O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, informou que vai trocar uma equipe inteira de investigadores da PF (Polícia Federal) em caso de vazamento de informações de uma determinada investigação em curso.
Em entrevista à Folha de S.Paulo no sábado (19), Aragão — um dia depois de tomar posse como ministro — disse que a PF está “sob a nossa supervisão”.
— Cheirou vazamento de investigação por um agente nosso, a equipe será trocada, toda. Não preciso ter prova. A Polícia Federal está sob a nossa supervisão.
Aragão se refere aos áudios dos grampos telefônicos, publicados na última quarta-feira (17), em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é flagrado em diversas conversas com aliados políticos — incluindo a presidente Dilma Rousseff.
O antecessor de Aragão na Justiça, José Eduardo Cardozo, sempre foi duramente criticado por Lula por, supostamente, não controlar a PF.
Aragão disse que o responsável pelo vazamento de informações sobre investigações adota uma “atitude criminosa, porque quem vaza a delação está querendo criar algum tipo de ambiente”.
Lava Jato
O ministro Aragão disse que não quer influenciar nas investigações da Operação Lava Jato — na qual a PF tem papel de protagonismo — e minimizou as declarações de Lula de que ele deveria ter “pulso firme” e ser “homem”. Aragão disse que isso se trata de uma “conversa privada” de Lula, o que não o “afeta”.
— As pessoas entre quatro paredes falam o que querem. Fico me perguntando qual o interesse público de uma fofoca dessa. Isso para mim se chama fofoca. Não me afeta.
Questionado sobre eventuais abusos em relação às delações premiadas da Operação Lava Jato, Aragão afirmou que “é difícil divisar no Paraná quem é quem”. No entanto, em seguida afirmou que o método tem seus pressupostos e, no Brasil, se assemelha a uma “extorsão”.
— O próprio uso da delação premiada tem pressupostos. No Direito alemão, a colaboração tem de ser voluntária. Se houver dúvida sobre essa voluntariedade, não vale. Na medida em que decretamos prisão preventiva ou temporária em relação a suspeitos para que venham a delatar, essa voluntariedade pode ser colocada em dúvida. Porque estamos em situação muito próxima de extorsão. Não quero nem falar em tortura. Mas no mínimo é extorsão da declaração.
O ministro da Justiça não garantiu a permanência do diretor-geral da PF, Leandro Daiello, no cargo.
— Não conversamos sobre isso ainda. Eu preciso, e isso ele vai me fazer, de um levantamento da situação lá. Quero evidentemente na PF pessoas que tenham alguma liderança interna. Essas instituições que têm competências autárquicas, e são independentes na sua atuação, precisam ser dirigidas por lideranças.