Luciene Oliveira | PJC-MT
Apaixonada por cães, a investigadora da Polícia Judiciária Civil, Vanessa Miranda de Paula, é a única mulher do Canil Integrado de Fronteira, instalado em Cáceres (225 km a Oeste) desde o ano de 2013. Na atividade policial, o amor de infância pelos cães tornou prazeroso o treinamento realizado todos os dias com os animais, para emprego em operações de buscas e apreensão de drogas, resgate e guarda.
“Sou apaixonada pelo que faço. Sou policial. Hoje trabalho com adestramento de cães e tudo isso envolve minha primeira vocação, que é a educação física. O adestramento exige muito do corpo, e, por tudo isso, sou bem realizada no que faço”, afirma a investigadora.
Quando ingressou na Polícia Civil, no ano de 2007, foi para o interior do Estado, iniciando na Delegacia de Colider, passando por Nova Monte Verde, Pontes e Lacerda e Cuiabá, atuando na Capital na Diretoria Geral, Corregedoria de Polícia, e Delegacia Especializa da Repressão a Entorpecentes (DRE).
Foi na DRE que começou o trabalho com cães. Em 2011, teve a oportunidade de participar do 1ª Curso de Adestramento de Cães de Faro de Drogas, promovido pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), em parceira Companhia de Policiamento com Cães de Florianópolis, Estado de Santa Catarina, que foi ministrado por cinco instrutores da Polícia Militar catarinense.
No curso aprendeu técnicas de adestramento de cães para o emprego nas abordagens e buscas por drogas em residências, veículos, terrenos, rodovias, entre outros locais que necessitam do faro animal.
“Eu já gostava muito da atividade policial, mas a ‘cereja do bolo’ veio com a oportunidade de unir minha paixão de infância, que são os cães”, afirmou Vanessa.
“Desde o curso, passei a me dedicar, quase que exclusivamente, ao trabalho de treinamento e emprego desses cães farejadores nas atividades policiais. Em 2012, com a integração do canil de fronteira, pela necessidade de emprego dos cães na atividade de fronteira, vim para Cáceres”, completou.
Os cães
Há mais de seis anos, os cães Dara, Fênix, Darinha, Pink, Cometa, Jason, Mel, Gaia, Wonka e Guará, fazem parte da rotina da investigadora. Ela cuida da saúde dos animais, alimenta, treina e está junto com eles nas operações policiais. “Os treinamentos são diários, utilizamos brinquedos para estimular ao cão. Metade dos treinamentos são para preparo físico e outra parte para as especificidades da modalidade que são empregados”, explicou.
Os cães das raças Pastor-Belga Malinois e Labrador atuam em três frentes: faro de drogas, busca e resgate e captura, abordagens de guarda. Os cães farejadores são os mais empregados nas ações policiais, por isso, há sete animais no canil. Quando o Corpo de Bombeiros necessita de um animal para resgate de pessoas, a cadela Dara é chamada. Já nas abordagens que exigem uma proteção maior do policial, Guará e Fenix são utilizados.
Assim como o policial se prepara para uma operação, o cão também passa por todo um processo para evitar o estresse do animal. “Antes de sair do canil, fazemos a soltura do animal para que faça todas as necessidades fisiológicas. No deslocamento precisamos tomar cuidado com a temperatura, com o sol para não superaquecê-los. Preciso levar água, alimentação e o material que será usado, coleira, guia longa, guia curta. Tudo isso tem acompanhar, para que possamos executar o trabalho”, explicou a investigadora.
Para o 2º Sargento da Polícia da Militar, Moracir da Silva Figueiredo, coordenador do Canil de Fronteira, trabalhar com cães é uma terapia. “Torna-se uma terapia o contato com o cão. Essa integração que é há entre o cão, o policial civil, militar e bombeiro, acontece de forma mais tranquila, devido a esse companheirismo dos cães”, disse.
Canil Integrado
Única mulher em meio a 13 homens, o Canil Integrado de Fronteira (Canifron) é compostos por membros da Polícia Militar, Polícia Civil e do Corpo de Bombeiro Militar. A investigadora Vanessa Miranda fala das dificuldades enfrentadas no começo do trabalho na fronteira, não porque sofreu alguma discriminação, longe disso, mas por ser um ambiente novo, de longas distâncias no deslocamento com os animais para atender solicitações diversas das unidades estaduais (Delegacias, Batalhões da PM e Gefron) e também federal (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e o Exército Brasileiro). Ainda tem participações sociais em escolas e feiras.
“Não estava acostumada a dirigir, ficar tanto tempo em deslocamento. Cheguei a rodar 700 km em um dia para fazer atendimento médico veterinário de um cão. No início foi difícil, a própria mistura das instituições. Estar no meio de militares, e eu civil, ao mesmo tempo foi um pouco confuso para mim. A primeira vez que me vi com a farda, assustei, mas depois com o tempo percebi que era necessário. O trabalho com o cão deteriora muito nossas roupas e hoje vejo como um benefício a farda. Tenho desgaste do uniforme, da roupa própria ao trabalho e do calçado”,observou.
Passado o impacto de primeiro momento afirma ter sido “muito bem recebida”. “Muitas pessoas com a intenção de me ensinar. Nunca me deparei com ninguém que não estivesse disposto a ensinar, isso tanto na Polícia Civil quanto na Polícia Militar e até hoje é assim. Vejo que cresci muito como policial. O contato com todas essas instituições (Militar, Bombeiros, Polícia Federal, Rodoviária Federal e Exército) me enriqueceu. Gosto muito de trabalhar com todas as instituições e os cães juntos”, destaca.
Quanto a ser mulher no universo de tantos homens na fronteira, a policial civil enxerga tudo com naturalidade. “Vejo com naturalidade. Quando você é mulher e chega para trabalhar na parte operacional de uma delegacia ou de um setor integrado, te olham com desconfiança, mas sempre tive comigo que se você levar o trabalho a sério, respeitando os colegas, mostrando que mulher também é capaz na polícia. Algum tempo depois, percebem que a mulher soma e não diminui”, pontuou Vanessa Miranda.