende-se Tiririca. “Eu canto essa musiquinha desde pequeno!”

Infelizmente, Braguinha não está mais entre nós. Mas o “Rei” Roberto está, e eu gostaria de deixar uma pergunta para ele: se, em vez de Tiririca, essa criatura feia, pobre e desdentada, algum artista mais “sofisticado” – digamos, uma Fernanda Montenegro ou um Jô Soares – resolvesse se candidatar e usasse uma de suas canções, Vossa Majestade se revoltaria também? Ou o problema é com Tiririca?

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