A certeza de que um ciclo, finalmente, se fechou no cenário político é a responsável por um quê de otimismo entre os empresários brasileiros. A sensação, no entanto, vem acompanhada de cautela. Há um consenso de que a equipe do novo presidente precisa agir rápido e ser ousada na aprovação de reformas como a da Previdência e a trabalhista.
O setor de infraestrutura, por exemplo, cobra rigor no equilíbrio das contas públicas e a criação de condições para a retomada dos investimentos. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, lista entre as prioridades do novo governo a reforma da Previdência e a modernização das leis trabalhistas – ambas polêmicas e que exigirão grandes negociações no Congresso. “Mas não há outra saída. É fazer ou fazer. Senão, o Brasil não sobrevive.”
O presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini, diz que o governo de Michel Temer já deu bons sinais nesse sentido durante a gestão interina. “Houve uma série de avanços, como as discussões em torno do reforço das agências reguladoras e modernização das leis ambientais e de desapropriação.”
Rubens Menin, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e fundador da MRV, maior incorporadora do Minha Casa Minha Vida, também pondera que é a implementação das reformas que vai dar condições para que o País volte a crescer. “A definição da situação política cria condições para essas reformas e traz também o aumento da confiança do empresariado e da sociedade em geral”, disse.
Mas a esperança de que as coisas vão melhorar só vai se converter em confiança, de fato, se Temer for firme nas negociações com o Congresso, dizem os empresários. “Não existe mágica: é preciso cortar gastos ou aumentar impostos”, diz Flávio Rocha, presidente da varejista Riachuelo e um dos primeiros a defender publicamente o impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Quando questionados, os deputados dizem que não querem nem uma coisa nem outra. O problema é que não dá para continuar gastando mais.”
Eficiência
O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti, acredita que Temer tem condições de reunir o apoio necessário para fazer as mudanças estruturais de que o Brasil precisa. “É preciso atacar as causas dos desequilíbrios, que estão do lado do setor público, em vez de transferir mais recursos privados para socorrer um Estado que precisa ser reduzido e se tornar mais eficiente.”
Há quem defenda que esse movimento já está em curso. O presidente da Associação de Lojistas de Shoppings do Brasil (Alshop), Nabil Sahyoun, diz que o País já começa a ver os sinais de retomada e lembra que instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para o fim da recessão e a volta do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro já em 2017. “O impeachment representa o fim definitivo de um ciclo. A partir disso, a retomada vai acontecer.”
Setores que encolheram com a crise econômica cobram demandas específicas do governo. O de máquinas e equipamentos, por exemplo, demitiu 100 mil pessoas com a queda de 60% no faturamento desde 2013. “Para sobreviver nessa travessia de governo e ter alguma melhora no segundo semestre do ano que vem, precisamos de urgência nas concessões, além de alavancar as exportações”, diz João Carlos Marchesan, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Isso só é possível com um dólar previsível.” O setor pleiteia o dólar a R$ 3,75.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Rafael Cervone, o governo terá pouco tempo para preparar o País para quem vai assumir a Presidência em 2018. “Precisamos limpar o ambiente de negócios e tirar as pedras do caminho o mais rápido possível”, diz. Apesar de conhecer os desafios, Cervone diz que as expectativas do setor com o novo governo são positivas.
Em meio ao otimismo, no entanto, há olhares desconfiados como o do presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Ele diz que o governo tem dado sinais contraditórios nos últimos meses. “Temos três ministros que estão se manifestando sobre a situação econômica”, afirma. “O setor privado gostaria de ter expectativa positivas, mas os discursos contraditórios trazem uma certa inquietude.”/ ANNA CAROLINA PAPP, FERNANDO SCHELLER, LUIZ GUILHERME GERBELLI, NAIANA OSCAR e RENÉE PEREIRA