Pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, o senador Aécio Neves deve ser o primeiro mineiro a disputar o mais alto cargo do Executivo pelo partido. Tradicionalmente paulista, o PSDB aposta na mineirice do tucano para aproximar o partido do povo.
A imagem de “governar para a elite” grudou no PSDB e acabou se tornando o maior trunfo do PT, que passou a ser visto como o partido do povo. Com isso, a sigla chegou ao Planalto em 2002 com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e lá se mantém desde então, sob o comando de Dilma Rousseff a partir de 2011.
Na avaliação de especialistas a única chance da oposição de derrotar o governo petista é se aproximar da parcela da população mais carente.
Para isso, os tucanos vão usar a fórmula de seu maior adversário. A exemplo do PT, Aécio Neves vai sair em caravana por todo País, não só para se aproximar do povo, como também para ser fazer conhecer em todos os Estados do Brasil.
O cientista político da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) Ricardo Ismael acredita que o tucano não tem alternativa se quiser vencer as eleições de 2014.
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Segundo ele, o PSDB fala muito bem com as classes mais altas, no entanto, se quiser ter chances, precisa aprender a falar com a parte da população menos favorecida.
— Se ele não consegue falar para os mais pobres, mostrar que o PSDB não é o partidos dos ricos, não é o partido que só pensa em soluções para os ricos, ele está perdido. Eu penso que o grande desafio é o de mostrar que, se ele for eleito, ele vai pensar nessa nova classe média.
O professor de Relações Internacionais da UCB (Universidade Católica de Brasília) e estudioso de campanhas políticas Creomar de Souza também acredita que a construção da imagem de Aécio vai ter de passar pela aproximação com o povo. Para o especialista, as caravanas serão essenciais para que as pessoas conheçam Aécio Neves.
— Aécio tem que se tornar conhecido Brasil afora. As pessoas não sabem quem é Aécio fora das grandes metrópoles, fora da classe média que se considera politizada.
O próprio senador deixou clara sua intenção de viajar o País, agora que está na presidência do PSDB. Em seu discurso na convenção nacional do partido que o elegeu, Aécio Neves destacou que pretende sair em caravana.
— Que bom poder saber que ao caminhar por esse País, e é isso que o PSDB deverá fazer a partir de agora, encontrarei em cada um de vocês a responsabilidade e a dimensão política de cada um de vocês.
Resgate do passado político
Outra novidade da estratégia política do PSDB para as eleições de 2014 será o resgate dos feitos políticos de Fernando Henrique Cardoso.
Na avaliação do professor Creomar de Souza, incorporar a herança de FHC ao discurso é essencial para o PSDB. Segundo o especialista, negar os feito de Fernando Henrique foi o principal erro das últimas campanhas tucanas para a presidência.
— Aécio vai ter de buscar no imaginário do eleitorado uma imagem de que o PSDB não é o inimigo. O PT conseguiu construir um discurso de que o governo FHC foi uma tragédia. O PSDB comprou esse discurso ao jogar para debaixo do tapete o Fernando Henrique.
O professor lembra que nem José Serra nem Geraldo Alckimin, que disputaram as últimas três eleições presidenciais pelo PSDB, se colocaram como sucessores de Fernando Henrique Cardoso. Agora, a estratégia é destacar o que de bom foi feito no governo FHC.
Depois de ser eleito presidente do PSDB, Aécio usou o discurso para começar a colocar em prática a nova fórmula.
— Somos o partido da estabilidade econômica. O partido dos programas de transferência de renda. O partido das privatizações que tão bem fizeram ao Brasil. Somos o partido da Lei de Responsabilidade Fiscal. Somos o partido que permitiu que milhões de brasileiros voltassem a consumir.
Mas o cientista político Ricardo Ismael avalia que Aécio precisa ir além dos feitos de FHC se quiser aparecer como uma alternativa ao modelo atual de governo. Para o professor, Aécio Neves precisa romper com “velho discurso” do PSDB.
— Não adianta voltar ao governo Fernando Henrique. Tem que propor uma agenda que vá além. Ele vai tentar se colocar numa posição de que ele pode fazer melhor, pode fazer mais. E não apenas para as empresas. Ele tem que provar que ele pode fazer mais para pessoas de baixa renda.
Além disso, os especialistas acreditam que o partido vai tentar aproximar a imagem de Aécio à de Tancredo Neves. Em seu primeiro discurso como presidente do PSDB, o senador citou o avô.
— Meu velho avô Tancredo dizia sempre. Quando você estiver olhando um orador na tribuna, […] desvie seu olhar por alguns momentos e comece a ver quem são aqueles que estão ao seu lado.
Mas o professor Ricardo Ismael não acredita que a estratégia seja eficaz. Segundo ele, a nova geração não tem identificação com o antigo político.
— Faz 28 anos da morte de Tancredo Neves, é muito tempo. É uma geração inteira. Para os mais jovens, aqueles que têm menos de 25 anos, essa questão é irrelevante.
Político jovem
Para os especialistas, as inserções de televisão que começaram a ser veiculadas depois que Aécio Neves se tornou presidente do PSDB demonstram o investimento no marketing político e essa nova imagem de homem próximo do povo.
A avaliação é de que o senador está chamando a população para o diálogo, preparando o caminho para a disputa eleitoral de 2014.
O professor Creomar de Souza acredita que todas as estratégias vão depender do tipo de imagem que será construída. Para o especialista, Aécio Neves deve ser vendido como a novidade.
— Acho que ele vai ser vendido como um político jovem, audacioso, com muita energia, que implantou uma visão diferente de governo em um grande Estado [Minas Gerais] e pode transplantar isso para o Brasil, em um momento em que há sinais de desgaste no modelo do PT.