Patrícia Helena Dorileo/ GD
“Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”. A frase é do educador, pedagogo e filósofo Paulo Freire, um dos mais importantes pensadores da Pedagogia mundial.
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No dia 15 de outubro homenageia-se os professores e essa é a filosofia que muitos levam para dentro das salas de aula. A vontade de tentar promover a transformação no outro é o que move a maioria dos profissionais.
Para Aline da Silva, de 18 anos, estudante do Liceu Cuiabano, o papel do professor é vai além de dentro da sala. “Já tive tantos professores que levo para a vida, que se tornaram meus amigos. Não sei escolher apenas um que mora no meu coração”, conta, se dizendo emocionada.
Este sentimento só é possível com paixão por parte do professor. “Paixão é ter todo dia o mesmo gás. Acordar sempre e pensar ‘vou ser diferente para quem hoje?’”, explica a pedagoga Edirles Mattje Backs.
O diretor do Liceu Cuiabano, Alceu Trentin, conta que sempre quis ser professor. “Minha professora de matemática, Maria de Lourdes, me inspirou. Sempre quis ser professor. Lembro-me dos nomes dos meus professores até hoje”, relata, lamentando que grande parte da juventude não tem mais esse sonho de vida.
Mas, é difícil fazer a paixão que Trentin e Backs têm. Professores, especialmente na rede pública de ensino, atuam em meio a condições de trabalho complicadas. Falta infraestrutura, os salários são defasados, há casos difíceis de relação com os alunos.
Até mesmo os alunos compreendem os obstáculos. “É uma profissão que, no meu ponto de vista, é desvalorizada. Mas é uma das mais importantes profissões que existem. Sem professor ninguém é nada”, fala Sindy de Souza Melo, de 17 anos que cursa o 3º ano do Ensino Médio.
Essa ‘desvalorização’ é por uma questão econômica, para a pedagoga. “A sociedade admirava e respeitava o professor. Hoje, não. Viemos numa descida. A sociedade valoriza quem ganha altos salários, quem tem o carro do ano, quem mora no condomínio de luxo. O professor vai sendo diminuído e a profissão se acabando. Os cursos de licenciatura estão vazios, quando não sendo fechados”, afirma.
Marcus Vaillant Presidente do Sintep, Henrique Lopes |
Para o presidente do sindicato que representa os trabalhadores do ensino público de Mato Grosso (Sintep-MT), Henrique Lopes, que tem estado à frente de grandes embates com o governo do Estado, falta a classe governamental dar a devida importância para a categoria.
“Hoje há sobrecarga de trabalho, desvalorização salarial e profissional como um todo, é uma classe adoecida. Há pesquisas que comprovam que mais de 40% dos nossos professores sofrem algum tipo de doença relacionada ao trabalho, seja stress, varizes, problemas nas cordas vocais, exaustão emocional. O produto de tudo isso está ligado a falta de reconhecimento da profissão”, afirma Lopes.
Professor e aluno
Edirles Backs, que tem 27 anos de profissão, afirma que “professores nunca foram tão heróis quanto são hoje”. O desafio é dobrado.
As relações entre docente e discente pode ser delicada, em alguns casos. Começando pelo fato de que muitos pais e mães, pela rotina corrida de trabalho, transferem a responsabilidade total da educação para a escola.
“Os pais precisam fazer com que os poucos momentos que tiverem com os filhos sejam mais ricos. Criança vai pelo exemplo e o exemplo precisa vir de casa”, afirma a pedagoga.
Não se pode dizer que casos mais graves dentro das salas de aula, como de violência, são comuns.
“A relação com o aluno, em que pese aparecer alguns casos de violência, de falta de disciplina, está mais ligado à própria condição da própria sociedade, sócio-política econômica e formação dos profissionais de educação, do que outra situação. A violência está instalada na sociedade e a escola não é uma ilha, está inserida na comunidade. É óbvio que o que está instalado lá fora, será refletido na escola. Se entendesse isso, investiria fortemente na formação do professor. Somos sabedores que a escola que temos hoje está ultrapassada no seu tempo. Esse é o desafio do professor”, afirma o presidente do Sintep-MT.
Otmar de Oliveira |
Ele complementa reiterando que nenhuma nação no mundo se desenvolve sem educação. “Educação é o principal agente de transformação, sozinha não consegue transformar, mas a sociedade sem a educação não sofre as transformações necessárias. Se tem algo que nos anima é a nossa disposição para permanecer em luta e para fazer o enfrentamento necessário para tentar mudar a nossa situação. É desenvolver seres humanos em clima de respeito”, pontua.