Erros de enfermagem acontecem por falta de estudo e de respeito ao paciente

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Camila NeumamT 

 

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Em cinco anos, houve aumento de 30% de erros desses
profissionais no Brasil, segundo o Conselho Federal de Enfermagem


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A falta de formação adequada e de consciência sobre a função exercida são as principais causas dos erros de enfermagem, segundo os especialistas consultados pelo R7.

 

Fatos recentes mostraram consequências chocantes diante de procedimentos simples, como a retirada de um curativo e aplicação de soro. No primeiro, uma auxiliar de enfermagem cortou parte do dedo de uma criança de quatro anos e, no segundo, outra profissional, do mesmo cargo, provocou a morte de uma adolescente de 12, ao aplicar vaselina na corrente sanguínea.

Para o presidente do Cofen (Conselho Federal de Enfermagem), Manuel Carlos Neri da Silva, situações como essas mostram o despreparo dos profissionais, o que poderia ser sanado se houvesse mais capacitação. Segundo ele, nos últimos dez anos a oferta de cursos de enfermagem aumentou muito, mas nem todos têm a qualidade necessária. Isso se reflete no número de profissionais disponíveis no mercado, na sua maioria técnicos e auxiliares capazes de fazer apenas cuidados básicos de enfermagem. 

Entenda a diferença entre os cargos de enfermagem

– O número de profissionais que cometem erro é pequeno, mas a questão é como erra. Em cinco anos, houve aumento de 30% de erros desses profissionais no Brasil e os conselhos têm julgado e punido com a perda do direto [ de atuar na área].

Há hoje no Brasil 1,5 milhão de profissionais na área – são 300 mil enfermeiros e 1,1 milhão de técnicos e auxiliares, em números do Cofen.

– Faltam políticas públicas que disponibilizem cursos de capacitação para esses profissionais. Eles não têm como se atualizar por conta própria, porque já ganham muito pouco.

Foco no paciente

Mais do que a falha de atualização, o grande problema é a falta de cuidados essenciais com o paciente, de acordo com o presidente do Coren-SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo), Claudio Alves Porto. Para ele, a “falta de consciência de que o trabalho está ligado à vida e que um ato, por mais banal que seja, pode ser a diferença entre a vida e a morte” explica boa parte dos erros cometidos.

– [As auxiliares de enfermagem] sabiam que poderiam causar danos e tenho certeza que não ignoraram isso. Mas o problema é que a nossa formação está muito ligada ao conhecimento, à tecnologia, mas não se faz a formação moral.

Os defensores das auxiliares, em ambos os casos, afirmam que elas foram induzidas a erro pela falta de estrutura dos locais de trabalho. Os especialistas não descartam a hipótese, mas são unânimes em dizer que os erros não se justificam por esse viés.

Porto admite que a sobrecarga de trabalho pode, de fato, comprometer o atendimento.

– A sobrecarga de trabalho naturalmente causa estresse, fadiga profissional, e isso se soma ao baixo nível de remuneração, compensado com três, quatro empregos. Mas isso não isenta a culpa.

Essa dura realidade profissional pode mudar se for aprovado projeto de lei que regulamenta a jornada de trabalho dos profissionais de enfermagem em 30 horas semanais, ante as 40 atuais em instituições públicas e 44 em organizações privadas. O Cofen e a Associação Nacional de Enfermeiros brigam para colocar a PL 2.295/2000 na ordem do dia. O último pedido foi realizado em dezembro último na Câmara dos Deputados.

Se houver a denúncia do erro do profissional, o primeiro passo é a abertura de sindicância pelo Conselho Regional de Enfermagem do Estado onde ele ocorreu. Se comprovado o dano, o profissional é afastado até correr o processo de sindicância, julgado pelos conselheiros. Se comprovada a infração, o profissional pode sofrer desde advertência privada ou pública (quando a decisão é divulgada em público) até a cassação do registro profissional.

Todo esse trâmite é de conhecimento dos profissionais, o que, segundo o presidente do Cofen, pode inibir as más práticas.

Cuidados com as crianças

 

O fato dos dois erros citados terem ocorrido com crianças não é mera coincidência, segundo o presidente do Coren-SP. Diferente dos adultos, crianças, em especial as muito pequenas, não reagem a determinados estímulos e nem questionam as atitudes do profissional. O próprio organismo do adulto tem condições de receber cargas mais elevadas de medicamentos.

 

– Ao lidar com crianças, o profissional tem que saber que as consequências são muito maiores. Se você injetasse 50 ml de vaselina em um adulto sadio, provavelmente ele teria problemas, mas não morreria, porque o organismo consegue fazer frente por causa da quantidade de sangue.

Trabalho em grupo

Para a enfermeira Mara Márcia Machado, diretora do Instituto Qualisa de Gestão, empresa especialista em segurança do paciente, o trabalho em equipe entre profissionais é a chave para evitar erros graves no atendimento.

– Aqui no Brasil não entendemos ainda que o processo de assistência é em equipe. Ainda trabalhamos isoladamente e disputando. Isso faz perder o foco que é olhar para o paciente.

O instituto é ligado a entidades estrangeiras que dão consultorias em hospitais. No Brasil, o seu programa de segurança do paciente é coordenado por 12 hospitais líderes, que coordena outros 86. Os hospitais Pirajussara, Santa Paula e São Camilo, todos em São Paulo, Barra D`Or, no Rio de Janeiro, Vila da Serra, em Belo Horizonte, e Unimed de Fortaleza, são exemplos.

Assista ao vídeo:

 

 

 

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