Petros, a grande descoberta do Corinthians em 2014.

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Há muito tempo entrevistas com jogador de futebol não me surpreendiam. Clichês, medo da repercussão, desinteresse em se expor. Muitos acabam escravos dos seus assessores e agentes. Passam uma imagem imbecilizada, superficial. Não enxergam a oportunidade da mídia, de mostrar sua verdadeira personalidade aos torcedores. Depois que a carreira acaba reclamam pelos cantos terem sido esquecidos.

Não foi o caso com Petros. Volante inteligente, vivido que o Corinthians descobriu no Penapolense. Dono de um futebol moderno. Jogador mais importante taticamente no time de Mano Menezes. Inteligente, interessado, estudioso. E com personalidade para dizer o que pensa.

Tive contato com ele no programa Fox Sports Radio. Petros foi convidado como eu. A conversa foi excelente comigo e com os inteligentes e ensandecidos Oswaldo Pascoal, Flávio Gomes, Fábio Sormani e Mano. Petrus deixou a todos nós de queixos caídos.

Depois do programa tive a chance de fazer algumas perguntas a ele. Misturo com as dos companheiros de programa. Nem importa quem perguntou, mas as respostas do jogador corintiano.

Petrus, você é um volante de joga de cabeça erguida, muito inteligente taticamente. Tem 25 anos. Por que nenhum time grande do Brasil o enxergou antes?

Sinceramente, acho que as coisas aconteceram comigo quando deveriam. Eu não teria cabeça para chegar no Corinthians, por exemplo, no ano passado. Talvez não conseguisse jogar. Não é fácil suportar a pressão, as cobranças. Só agora me sinto preparado e posso atuar como eu sei. Se chegasse antes, poderia ter fracassado, ter sido apenas mais um.

Esta visão de jogo não é comum. Você marca, recompõe, orienta e ainda é importante no ataque. Faz todas as funções. Parece um meio campista europeu. Você se inspira em quem?

Eu sinceramente gosto de estudar, entender taticamente o melhor futebol do mundo. E tenho de reconhecer que a Alemanha está muito acima de todos os países. Não é por acaso que ganhou a Copa do Mundo. As triangulações do meio para a frente são impressionantes. Não há posição fixa. E sempre quem tem a bola tem duas opções para passe ou pode tentar a jogada sozinho. Isso desorienta qualquer sistema defensivo. Eu não vou negar. Tento entender e trazer para mim o que faz o Schweinsteiger. Inteligente, habilidoso e joga para o time. Não está interessado em se destacar.

Seu futebol coletivo realmente já se destaca. É titular absoluto de Mano Menezes. Mas ele está irritado com você. Quer que chute mais a gol. Por que você não bate mais? Qual o problema?

Sinceramente? São duas coisas. A primeira é que realmente eu tenho mais prazer em dar um lançamento, um passe, abrir a defesa e deixar o meu companheiro livre para marcar do que fazer o gol. Não é falta de ambição, não. É pensar no futebol coletivo. Por que vou chutar de forma egoísta e desperdiçar um passe que pode fazer com que meu time faça o gol mais fácil. O outro fator é o desgaste. Eu tenho de me desdobrar no meio de campo do Corinthians. Sou responsável por fechar o setor mais forte do meio de campo adversário. Pela minha facilidade de marcar. Para que o Elias tenha mais liberdade e o Ralf não fique sobrecarregado. Muitas vezes chegou cansado, desgastado na hora do arremate. Só que já marquei o gol contra o Palmeiras, paguei a minha dívida com o Mano. Ele pode deixar de me cobrar tanto.

1afp24 Petros, a grande descoberta do Corinthians em 2014. Jogador de personalidade e inspirado em Schweinsteiger. Ao mesmo tempo em que prevê duelo com o Cruzeiro pelo título brasileiro, já sonha com a Seleção de Dunga...

Você que é um admirador do futebol alemão, me diga o que você faria se estivesse jogando a Copa. E eles estivessem tão superiores. O 7 a 1 foi inevitável?

