Débora Siqueira | Sesp-MT
Cáceres registrou 488 casos de violência doméstica no primeiro semestre de 2019. No ano passado foram registrados cerca de 2 mil boletins de ocorrência, 681 inquéritos policiais relatados e outros 640 instaurados por mulheres agredidas. O número chamou a atenção da delegada titular da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, Criança e Idoso, Judá Maali Pinheiro Marcondes.
Desde dezembro do ano passado quando assumiu a unidade, ela percebeu que o antigo prédio estava pequeno demais para os trabalhos desenvolvidos em parceria com o Alcoólicos Anônimos (AA) – que atua com palestras com agressores, uma vez que o abuso do álcool está presente na maioria dos casos de violência doméstica – e em parceria com o Ministério Público Estadual, por meio do projeto Luz, em que uma psicóloga recebe um único depoimento da criança agredida, para que ela não precise reviver os momentos de trauma mais de uma vez durante o processo judicial.
A nova sede, inaugurada na sexta-feira (09.08), é uma das seis delegacias da mulher em Mato Grosso, que buscam um atendimento mais humanizado à vítima. As crianças vítimas de violência também terão uma brinquedoteca para quando forem ouvidas em casos de violência e abuso sexual.
“Temos o objetivo de combater a violência doméstica, trabalhando não só a repressão, mas na prevenção dos crimes, fazer um atendimento mais humanizado para mulheres, crianças, adolescentes e idosos”, disse a delegada.
Por meio do projeto Luz, muitos casos de violência e abuso sexual foram denunciados na delegacia, com atendimento psicológico. A promotora Liane Amélia Chaves comentou que agora o atendimento para crianças e adolescentes está consolidado com o que a lei prevê, como uma sala para o depoimento sem danos para que a vítima não sofra ao falar sobre o crime reiteradas vezes.
“A cidade de Cáceres tem muita carência e esse déficit econômico acaba influenciando na família. Temos muitas famílias numerosas, de filhos de vários pais e os problemas familiares são muito grandes. Muita mulher ainda não tem coragem de denunciar e às vezes se mantém no relacionamento com agressor do filho por uma dependência financeira”.
Para a magistrada Hanae Oliveira, o novo prédio mostra que o Governo de Mato Grosso está preocupado com Cáceres e se importa em levar o melhor atendimento para a população. “Toda essa estrutura lúdica faz com que a vítima relembre os momentos de agressão, mas se sentindo segura. O depoimento é colhido apenas uma vez e a vítima não precisará ser ouvida novamente em juízo, pois cada vez que fala revive os momentos de tortura”.
O secretário adjunto de Inteligência Policial de Secretaria de Estado de Segurança Pública, Wilton Massao Ohara, destacou que os 13 anos da Lei Maria da Penha, recém celebrados, mostram que houveram muitos avanços, especialmente no tratamento das vítimas. “Em alguns estados aumentaram em 98% o número de casos, o que especialmente neste tipo de crime não é ruim que ocorra, isso significa que as vítimas estão perdendo o medo e denunciando. Elas não aceitam mais viver sob uma vida de agressões e abusos. A delegacia está de parabéns pelo espaço e por atuar não só na repressão, mas em projetos para a prevenção”, destacou.