Dois servidores da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), um engenheiro florestal, um agrimensor, um tabelião, advogados, empresários, falsificadores de documentos e testas-de-ferro estão entre os 18 integrantes da quadrilha que grilava terras e falsificava projetos de manejo para extração de madeira, na região de Sinop (500 km ao Norte de Cuiabá).
Por meio da Operação São Thomé, deflagrada na manhã desta quinta-feira (10), a Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema), da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, prendeu, por meio de mandados de prisão temporária, 15 integrantes. Três estão foragidos.
De acordo com o delegado da Dema, Carlos Fernando Cunha, entre os três que estão foragidos figura Rodrigo Lara Moreira, falsificador de documento para grilagem de terra e enteado do "cabeça" do grupo, Antônio Paulo de Oliveira, o "Pachola".
O bandido, que tem posse e porte de armas de fogo, responde por crimes ambientais e é sócio da Fazenda Moreira, a primeira a ter sido grilada, em 2007. Além de Lara, João Batista da Silva, testa-de-ferro da quadrilha e um dos responsáveis pela falsificação de documentos, e Idevan Fernandes Savi, o "Brito", responsável pela extração ilegal de madeira, estão foragidos.
Em entrevista coletiva, o delegado Cunha informou que a Polícia levou nove meses investigando o caso e que, a partir de agora, com interrogatório dos membros da quadrilha, começa uma nova etapa. Inclusa nesta fase estará a investigação das madeireiras que compravam o carregamento.
Ainda segundo o delegado, a delação premiada, benefício legal concedido a um criminoso que colabore nas investigações ou "entregue" seus companheiros, não está descartada.
"Estamos no ápice das investigações e, ainda hoje, vamos começar a ouvir os integrantes. Em Sinop, onde também foram presos alguns dos bandidos, o delegado já começou a ouvi-los", afirmou.
O esquema
Apesar de as grilagens de terra na região de Sinop terem se iniciado em 2007, com a invasão da Fazenda Moreira, intitulada dessa forma pela quadrilha, a Polícia Civil deu início às investigações em junho de 2010.
Segundo o delegado Carlos Fernando Cunha, a Fazenda era de Henrique Berenger, que faleceu e, após sua morte, teve a propriedade invadida. A invasão não teve repercussão porque nenhum parente ou amigo procurou a Polícia.
De posse da terra, os bandidos falsificaram documentos para legalizar a propriedade no Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat). Em seguida, a quadrilha conseguiu, junto à Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), formalizavam a extração de madeira em créditos florestais, ou seja, para que o produto pudesse ser extraído e vendido de forma legal.
Os documentos fraudados puderam ser feitos com a ajuda do tabelião Antonio Guedes Ferreira, do cartório de Peixoto de Azevedo (691 km ao Norte da Capital). Os créditos florestais foram confirmados "in loco" por um servidor da Sema, Jackson Monteiro de Medeiros, envolvido no esquema.
O total da área a ser explorada era de 20 mil m³, o que, de acordo com a Polícia Civil, poderia ser avaliado em R$ 3 milhões. Acontece que não existia área para ser explorada na Fazenda Moreira.
Os locais onde as madeiras eram exploradas, para depois serem vendidas como legais, ainda estão sendo investigados pela Polícia. Segundo o delegado, não é descartada a possibilidade de áreas indígenas terem sido exploradas pelo grupo.
As investigações começaram então, a partir da denúncia de Marcos Blaese, proprietário de uma fazenda vizinha à Fazenda Moreira e que teve a terra invadida. Blaese procurou a Polícia Federal e, em seguida, a Polícia Civil começou a investigar o caso.
Além da fazenda de Blaese, que os bandidos já intitulavam de Fazenda Arara, uma terceira propriedade, de Élio Bucci, estava na mira da quadrilha, chamada de Fazenda Arara.
O crime
Os presos vão responder por formação de quadrilha, espulho possessório, falsidade documental, uso de documento falso, extração ilegal de madeira, inserção de dados falsos em bancos de dados da administração pública, denunciação caluniosa, e corrupção ativa e passiva.
Confira relação dos 18 envolvidos no crime:
1. Antônio Guedes Ferreira: Tabelião de Peixoto de Azevedo, envolvido na falsificação de documentos para grilagem e falsos reconhecimentos da firma.
2. Rodrigo Lara Moreira: Falsificação de documentos para grilagem de terras, usa de documentos falsos, corrupção – testa de ferro da quadrilha. (Não preso)
3. Rogério Bedin: Falsificação de documentos para grilagem de terras, denunciação caluniosa – testa de ferro da quadrilha.
4. Jacondo Bendin – pai de Rogério: Falsificação de documentos para grilagem de terras, denunciação caluniosa – testa de ferro da quadrilha.
5. Antônio Paulo de Oliveira (Pachola): Articulador e autor da grilagem de terras (esbulho), posse e porte de armas de fogo, crimes ambientais, sócio da Fazenda Moreira.
6. Gilmar Aliberte: Comercialização de créditos florestais da Fazenda Moreira, grilagem de terras.
7. Luiz Carlos de Melo: Sócio na grilagem da Fazenda Moreira. Comercialização de créditos florestais.
8. José Almir de Melo: grilagem de terra. Uso de documentos falsos na Sema, procurador da Fazenda Moreira perante a Sema. Comercialização de créditos florestais.
9. Jackson Monteiro de Medeiros: Servidor da Sema, responsável pela fiscalização in locu que ratificou a fraude no PEF da Fazenda Moreira. Corrupção passiva. Ele responde a Inquérito Policial por corrupção em Sinop. Respondeu a Processo Criminal por extorsão em Santo Antônio do Leverger. Foi preso na "Operação Guilhotina" no ano de 2007.
10. Roselayne Laura da Silva Oliveira: Servidora da Sema que aprovou a PEF fraudado no âmbito da Coordenadoria de Gestão Florestal, mesmo havendo vários indícios de fraude no Processo Administrativo. Suspeita de Corrupção Passiva. (Presa em Cuiabá).
11. Péricles Pereira Sena: Engenheiro Florestal responsável pelo PEF fraudado. Corrupção ativa. Crimes Ambientais. (preso em Várzea Grande).
12. João Veriano da Silva: Principal agrimensor utilizado pela quadrilha. Falsificação de mapeamento de áreas visando à grilagem de terras. (Preso em Cuiabá).
13. Cleyton Aguiar de Figueiredo: Foi utilizado pela quadrilha para confeccionar um mapeamento falso da área rural denominada Fazenda Arara (Fazenda Blaese), visando à abertura de procedimento junto ao Intermat. (Preso em Cuiabá)
14. João Ricardo de Matos: Forneceu um mapeamento e descrição de perímetro falso para Rodrigo Lara Moreira.
15. João Batista da Silva: testa de ferro da quadrilha, confecção de documentos para grilagem de terras. (Não preso)
16. Idevan Fernandes Savi (Brito): É responsável pela prática de crimes ambientais na Fazenda Presidente Nereu (extração ilegal de madeira e transporte para madeiras), área próxima a Fazenda Moreira, havendo a suspeita de que estava utilizando Guias Florestais da Fazenda Moreira para esquentar a madeira extraída ilegalmente. (Não preso)
17. Leonel Moreira: Falsificação de documentos. Forneceu seu nome a quadrilha, figurando como adquirente da Fazenda Moreira no contrato falso.
18. Antônio Fernando Alves dos Santos: É advogado de vários membros da quadrilha. Praticou denunciação caluniosa da Delegacia Regional de Sinop. Já responde processo por extorsão e formação de quadrilha e corrupção.