O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta segunda-feira, 20, que aceita participar de acareação com o lobista Júlio Camargo, que disse ter pago US$ 5 milhões em propina ao peemedebista, mas defendeu que outros políticos também sejam acareados com delatores da Operação Lava Jato. Cunha citou a presidente Dilma Rousseff, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, todos do PT.
“Não tem nenhum problema. Pode haver acareação com quem quiser. Mas aproveita e chama o Mercadante e o Edinho Silva para acarear com o Ricardo Pessoa e a Dilma para acarear com Youssef (doleiro Alberto Youssef)”, disse Cunha, ao deixar almoço com líderes peemedebistas organizado pela Associação de Emissoras de Rádio e TV do Rio de Janeiro (AERJ). “Acho oportunista querer falar em acareação. Estou disposto a fazer em qualquer tempo. Aproveitem e convoquem todos os que estão em contradição. O ministro Mercadante e o ministro Edinho negam o que foi dito por Ricardo Pessoa. A presidente nega o que foi colocado pelo Youssef. Que façam acareação de todos”, insistiu.
Citado pelo delator Julio Camargo, que disse ter sido pressionado por Cunha para pagar US$ 5 milhões em propina referente a contratos de navio-sonda, e também pelo doleiro Alberto Youssef, que apontou o parlamentar como beneficiário de propinas e também disse que Cunha estava ameaçando sua família Eduardo Cunha está na mira da Lava Jato,que rastreia movimentação de contas no exterior utilizadas pelos operadores que teria sido usadas para repassar dinheiro para o deputado.
Já Edinho Silva e Aloizio Mercadante teriam sido citados, segundo a revista Veja, pelo dono da UTC Ricardo Pessoa em sua delação, que ainda está em segredo de Justiça. Mercadante teria recebido R$ 250 mil da empreiteira via esquema de desvios na Petrobrás que também teria sido utilizado para as doações oficiais à campanha de Dilma no ano passado. Na época, Edinho Silva era o tesoureiro da campanha presidencial do PT.
A presidente Dilma também chegou a ser mencionada pelo doleiro Alberto Youssef, que afirmou, sem provas, que ela e o ex-presidente Lula tinham conhecimento do esquema de propinas na estatal. O procurador-geral da República Rodrigo Janot entendeu que não caberia investigação contra Dilma, pois a citação era relativa a um período em que ela não era presidente e que, portanto, não pode ser investigada.
‘Fogo no País’. O deputado voltou a negar que a decisão anunciada por ele na última sexta-feira, 17, de romper com o governo signifique que ele implementará na Câmara uma pauta contrária aos interesses da presidente Dilma Rousseff. “Não estamos querendo tacar fogo no País, nenhuma pauta bomba. É o normal que está sendo tratado (na pauta da Câmara). Se o normal incomoda, é outro problema. O fato de eu ter mudado o meu alinhamento político com o governo não significa que eu vá mudar como presidente da Câmara. Minha militância partidária como deputado e como político é que está em discussão. Meu papel como presidente da Câmara é igual”, afirmou Cunha, que embarcará nesta tarde para Brasília.
O presidente da Câmara lembrou que o PMDB já está dividido desde as eleições do ano passado, quando 41% dos que votaram na convenção nacional do partido foram contra a manutenção da aliança com o PT. “A bancada já estava dividida, o PMDB já foi dividido para a eleição. Não foi a mudança no meu alinhamento que criou isso”.