Numa eleição em que os candidatos praticamente não empolgam, não há dúvida de que o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV constitui um fator, digamos assim, decisivo para o eleitor definir seu voto – ou votos.
O risco, às vezes, é esse expediente se tornar uma mera extensão de insossos debates levados ao ar por emissoras de televisão. O denominado "palanque eletrônico" ainda é preservado pelo caráter democrático, já que oportuniza o acesso igualitário aos candidatos e/ou partidos.
O inconveniente é que, vai eleição, vem eleição, e nada se altera: mudam os cargos em disputas, mas os candidatos praticamente são os mesmos. Idem, as promessas. No caso específico de Mato Grosso, não há diferença se o cidadão disputa uma vaga no Palácio do Governo, no Parlamento Estadual ou no Congresso Nacional, a plataforma eleitoral e os discursos são idênticos.
Com efeito, passados 15 dias do início do horário gratuito, a indigência em termos de propostas é flagrante na campanha regional. Do postulante ao comando do Executivo ao aspirante a cargos de deputado e senador – com as raríssimas exceções, obviamente -, o discurso é batido, chocho, vazio e irritante: "mais" Saúde, "mais" Educação e "mais" Segurança Pública.
Num Estado como Mato Grosso, essencialmente agrícola e com um ecossistema diferenciado, é curioso que candidatos a governador, por exemplo, omitam da lista de prioridades as questões ambientais. É estranho que releguem a um plano secundário o incentivo à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, esqueçam a política tributária, a assistência social, a melhoria do sistema viário… Ou, na visão caolha de determinados candidatos, nada disso conta para a promoção do bem-estar, da qualidade de vida dos cidadãos?
A propaganda eleitoral no dial e no vídeo, lamentavelmente, está longe de oportunizar ao cidadão a informação que ele necessita para fazer sua escolha de maneira consciente, sem pressão. No caso da campanha proporcional (Assembléia Legislativa e Câmara Federal), assiste-se a um festival de besteira que assola a campanha eleitoral: candidato que mal tem tempo de dizer o nome repete, à exaustão, seu compromisso com "mais" Saúde, Educação e Segurança. Ah, sim: garante que, se eleito, vai "melhorar a vida" do cidadão.
Esse show de ilusões prossegue no desfile de majoritários, na medida em que os candidatos a governador se igualam nas promessas, nos discursos vazios. Não contando-se, claro, as acusações mútuas, que passam ao eleitor menos avisado a impressão de que, em vez de currículos, discutem-se folhas corridas.
O despreparo é outro fator que contribui para a indigência e para o "show de horrores" em que se transformou o horário eleitoral. A título de ilustração: candidato a uma vaga no Senado, o Procurador Mauro (PSOL), em sua propaganda, além de prometer "mudar o mundo", diz aos eleitores que, se eleito, vai "governar com o povo" no Congresso Nacional. Legislar não deve ser a praia do socialista.
Bem a propósito, é providencial reproduzir neste espaço a observação do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, que, em ensaio na revista Veja, foi claro, sucinto, acerca do horário eleitoral na TV: "(…) repete-se a parada macabra dos candidatos a deputado, os tipos suspeitos alternando-se com os sinistros, os desconhecidos com os exóticos. Tudo muito rápido, um empurrando o outro como quem enfrenta um corredor polonês, atropelando-se para dar um recado que na maior parte das vezes se resume a recitação de um nome e de um número. Pince quem for capaz um candidato que coincida com suas visões e aspirações nessa feira de desesperados".
Não se pode, entretanto, esmorecer. Apesar de o horário gratuito se configurar, digamos assim, uma espécie de "hora da tristeza", é fundamental assisti-lo. Pelo menos, depois, se pode cobrar… Ou se arrepender profundamente