Uma semana após ter sido atingido por um terremoto de sete graus na escala Richter, na última terça-feira (12), o Haiti ainda tem hospitais e centros de saúde funcionando em condições precárias. Até o momento, o país enterrou mais de 70 mil mortos, mas fala-se que o total de óbitos pode chegar a 200 mil. Instituições internacionais de ajuda humanitária enviam médicos ao Haiti e, sob a coordenação da OMS (Organização Mundial da Saúde), participam de reuniões diárias do Grupo Orgânico de Saúde, criado para centralizar informações sobre a capacidade de atendimento médico aos feridos.
Segundo a instituição, todos os focos de ajuda em saúde estão sobrecarregados e o atendimento é distribuído em hospitais de campanha enviados por outros países ou naqueles que não foram danificados. Com o tremor, pelo menos oito hospitais foram destruídos e, em alguns casos, as pessoas são atendidas em tendas improvisadas nas ruas ou ao ar livre. Apesar disso, os relatórios epidemiológicos preparados até o momento não indicam aumento nos casos de doenças transmissíveis no Haiti ou nas regiões de fronteira. Os desafios iniciais para as equipes médicas são lidar com a falta de comida, água, saneamento básico e a possibilidade de infecções, como o tétano, cEquipes de avaliação sanitária começaram a visitar hospitais e avaliar suas condições neste fim de semana. Mas, segundo a OMS, ainda é cedo para divulgar um quadro geral de saúde no Haiti após o terremoto. A organização está enviando remédios e suprimentos para tratar cerca de 165 mil pessoas pelo período de um mês e tenta montar centros de atendimento na capital do Haiti, Porto Príncipe, e em Santo Domingo, na vizinha República Dominicana. Mas o principal centro deverá ser estabelecido na cidade fronteiriça de Jímani, na República Dominicana, a 90 minutos de Porto Príncipe por uma estrada não destruída. Também há serviços de saúde disponíveis nas cidades de Barahona, Azua, Neiba, San Juan de Maguana, Elias Piña e Matas de Farfan.
A distribuição do atendimento é necessária porque há ocorrências de ferimentos graves e de mortes fora da capital. Segundo o Ministério do Interior e Defesa Civil do Haiti, houve pelo menos 581 mortos e 1,3 mil feridos na região de Leogane, 2 mil feridos em Petit Goave e 3 mil feridos e 14 mil desabrigados em Grand Coave. Em Gressier, com 50 mil habitantes, pelo menos 80% das casas foram destruídas.
Segundo a OMS, massas de população se deslocam de Porto Príncipe para outras áreas em busca de socorro médico. De acordo com relatos de profissionais a serviço da organização internacional MSF (Médicos Sem Fronteiras), os feridos começam a se aglomerar em filas quando descobrem um novo foco de atendimento em saúde e os pacientes são levados em carrinhos de mão ou nas costas de outra pessoa.
A MSF mantinha profissionais no Haiti antes do terremoto e alguns morreram com o tremor. Agora, mais 70 pessoas foram enviadas ao país e as equipes trabalham 24 horas por dia, segundo a organização. No primeiro dia de atendimento, mais de 200 cirurgias foram realizadas, algumas delas dentro de um contâiner improvisado como sala cirúrgica. A instituição deverá receber nos próximos dias um hospital inflável com cem leitos e dois centros cirúrgicos, além de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e sala de emergência. O avião com todo o material só não chegou antes porque não conseguiu autorização para aterrissagem em Porto Príncipe.
Hospitais
Antes do terremoto, havia 371 postos de saúde, 217 de centros de saúde e 49 hospitais em todo o Haiti, incluindo 11 hospitais em Porto Príncipe. Mas oito deles foram danificados pelo terremoto e não se sabe ainda a condição de funcionamento de estruturas que sobraram. Os hospitais em Gonaive e San Marca estão sobrecarregados. O de Jímani passa por situação semelhante e, preparado com 20 leitos, atendeu a 2 mil pessoas e realizou mais de 200 cirurgias na última semana. Já o Hospital Buen Samaritano, no mesmo período, conseguiu operar 200 pacientes em apenas quatro salas cirúrgicas. A condição de atendimento é mínima também no Hospital Universitário HUEH, em Porto Príncipe, que teve o pavilhão cirúrgico destruído e até agora fora de operação, mas manteve a maternidade e o pavilhão médico intactos. No Hospital São Francisco de Sales, os serviços de emergência ainda são prestados na calçada.
Os hospitais de campanha enviados por forças militares de outros países reforçam o atendimento médico no Haiti. O centro móvel de Israel atende a 60 pacientes e foi escolhido para cuidar de casos mais graves. Também já está em operação um hospital de campanha russo. Outros centros móveis devem chegar da Turquia, França, Indonesia e Estados Unidos. O navio e hospital USNS Comfort, dos Estados Unidos, também está a caminho e é equipado com 1.000 leitos. Além disso, o Ministério da Saúde haitiano avaliou a condição do solo em algumas áreas da capital e indicou pelo menos outros cinco locais que poderão receber novas instalações médicas.
A FAB (Força Aérea Brasileira) também enviou seu hospital de campanha, que foi instalado na capital e realizou sua primeira cirurgia neste domingo (17). A equipe de saúde brasileira é formada por 48 militares de diversas áreas. O hospital tem capacidade para atender de 300 a 400 pessoas por dia e é equipado com centro cirúrgico, UTI, raio-X, laboratório e atendimento ambulatorialuja taxa de letalidade, com feridas abertas e contaminação sem tratamento, é superior a 70%.