O consumo de etanol hidratado em Mato Grosso aumentou 536% entre 2006 e 2010. Neste período, a produção do combustível evoluiu apenas 12%. Apesar da oferta ainda ser superior ao consumo, caso não haja investimentos, em breve o Estado vai precisar importar álcool. Esta realidade não é somente em Mato Grosso, de acordo com especialistas, a falta de investimentos ameaça a liderança brasileira em tecnologia de etanol.
Ano passado foram consumidos 416,31 milhões de litros de etanol hidratado ante 72,465 milhões consumidos em 2006. O crescimento da demanda está associado à tecnologia dos carros bi-combustíveis, capazes de utilizar tanto gasolina quanto álcool. A produção na usinas dos Estado cresceu da safra 2007/2008 para a atual safra, 2011/2012, de 511,049 milhões de litros para 577 milhões de litros (estimativa).
Na última entressafra, que se encerrou em abril com o retorno da produção nas indústrias, o preço do biocombustível atingiu níveis recordes, o que assustou os consumidores. A queda nos preços, porém, também foi brusca e em 20 dias o etanol reduziu cerca de 35%.
De acordo com pesquisadores, outros países avançam na pesquisa com álcool que tenha origem na celulose e biocombustível, ao mesmo tempo em que cresce a presença de empresas estrangeiras no setor. Para o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), ligada à Universidade de São Paulo (USP), Edgar de Beauclair, a hegemonia brasileira na produção de etanol não é tão segura. "Estamos longe do berço esplêndido, e a pesquisa está relegada", alerta.
"O país corre o risco de perder a liderança", destaca o especialista em energia Clóvis Zapata, do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (ligado às Nações Unidas), ao afirmar que o Brasil "investiu pouco em tecnologia de segunda geração para a produção de álcool". Ele explica que o país "engatinha na produção de biodiesel", quando se considera os investimentos feitos por europeus e americanos para extrair álcool da celulose.
Apesar de já usar o bagaço na geração de energia elétrica, a tecnologia que o Brasil domina para o combustível é a mesma do final da década de 1970, que retira o álcool do suco da cana moída (garapa) e não aproveita dois terços do que a planta potencialmente oferece. O professor Edgar de Beauclair destaca que essa falta de aproveitamento permaneceu mesmo no momento recente de alta de preço do combustível.
O representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) em Ribeirão Preto (SP), Sérgio Prado, discorda do prognóstico e afirma que a pesquisa está avançando. Porém, segundo ele, é preciso desenvolver uma fábrica que produza etanol de segunda geração em volume e em custo compatíveis com o de primeira geração. "[É necessário também] plantas industriais mais eficientes a ponto de baixar a diferença de custo".
Prado calcula que a diferença de custo entre os dois tipos de álcool já baixou significativamente nos últimos cinco anos. "Em 2006, o etanol de segunda geração custava de nove a dez vezes a mais. Hoje essa projeção é 1,8."
O chefe de pesquisa da área de Agroenergia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Esdras Sundfeld, afirma que as pesquisas estão sendo realizadas e que podem crescer com o aumento da participação do capital estrangeiro no setor.
A Embrapa encerra hoje (21) a Feira Agrobrasília, promovida na capital federal, onde está exposta a tecnologia que processa o bagaço da cana para fazer combustível. Além da empresa de pesquisa, há expectativa de que a Petrobras invista na segunda geração do etanol. O plano de negócio da subsidiária Petrobras Biocombustível é de, em 2014, atingir a produção de 2,6 bilhões de litros de etanol. Atualmente, a empresa tem participação em dez usinas, com capacidade de produção de 942 milhões de litros.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) financia cerca de 200 projetos na área de biocombustível, inclusive de etanol. Este ano, por causa dos cortes orçamentários, o conselho não lançou nenhum edital para pesquisa no setor.