Taticamente eles estavam muito, mas muito melhores do que o Brasil. Tanto que faziam gols como a gente faz em rachão, brincando. “Faz você, não, faz você.” Eu não me conformei com o que eu vi. Se eu estivesse em campo, teria tomado atitude. Algo que ninguém fez. O Felipão não reagiu no banco de reservas. Tem horas em que os jogadores precisam se assumir em campo. Depois do 2 a 0, eu teria gritado para o meu goleiro, cai. “Vamos arrumar essa droga.” Era preciso parar o jogo de qualquer maneira. Não me conformei com a dependência do time em relação ao técnico. A Alemanha era superior, mas não teria conseguido uma goleada tão alta se o jogo fosse parado nos 2 a 0. O time precisa ter tanta personalidade que pode ajudar o treinador e não ser apenas dependente.

Você está falando com uma convicção interessante. O Dunga prometeu uma revolução no futebol brasileiro. Tem esperanças de servir a Seleção Brasileira?

Sei que podem falar que está muito cedo, mas eu tenho sim esperança. Quero ajudar o quanto puder o Corinthians. Mas não vou negar que o sonho de jogar pela Seleção já está em mim. Se vier a chance vai me encontrar pronto. Chegou a hora mesmo de dar chance para os jogadores talentosos que estão por aqui. Eu acho um absurdo o Cruzeiro não ter sequer um jogador no grupo que disputou o Mundial. Ao menos o Everton Ribeiro tinha de estar. Meia habilidoso, inteligente taticamente, diferenciado. Muitas vezes o jogador que atua por aqui está sendo deixado de lado na Seleção e só se valoriza quem atua fora. Isso está errado.

Você começou no Vitória, passou pelo Democrata, Fluminense de Feira de Santana, Boa Esporte, Penapolense. E agora Corinthians. Fala com uma desenvoltura e firmeza impressionante. Seu vocabulário também é diferenciado.

Minha mãe é professora e foi clara comigo: só iria jogar futebol se estudasse. Aprendi a valorizar o conhecimento e percebo que o jogador tem sim de se posicionar. Cursei três semestres da faculdade de Administração. Quero de qualquer maneira acabar o curso. Mas está difícil conciliar com o futebol. Vou dar um jeito.

Qual o potencial que você vê no Corinthians na briga pelo Brasileiro?

Muito forte. Ainda mais depois da nossa arena em Itaquera. Nós no período de Copa do Mundo treinamos muito. Aprendemos a tirar todo o potencial de jogar na nossa casa. Não é por acaso que foram três jogos e três vitória. Lá a proximidade do torcedor nos dá muita força para derrotar os nossos adversários. Eu acredito que o nosso grande rival pela conquista do Brasileiro será o Cruzeiro. Time que atua de maneira moderna. A diferença entre eles e nós está no fato de que os mineiros são ofensivos até demais. O elenco é excelente. Será uma grande briga pela conquista do Brasileiro. Eu ainda acredito no nossa força mais compacta, competitiva, de preenchimento de espaço aliado à técnica.

O que você achou dos corintianos encontrando as portas do metrô fechadas na semana passada?

Um enorme desrespeito. Sei que deve acontecer uma liberação por parte do metrô (realmente houve, eles passarão a fechar mais tarde em noites de jogos). Mas a solução não é essa. O horário decente para o futebol às quartas-feiras é as 19h30. Seria bom para os torcedores e ótimo para os jogadores. Nós perdemos muito tempo da nossa vida nas partidas às 22 horas. Ficamos presos, irritados esperando o tempo passar na concentração. Poderíamos estar fazendo algo produtivo na nossa vida, como por exemplo, estudar. Também não tem cabimento o torcedor que vai trabalhar no dia seguinte chegar em casa de madrugada. Sei que é uma exigência da televisão. Mas está errado. Todos sabem e ninguém age. Isso não vou entender nunca…
 Petros, a grande descoberta do Corinthians em 2014. Jogador de personalidade e inspirado em Schweinsteiger. Ao mesmo tempo em que prevê duelo com o Cruzeiro pelo título brasileiro, já sonha com a Seleção de Dunga...

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