Romilson Dourado
O governador Silval Barbosa pode recuar do convite feito ao deputado federal Wellington Fagundes para este assumir a secretaria de Transporte e Pavimentação Urbana (nova nomenclatura da atual Sinfra), caso o cerco venha se fechar contra o parlamentar, que foi acusado de, num conluio com o prefeito de Barra do Garças Wanderlei Farias, ambos do PR, cobrar propina de 20% de cada contrato com uma empreiteira.
Wellington, por sua vez, após a empolgação inicial, já se mostra receoso em virar secretário por causa do escândalo, embora não dê demonstrações públicas de preocupação sobre o assunto. A denúncia foi formalizada por um contador na Polícia Federal e resultou, inclusive, na operação Atlântida, com prisão de 26 pessoas no mês passado, entre elas o empreiteiro Antonio Jaconini, da Assessoria e Construções Ltda (Assecon), com a qual o parlamentar teria esquema.
Wellington ficou de consultar amigos, familiares e aliados mais próximos para dar uma resposta a Silval na próxima semana. Num primeiro momento, ele ficou empolgado com a proposta de se tornar secretário. Já acumula 20 anos de atuação na Câmara Federal e entende ser oportuno ter experiência agora no Executivo, como secretário de Estado e numa área onde ele próprio tem muito interesse. Como parlamentar, Wellington sempre prioriza emendas para atender obras de infraestrutura. Sua relação é estreita no Ministério dos Transportes, no Dnit e junto à superintendência da Unit em Mato Grosso, tanto que faz lobby toda época que ocorrem nomeações para esses cargos.
O deputado, tido como um dos políticos milionários, donos de fazendas, empresas, veículos de comunicação e de dezenas de imóveis urbanos, tenta superar o desgaste por ter o nome envolvido em escândalo. Sua parceria com Wanderlei Farias já dura ao menos duas décadas. O suposto esquema que aponta Wellington como envolvido está sendo investigado pela PF. De acordo com a denúncia, ele exerce forte influência nas prefeituras, principalmente na de Barra do Garças. Seria articulador na liberação de recursos e, em moeda de troca, embolsaria 20% de propina dos contratos.
Com maior atuação nas regiões de Rondonópolis (Sul) e Barra do Garças (Araguaia), Wellington ganhou força política nas eleições deste ano. Primeiro porque se reelegeu para o sexto mandato como campeão de votos: 145.460 votos. Segundo, porque preside no Estado o Partido da República, a maior legenda e que elegeu Blairo Maggi senador, garantiu 2 vagas na Câmara, 6 na Assembleia e conta com 32 prefeitos. Governista de carteirinha, o deputado "colou" em Silval e virou espécie de consultor do chefe do Executivo estadual e ainda mantém boa relação com os demais grupos políticos. É nos bastidores que Wellington se revela um fissurado por obras estruturantes, por cargos e por apoios políticos.