Projeção do Banco Central para queda do PIB passa de 6,4% para 5%

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O Banco Central (BC) reduziu a projeção de queda da economia brasileira este ano. A estimativa de recuo do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, passou de 6,4%, previstos em junho, para 5%. A estimativa está no Relatório de Inflação, divulgado trimestralmente pelo BC.

No relatório, o BC lembra que o PIB recuou 9,7% no segundo trimestre de 2020, “repercutindo a magnitude da retração da atividade em março e, principalmente, em abril”. Segundo o Banco Central, há “perspectivas mais favoráveis para o terceiro trimestre, em linha com os indicadores domésticos disponíveis, as informações mais recentes sobre a pandemia e a evolução esperada da economia internacional”.

Para 2021, “ainda com incerteza acima da usual”, a projeção de crescimento é de 3,9%. “Ressalte-se que essa perspectiva depende da continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira, condição essencial para permitir a recuperação sustentável da economia”, finaliza o Banco Central.

Estimativas para 2020

O crescimento esperado para a agropecuária ficou praticamente igual ao apresentado no último Relatório de Inflação (1,3%, ante 1,2%), “com ligeira melhora na previsão para a agricultura, em face do aumento nas previsões mais recentes do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), compensada por expectativa de resultado menos favorável para a pecuária”.

A previsão para a evolução da atividade industrial no ano foi revisada de -8,5% para -4,7%. “A projeção para o crescimento da indústria extrativa foi alterada em virtude de impactos iniciais da pandemia da covid-19 sobre a demanda por petróleo e minério de ferro menos intensos do que os previstos anteriormente. A rápida recuperação de indicadores da indústria de transformação e da construção civil após recuo agudo no início do período de distanciamento social motivou as revisões no desempenho desses segmentos”, destacou o Banco Central.

A previsão para o setor de serviços passou de -5,3% no Relatório de Inflação anterior para -5,2%. “Destacam-se a melhora na previsão para o comércio, setor bastante relacionado à atividade industrial e ao consumo de bens pelas famílias e, em sentido oposto, os recuos esperados para outros serviços e, em especial, para administração, saúde e educação públicas”.

O BC acrescenta que o segmento “outros serviços” engloba atividades que continuam bastante afetadas pelo distanciamento social, como alojamento, alimentação fora de casa e atividades artísticas, enquanto o setor de administração, saúde e educação pública foi impactado pela redução na prestação de serviços de saúde e, principalmente, pelo fechamento de creches e interrupção parcial do ensino em escolas e universidades públicas.

A estimativa para a variação do consumo das famílias passou de -7,4% para -4,6%. A previsão para a formação bruta de capital fixo (FBCF – investimentos) foi revista de -13,8% para -6,6%, “refletindo desempenho melhor do que o esperado na construção civil e na produção de bens de capital”. 

Em sentido contrário, acrescenta o BC, espera-se pior desempenho no consumo do governo (-4,2% ante 0,2%), “em decorrência das reduções em serviços de educação e saúde públicas”. O Banco Central explica que os serviços de saúde ficaram mais focados no combate à covid-19, com redução de outros serviços, como consultas, exames e procedimentos cirúrgicos.

As exportações e as importações de bens e serviços, em 2020, devem variar, respectivamente, -1,8% e -11,1%, ante projeções respectivas de -8,1% e -11,1% apresentadas no Relatório de Inflação anterior. 

“A melhora esperada no desempenho das exportações resulta, sobretudo, do bom desempenho das vendas de produtos básicos. Já a manutenção da estimativa para as importações, a despeito da melhora nas previsões para indústria de transformação, consumo das famílias e formação bruta de capital fixo, reflete resultados ocorridos mais negativos do que os esperados, incluindo os dados parciais observados do início do terceiro trimestre”, diz o BC.

Estimativas para 2021

As atividades da agropecuária, da indústria e de serviços devem avançar 3,4%, 4,5% e 3,7%. “A projeção para a agropecuária repercute prognósticos favoráveis para a safra 2020/2021 e recuperação da produção de carne, em especial de bovinos”, diz o relatório.

Para o setor industrial e de construção, o BC espera por “recuperação disseminada, com a produção voltando ao longo do ano aos patamares do período pré-pandemia, em linha com a gradual recuperação do mercado de trabalho e aumento das demandas interna e externa”.

Para o setor de serviços, o BC diz que “as atividades mais severamente impactadas pelo distanciamento social – como comércio, transporte, armazenagem, correio, outros serviços, e administração, saúde e educação públicas – devem ter as maiores altas devido, em parte, às bases de comparação deprimidas de 2020”.

As taxas de crescimento esperadas para consumo das famílias, consumo do governo e FBCF são 5,1%, 3,8% e 3,9%, respectivamente. 

“Apesar da redução das transferências governamentais esperada para 2021, o consumo das famílias deve ser favorecido pelas expectativas de recuperação progressiva do mercado de trabalho, aumento da mobilidade, maior acesso a serviços com oferta limitada durante a pandemia, e volta da taxa de poupança das famílias [fração da renda disponível bruta das famílias não destinada ao consumo de bens e serviços] para níveis pré-crise”, afirma o Banco Central.

Já o consumo do governo deve crescer em 2021 devido ao “gradual retorno dos serviços de saúde e educação públicas à normalidade, enquanto a FBCF deve apresentar crescimento em linha com a expectativa de recuperação da indústria de transformação e da construção civil”.

As exportações e importações de bens e serviços devem crescer 4,9% e 0,2%, respectivamente. “O desempenho das exportações, em linha com a melhora da demanda global, deve ser influenciado pelas vendas das indústrias de transformação e extrativa. Já a modesta recuperação das importações, em cenário de elevação da atividade econômica, é explicada principalmente por dois fatores, além da taxa de câmbio real mais elevada do que a vigente no período pré-pandemia”, diz o BC.

O primeiro fator citado pelo relatório é a expectativa de menor importação de equipamentos para a indústria de óleo e gás, em grande parte no âmbito do Regime Aduaneiro Especial para Bens destinados às Atividades de Pesquisa e de Lavra das Jazidas de Petróleo e de Gás Natural (Repetro). 

A Lei n° 13.586/2017 instituiu alterações no tratamento tributário para os investimentos no setor de óleo e gás, o que tem produzido impactos nas transferências de propriedade de bens entre empresas no Brasil e no exterior. O segundo fator é a retomada mais tardia das importações em 2020.

Agência Brasil

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