Primos aceitam risco 3 vezes maior de ter filhos com doenças e engatam casamento

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O relacionamento entre Fátima e Sinval, personagens dos atores Bianca Bin e Kayky Brito, em Passione, trouxe à tona o risco de doenças genéticas entre filhos de casais do mesmo sangue. Na novela, eles são primo-irmãos.

Esse risco deve ser calculado de acordo com o grau de parentesco e a árvore genética do casal. Quanto mais próxima a familiaridade, maior o risco. Primos de primeiro grau correm mais chances (10%) de ter filhos com doenças genéticas se comparados a casais sem parentesco (3%), explica a bióloga Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP (Universidade de São Paulo). Segundo ela, entre mil casais, cem crianças podem nascer com problemas genéticos.

Filhos de primos podem nascer com doenças genéticas desde que ambos carreguem genes com alterações semelhantes – o que é muito mais fácil de acontecer entre parentes. Caso isso aconteça, a criança pode nascer com cegueira, surdez, albinismo, distrofias musculares e fibrose cística, ou qualquer outra enfermidade de uma lista de milhares de doenças genéticas, com exceção da síndrome de down, que não ocorre pela consanguinidade. Mas definitivamente esse risco não atinge somente parentes, afirma a bióloga.

– Todos são portadores de genes que causam doenças. Só que é muito mais difícil que pessoas sem parentesco tenham genes com alterações semelhantes do que primos que tenham avós em comum.

90% de chance de um bebê saudável

Pesquisas norte-americanas mostram probabilidades menores, mas ainda preocupantes. Segundo estudo do Conselho Nacional da Sociedade de Genética dos EUA, publicado em 2002, casais consanguíneo teriam 6% de chance de ter filhos doentes, contra 3% dos casais sem parentesco, cita Salmo Raskin, diretor da Sociedade Brasileira de Genética Médica, avalia o dado por uma perspectiva bem mais otimista.

Mesmo com o dobro do risco, vendo o dado por outra ótica, há ao menos 90% ou mais de chance de o casal de primos, mesmo de primeiro grau, ter um filho saudável, orienta Salmo.

– Mas esse dado só deve ser levado em conta quando não há casos de doenças hereditárias na família. Ao contrário, o risco tende a ser muito maior.

A quantidade de filhos do casal pode indicar ainda mais risco, segundo a bióloga da USP. Para entender como isso funciona, ela compara a situação a um jogo de cara e coroa.

– Quantos mais filhos você tem, maior a chance de aparecer uma doença. Se na primeira vez deu cara, quanto mais vezes você joga maior a chance de aparecer coroa, ou seja, maior a chance do filho ser afetado.

A dona de casa Edinea Aparecida Palma Rocha, de 51 anos, passou ilesa por esses riscos. Moradora de Osasco (SP), ela se casou com José Carlos Rocha, 49 anos, seu primo de primeiro grau. Eles tiveram três filhos, todos saudáveis. Além do risco genético, Edinea superou outros dois entraves, o lúpus – doença autoimune que causa aborto instantâneo – e um parto do terceiro filho aos 40 anos.

– Nunca tive medo, sempre tive confiança de que meus filhos nunca teriam nada.

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Quando procurar um médico

A qualquer indício de risco, é recomendado ao casal procurar aconselhamento genético. O médico especialista em genética médica vai investigar a incidência de doenças familiares nas três últimas gerações. Constatados casos, o casal vai fazer testes genéticos específicos para saber se carregam a propensão a elas em seu DNA, explica Raskin.

Se o risco for moderado ou alto, a partir de 10%, o casal pode optar pelo diagnóstico genético pré-implantação, procedimento permitido pelo Conselho Federal de Medicina. A técnica se resume a um passo a mais da fertilização in vitro tradicional. 

 

– Antes de implantar os embriões no útero, é retirada uma célula de cada embrião. Todas serão submetidas a um teste genético para saber quais embriões carregam efeito genético. Feito isso, selecionam-se dois ou três embriões saudáveis para implantá-los.

Vale ressaltar que o procedimento é caro e pode não resultar em gravidez. Se cada tentativa de fertilização in vitro custa, em média, R$ 10 mil, o de pré-implantação custa torno de R$ 20 por tentativa.

Não ter filhos, adotar ou arriscar são as outras opções que o casal pode ter.

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