O consumo de bens duráveis cresceu no ano passado estimulado pelo aumento no salário do trabalhador e pelos incentivos de programas de transferência de renda. A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2009, divulgada nesta quarta-feira (8), diz que o brasileiro comprou mais computadores, máquinas de lavar roupa e outros bens duráveis.
Para Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, instituto de pesquisa focado no consumo da baixa renda, muitos brasileiros estão aproveitando para comprar coisas às quais nunca tiveram acesso antes.
– As famílias têm “a minha primeira vez” para uma série de produtos, como uma televisão melhor, um computador, alguns eletroeletrônicos. Isso mostra uma nova camada de brasileiros que passou a fazer parte de um grupo antes distante. Elas ganham mais e têm mais crédito disponível. Se antes dez tomavam crédito, hoje são cem.
Para ele, esse crescimento é sustentável porque está baseado no aumento do emprego, dos salários e, no caso das classes mais baixas, que ganham entre zero e três salários mínimos (até R$ 1.530), dos programas de distribuição de renda.
– Esses programas têm como mérito colocar dinheiro na base da pirâmide da economia brasileira. Quando você pega os R$ 13 bilhões do Bolsa Família [dados de 2010] e joga diretamente na classe D e E, vocês os faz consumir.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que o rendimento médio mensal do trabalhador brasileiro aumentou 2,2% de 2008 para 2009, passando de R$ 1.082 para R$ 1.106. Trata-se do quarto ano seguido de crescimento na renda e maior aumento desde 2006, quando os ganhos subiram, em média, 3,1%.
Segundo a pesquisa, desde 2004, ano em que a Pnad passou a ser feita com dados mais amplos sobre o Brasil, o rendimento médio mensal das moradias aumentou 19,3% – passando de R$ 1.747 para R$ 2.085, em 2009. Os números consideram apenas as moradias com algum tipo de remuneração.
Segundo o IBGE, de 2008 para 2009, houve crescimento do rendimento dos domicílios em todas as classes sociais, especialmente naquelas com remuneração mais baixa.
Nova classe média consome mais
Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria Integrada, diz que, com renda mais alta, quem não consumia passa a consumir, e quem já comprava, aumenta os gastos com bens duráveis. Ele também cita o Bolsa Família como um dos responsáveis pelos resultados.
– Tem uma parcela da população que ingressou no mercado por causa dos programas sociais de transferência de renda. Há mais ou menos 11 milhões de famílias que recebem o Bolsa Família hoje. Estamos em uma economia em que distribuir renda ajuda a aumentar a capacidade de consumo da sociedade.
Pelos dados mais recentes do governo, a classe C já reúne 103 milhões de brasileiros. Eram 66 milhões em 2003. Em 2014, esse grupo deve somar 113 milhões de pessoas, ou 56% da população até lá.
De acordo com o IBGE, estão nas classes A e B os brasileiros com renda familiar acima de R$ 5.100 (dez salários mínimos). Na classe C, está a população com renda domiciliar entre R$ 2.040 e R$ 5.100 (de quatro a dez salários). Na classe D ficam os que recebem entre R$ 1.020 e R$ 2.040 (entre dois e quatro mínimos). A classe E considera renda domiciliar inferior a R$ 1.020 (dois salários mínimos).
Na avaliação do especialista do Data Popular, os dados positivos se tornam mais importantes se levarem em conta que o período analisado pela pesquisa do IBGE remete ao auge da crise financeira internacional. Para ele, o Brasil passou bem pelo período de turbulência e se recuperou bastante de 2009 para cá.
– Temos que avaliar que esses dados envolvem o auge da crise financeira internacional. Mesmo na época de crise, o Brasil continuou crescendo, a renda continuou expandindo, as pessoas continuaram comprando. Tudo indica que os dados para este ano serão bons e com crescimentos fortes.